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sexta-feira, abril 26, 2024
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Produtividade – Como alcançar o teto na cana-de-açúcar

Autores

Camila Carvalho
Mestre em Agronomia e sócia/pesquisadora da empresa KP Consultoria Ltda.
camila_carvalho03@hotmail.com 
Gustavo A. Santos
Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas
asgustavo@yahoo.com.br
Crédito Shutterstock

A produtividade da cana-de-açúcar é regulada por diversos fatores de produção, com destaque para o adequado manejo da nutrição das plantas. Neste sentido, grandes quantidades de fertilizantes são utilizadas devido, principalmente, à baixa fertilidade natural dos solos brasileiros e às limitações para obtenção de altas produtividades.

Para a cana-de-açúcar, a adubação de plantio e de soqueira, via solo, é a principal forma de disponibilizar os nutrientes necessários para o desenvolvimento da cultura. Entretanto, a adubação foliar tem ganhado destaque nos últimos anos, visando à complementação e/ou suplementação da adubação de base, disponibilizando nutrientes nos períodos de maior demanda e potencializando a produção de colmos e de açúcar.

Neste contexto, a aplicação foliar para a cultura da cana-de-açúcar é usada para suprir uma necessidade nutricional imediata ou quando as condições do solo restringem a disponibilidade de alguns nutrientes específicos.

A baixa disponibilidade natural de alguns elementos no solo, a exemplo dos micronutrientes, bem como as perdas por lixiviação, volatilização e/ou erosão, diminui a absorção de nutrientes pelas raízes das plantas, contribuindo para que a nutrição foliar seja uma prática adotada em usinas sucroenergéticas. Como exemplo, ressalta-se o nitrogênio (N), um elemento facilmente perdido no sistema solo-planta, cuja aplicação foliar em pequenas doses (3 a 4 kg ha-1 de N) é uma prática frequentemente utilizada por diversas áreas cultivadas com cana-de-açúcar.

Diversos produtores também optam pela aplicação foliar de micronutrientes, especialmente de molibdênio (Mo), zinco (Zn), cobre (Cu) e boro (B), sendo comumente aplicados juntamente aos herbicidas e maturadores.

Causas e consequências

Em suma, os ganhos em produtividade obtidos com a adubação foliar estão relacionados, de modo geral, ao aumento da eficiência do uso de nutrientes pelas plantas, bem como à disponibilização em diferentes estágios de desenvolvimento da cultura. Ademais, os fertilizantes foliares utilizados atualmente são, muitas vezes, formulados com complexos de um ou mais aminoácidos, disponibilizando não somente nutrientes, mas os aminoácidos necessários para os processos metabólicos da cultura.

Ressalta-se, ainda, que o uso de adjuvantes, como surfactantes, espalhantes adesivos, anti-espuma, dentre outros, pode potencializar ou melhorar o efeito da adubação foliar, visto que, pelos diferentes mecanismos de atuação desse tipo de produto, pode-se alcançar melhor qualidade de aplicação, menor taxa de perda por deriva e/ou escorrimento, maior tempo de permanência de gotas sobre a folha e, consequentemente, maior taxa de absorção dos nutrientes.

Pesquisas

Diversos trabalhos de pesquisas têm demonstrado incrementos na produtividade e na qualidade da matéria-prima da cana-de-açúcar com a aplicação de nutrientes via folhas. Em experimentos conduzidos com o objetivo de avaliar o efeito da adubação foliar com fontes nitrogenadas, a exemplo da ureia convencional e da ureia formaldeído para a soqueira da cana-de-açúcar, acréscimos de até aproximadamente 25% nas produtividades de colmos e de açúcar foram obtidos, cujos melhores resultados foram observados nas doses de 4 e 8 kg ha-1 de N.

Incrementos na produtividade de colmos também têm sido observados com a aplicação foliar de fertilizantes mistos contendo macro e micronutrientes. Em experimento conduzido em área produtora de cana-de-açúcar localizada no município de Guaíra (SP), a pulverização foliar de fonte contendo N, potássio (K), enxofre (S), ferro (Fe), Zn, Mn e B resultou em acréscimos de até 20% nos valores de toneladas de colmos por hectare em relação ao tratamento que não recebeu a aplicação foliar.

Resultados positivos com a aplicação de micronutrientes via foliar também foram obtidos em um experimento conduzido no município de Miguelópolis (SP). Neste caso, o fertilizante mineral misto, contendo B, Fe, Mn e Zn, promoveu acréscimos de 15 toneladas de colmos por hectare em relação ao tratamento testemunha.

Neste mesmo experimento, resultados positivos também foram observados com a utilização de um fertilizante foliar organomineral líquido contendo carbono orgânico derivado de ácidos fúlvicos (leonardita), cuja aplicação resultou em acréscimos de até 17 t ha-1, 3,4 t ha-1 e 7,2 kg t-1 nas produtividades de colmos, de açúcar e nos valores de açúcar total recuperável, respectivamente, em relação ao tratamento que não recebeu a adubação foliar.

Resultados positivos também foram observados com a utilização de solução contendo ureia e molibdato de amônio, cuja aplicação foliar em soqueira de terceiro corte resultou em acréscimos de aproximadamente 9 kg t-1 nos valores de açúcar total recuperável.

Sem errar

Assim como as demais práticas de cultivo da cana-de-açúcar, o manejo incorreto da adubação foliar resulta em menores ganhos em produtividade. Primeiramente, deve-se se atentar à época de aplicação do fertilizante. De modo geral, a aplicação deve ser realizada na fase de intenso crescimento vegetativo.

Para a cana, esta aplicação coincide com o período das águas, de outubro a janeiro, quando a planta se encontra em maior desenvolvimento. A pulverização foliar em época diferente da recomendada diminui o aproveitamento dos nutrientes pelas plantas, reduzindo a eficiência da adubação.

Além disso, os fertilizantes foliares devem ser aplicados em períodos com temperaturas mais amenas, como ao amanhecer e ao fim do dia, nos quais as plantas apresentam uma maior abertura de estômatos. Deve-se atentar, ainda, à calibração dos equipamentos, escolhendo pontas de pulverização que produzam gotas de tamanhos adequados e, consequentemente, resultem em menor deriva.

Por fim, os fertilizantes foliares devem sem aplicados nas doses recomendadas para a cultura da cana-de-açúcar. De modo geral, a aplicação de doses elevadas de nutrientes via foliar, a exemplo do N, pode resultar em problemas no desenvolvimento da planta, com efeito fitotóxico e depressivo.

Custo

O custo da adubação foliar no cultivo da cana-de-açúcar varia de acordo com diversos fatores, a exemplo do tipo de fertilizante e da forma de aplicação. A utilização de fontes de maior solubilidade, o que geralmente está atrelado à melhor qualidade do produto para aplicação foliar, implica em maior custo. Da mesma forma, produtos que carregam pacote tecnológico em sua formulação, como os quelatos, apresentam custo maior, bem como maior chance de eficiência de absorção.

De modo geral, a aplicação de fertilizantes simples, os quais são constituídos por apenas um composto químico, diminui o custo da adubação foliar. Como exemplo, ressalta-se a utilização do ácido bórico, o qual, quando comparado às demais fontes de B disponíveis no mercado, apresenta um menor custo por porcentagem de nutriente.

A aplicação de nutriente em conjunto com tratos fitossanitários diminui os gastos com operação por meio da otimização do uso de máquinas e de mão de obra.

Em termos operacionais, a aplicação aérea, por apresentar rendimento elevado, é uma ferramenta de redução de custos da adubação foliar na cultura da cana-de-açúcar. Entretanto, deve-se atentar para a qualidade dessa operação, ditada por vários fatores (horário da aplicação, composição e volume da calda, tipo de ponta utilizada etc.).

A adubação foliar, feita corretamente, é uma prática com bom custo-benefício, uma vez que é possível disponibilizar o nutriente no momento de maior demanda pela cultura.

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