Leandro Luiz Marcuzzo
PhD em Fitopatologia e professor – Instituto Federal Catarinense – IFC/Campus Rio do Sul
leandro.marcuzzo@ifc.edu.br
Bruna Kotkoski
Engenheira agrônoma – IFC/Campus Rio do Sul
Uma das maneiras de reduzir o uso de agrotóxicos é conhecer as condições que favorecem a ocorrência da doença, que envolvem o ambiente, o patógeno e o hospedeiro.
Em relação ao patógeno, o detalhamento da flutuação e deposição de conídios da queima das pontas no ar em área de cultivo constitui-se em uma informação de relevância no avanço do manejo fitossanitário.
Diante do exposto, este trabalho teve por objetivo avaliar a relação da flutuação e deposição de conídios de B. squamosa presente no ar em área de cultivo de cebola.
O trabalho foi conduzido no Instituto Federal Catarinense – IFC/Campus Rio do Sul, no município de Rio do Sul (SC), (Latitude: 27º11’07’’ S e Longitude: 49º39’39’’ W, altitude 655 metros acima do nível do mar) durante o período de 17 de abril a 30 de junho de 2017.
Os dados meteorológicos foram obtidos de uma estação Davis® Vantage Vue 300 m, localizado ao lado do experimento, e os dados médios durante a condução do experimento foram de 15,8ºC para temperatura do ar, de 18 horas de umidade relativa do ar ≥90% e a precipitação pluvial acumulada foi de 485 mm.
Três gramas de sementes de cebola da cultivar Empasc 352/Bola Precoce foram semeadas a campo em experimento constituído de blocos casualizados com oito repetições. Cada repetição apresentava uma área de 1,00 x 1,00 m, totalizando no mínimo de 600 plantas por repetição.
Para avaliação da queima das pontas, dez plantas em cada parcela foram previamente escolhidas e demarcadas aleatoriamente. A calagem, adubação e tratos culturais seguiram as normas da cultura e não se utilizou inseticidas devido à não ocorrência de insetos no período de avaliação.
O experimento
Para que houvesse inóculo do patógeno na área, mudas de cebola com 30 dias de idade foram inoculadas com auxílio de um atomizador portátil com suspensão (104) de conídios de B. squamosa e após 24 horas de câmara úmida foram transplantadas a cada um metro linear ao redor do experimento no dia da semeadura.
Também foram depositados cinco escleródios do patógeno produzidos pela técnica de Marcuzzo et al. entre as parcelas, para também servir de inóculo primário da doença na área.
Na flutuação, a coleta dos conídios de B. squamosa no ar foi realizada por um coletor de esporos tipo “cata-vento” (8), posicionado a 0,4 metros de altura, localizado no centro do experimento.
No interior do coletor havia uma lâmina de microscópio (7,5 x 2,5 cm) untada com vaselina, a qual era substituída semanalmente. Já na deposição, duas lâminas de microscópio (7,5 x 2,5 cm) foram untadas e cada uma depositada em um tijolo, intercalados no centro do experimento, ficando à altura de 5 cm do solo.
As lâminas permaneceram expostas por um período de sete dias, sendo substituídas periodicamente neste mesmo intervalo por outras.
Em laboratório, cada lâmina foi dividida em dois pontos centrais e adicionou-se duas gotas de azul de metileno 33%, diluído em água. Foram depositadas lamínulas (1,8 x 1,8 cm), correspondendo a uma área de 6,48 cm². Pela visualização em microscópio ótico, com a objetiva de 10 vezes, quantificou-se o número de conídios semanalmente.
Para verificar a relação entre a flutuação e deposição de conídios, os dados foram submetidos ao cálculo do coeficiente de correlação linear de Pearson (r) e sua significância foi verificada por valores críticos de correlação do teste.
A correlação de Pearson (r) entre o número de conídios coletados na flutuação e deposição foram significativos pelo teste a 1% (Tabela 1).
Tabela 1. Coeficiente de correlação (r) entre o número de conídios de Botrytis squamosa coletados na flutuação e depositados semanalmente. IFC, Campus de Rio do Sul (SC), 2017
Semanas após a semeadura | N° de conídios | |
Flutuação | Deposição | |
1 | 0 | 0 |
2 | 0 | 0 |
3 | 0 | 0 |
4 | 0 | 0 |
5 | 0 | 0 |
6 | 0 | 0 |
7 | 4 | 11 |
8 | 10 | 6 |
9 | 6 | 5 |
10 | 11 | 9 |
Coeficiente de correlação (r) | 0,797** |
**Significativo a 1% de probabilidade pelo valor crítico do teste de correlação de Pearson
Oscilação
Houve pouca oscilação no número de conídios da flutuação e deposição na mesma semana de avaliação, mas presente nos dois processos durante o período (Tabela 1). No entanto, o maior pico de deposição ocorreu na primeira avaliação, enquanto que na flutuação foi a última, isto provavelmente devido à quantidade de inóculo já produzido durante o ciclo da cultura, mas com pouca diferença no número de conídios entre os processos.
A correlação entre os dados do número de conídios da flutuação e deposição foi significativa, com r = 0,797, (Tabela 1), indicando próximo de uma forte linearidade entre estas duas variáveis.
A relação ente a presença de conídios de B. squamosa na flutuação e deposição é um indicador epidemiológico para a queima das pontas das folhas da cebola e pode ser usado futuramente como um alerta de controle em um sistema de previsão da doença.