Fabíola Martins Delatorre
Engenheira industrial da madeira e mestranda em Ciências Florestais – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
fabiola.delatorre@edu.ufes.br
Iara Nobre Carmona
Engenheira florestal, mestra em Ciência e Tecnologia da Madeira e doutoranda em Recursos Florestais – Universidade de São Paulo (USP)
iaracarmona@usp.br
Fernanda Aparecida Nazário de Carvalho
Engenheira florestal e mestranda em Ciências Florestais – UFES
fernandacarvalhoz@gmail.com
O problema ambiental mais sério e importante que a humanidade já teve que enfrentar é o aquecimento global, com consequências desastrosas e efeitos adversos para a vida de todas as espécies do planeta.
A realidade perturbadora do aquecimento global revelada pelo último Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), programa criado pelas Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) está em busca para alcançar a neutralidade de carbono e evitar uma catástrofe natural.
Conforme o relatório do IPCC em 2022, a OMM abordou que existe 50% de chance que a elevação de temperatura média global ultrapasse 1,5°C nos próximos cinco anos e 90% de chance dos anos entre 2022 e 2026 serem mais quentes do que os últimos cinco anos.
Causas do aquecimento
As principais causas do aquecimento global estão relacionadas com as emissões dos gases do efeito estufa, advindos principalmente de práticas humanas realizadas de maneira não sustentável.
Dessa forma, é necessário buscar métodos para diminuição das emissões e remoção de carbono, priorizando alternativas e utilização de materiais sustentáveis e amigáveis ao clima. Nesse contexto, a madeira é a Solução Líder para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.
Armazenamento de carbono em produtos de madeira
Segundo dados do Sistema Nacional de Informações Florestais (SNIF), o Brasil possui a segunda maior área de florestas naturais e plantadas do planeta, com 488 milhões de hectares, ficando atrás apenas da Rússia.
As florestas brasileiras têm um enorme potencial para serem peças chaves no desenvolvimento nacional sustentável. As florestas naturais e plantadas do Brasil provêm de produtos e serviços de diversas cadeias produtivas, incluindo madeira e móveis, papel e celulose, tinturas, corantes, alimentos, chapas de fibra, óleos, resinas, fármacos, cosméticos, carvão, energia, ecoturismo, proteção de mananciais e estoque de captura de carbono.
Pensando nesse viés, a Embrapa Florestas realizou um estudo inédito de mensurar os dados de acúmulo de carbono em produtos florestais madeireiros (PFM).
Entenda melhor
Para melhor entender o sequestro e o armazenamento do carbono em produtos florestais, é necessário estudar os estoques em seus diversos compartilhamentos, modelos matemáticos e dados de referência, que servem de reservatórios, bem como o fluxo do carbono no ecossistema florestal.
Assim, a Embrapa Florestas utilizou como matéria-prima de estudo diferentes materiais, como madeira serrada, painéis de madeira, papel e papelão e os resíduos descartados. O primeiro levantamento foi realizado em 2020, que, como referência utilizou o ano de 2016, contabilizando 50,7 milhões de toneladas de CO2.
O número obtido representa 3,5% do total de emissões de gases do efeito estufa (GEE). A contribuição dos produtos florestais na remoção de CO2 representa cerca de 13% das emissões brutas do setor Uso da Terra, Mudança e Uso da Terra e Florestas (LULUCF).
Para se obter um maior acúmulo de carbono nos produtos florestais, é necessário melhorar o processo produtivo, obtendo-se um material mais duradouro e sustentável.
Avanço tecnológico
A melhoria tecnológica na indústria madeireira pode promover a utilização de toras de melhor qualidade, o que acarreta aumento da eficiência do processamento de produtos de madeira, no desenvolvimento de produtos inovadores com vida útil mais longa e no aumento da taxa de reciclagem, permitindo expandir o tamanho do reservatório de carbono no mundo.
Produtos inovadores de madeira, como painel de madeira maciça e painéis rígidos de isolamento de fibra de madeira de baixa densidade, têm sido amplamente utilizados em sistemas de construção para substituir materiais de alto carbono incorporado e não tão sustentáveis quanto a madeira, como por exemplo aço, concreto, tijolo e materiais à base de petróleo.
A utilização de produtos de madeira estimula a plantações de florestas e maior exploração sustentável do mercado de produtos madeireiros. Tais produtos inovadores podem armazenar carbono por um período mais longo devido à tecnologia avançada de processamento de madeira, como a madeira tratada com pressão e temperatura, podendo prolongar a vida útil de produtos de madeira para uso em até 50 anos.
Produtos de madeira recicláveis, incluindo produtos de papel, materiais de construção, resíduos de serraria e paletes de madeira, podem ser usados para reproduzir novos produtos, o que minimiza os resíduos de materiais de madeira que são enviados para aterros sanitários e estende o tempo de permanência do carbono em produtos de madeira.
Importância de contabilizar o carbono
Estimar a emissão de gases de efeito estufa por meio da contabilização de carbono em produtos florestais é importante, por se tratar de uma ferramenta-chave no combate ao efeito estufa e das mudanças climáticas.
Assim, contabilizar carbono permite conhecer como se dá a captura de carbono pelos produtos florestais e, consequentemente, a previsão de cenários positivos, além de incentivar a utilização de produtos florestais advindos de florestas manejadas de maneira sustentável.
As florestas plantadas têm um papel importante papel no sequestro de carbono e, consequentemente, no combate ao aquecimento global, além de auxiliar com eficiência na tomada de decisão em relação aos materiais que podem ter impactos significativos na pegada de carbono.
Escolher um produto de madeira é optar por um material que não apenas reduzirá a pegada de carbono, mas também um material de recurso renovável. Não é novidade que a madeira é muito melhor para o meio ambiente do que outros materiais que consomem quantidades intensivas de energia e que, na maioria das vezes, são advindos de combustíveis fósseis.