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Wulf Schmidt
Engenheiro agrônomo, doutor em Agricultura Irrigada e consultor da Aqua et Terra
Skype: wulfschmidt
Quimigação é a tecnologia de aplicação de produtos químicos e/ou biológicos que utiliza o sistema de irrigação como meio de fazer chegar o produto ao seu alvo. Em função do produto, outros nomes podem ser utilizados como fertirrigação (fertilizantes), fungigação (fungicidas), herbigação (herbicidas), insetigação (inseticidas), etc.
Neste artigo vamos apresentar um panorama geral sobre a quimigação, chamando atenção para importantes aspectos relacionados a fatos, mitos e dicas.
O que é e como funciona
O sistema consiste basicamente em um tanque de armazenamento e pré-mistura, um agitador em seu interior, uma bomba dosadora injetora, conexões, filtros e válvulas de segurança.
Os sistemas comerciais de barras acopladas aos pivôs centrais, como a Pivobarra®, Notliada® e o Accupulse®, são equivocadamente chamados de quimigação, mas eles não aplicam via água, mas apenas utilizam o pivô como suporte físico, ou seja, na própria definição começamos a quebrar mitos.
Assim como numa aplicação aérea ou tratorizada, é preciso verificar as condições do equipamento antes da aplicação, no nosso caso o sistema de irrigação. Se você tiver uma distribuição de água desuniforme, como você espera que a distribuição do produto seja uniforme? Esta é, sem dúvida, a maior causa de insucesso desta modalidade de aplicação (fato!).
PrincÃpios fundamentais
Dois princípios físicos distintos e importantes regem a quimigação, sendo um para fertilizantes e outro para pesticidas. Para a aplicação de fertilizantes, os mesmos precisam ter como principais características: serem líquidos ou hidrosolúveis (solúveis em água); ter alta solubilidade e estabilidade; não formar precipitados nem terem impurezas; serem compatÃveis com outros produtos, entre outros. Neste caso, no momento da injeção da “calda“ buscamos formar uma solução no interior da tubulação.
A solubilidade de um fertilizante sólido é medida em gramas por litro a uma dada temperatura (geralmente 25°), mas cabe lembrar, com relação aos adubos nitrogenados, que estes apresentam reação endotérmica, quando dissolvidos em água, ou seja, vão “gelando“, e deste modo a solubilidade vai diminuindo. Um exemplo é a ureia, que tem solubilidade nominal de 750 g/L a 25°C, e na prática não é possível solubilizar acima de 500 g/L em função da queda na temperatura.
Dica prática: no caso de mistura de fertilizantes, a exemplo potássio (K) e nitrogênio (N), dissolva o nitrogenado por último.
Viabilidade
A fertirrigação tem como principal vantagem o fracionamento na aplicação dos nutrientes, de modo a acompanhar o mais próximo possível a marcha de absorção dos elementos pelas culturas. Por exemplo, no milho (como se trata de irrigado, precisamos buscar produtividades acima de 12 ton/ha) aplica-se cerca de 100-150 kg de ureia/ha, geralmente em uma única aplicação, ou no máximo fracionado em duas.
Isso seria como dar um boi inteiro para um cidadão comer em um dia e depois ficar três semanas à mÃngua… não funciona! Muito desta ureia aplicada se perde por volatilização, lixiviação e ou mineralização, significando custo.
Dividindo a aplicação em um número maior de vezes, com certeza as perdas seriam menores e os mesmos 150 kg/ha aplicados equivaleriam a algo perto de 200kg/ha.
É o que é feito e vendido como vantagem em sistema de irrigação localizada, em que uma ou duas vezes por semana se injeta uma calda fertilizante no sistema. Pergunta-se: por que não fazer o mesmo em irrigação por aspersão, principalmente pivôs?
Dica prática: se sua bomba injetora não tiver capacidade de injetar 100 kg ureia/ ha de uma vez, divida a aplicação em maior número de vezes. A quimigação permite isso de forma economicamente viável e sem “amassar“ a cultura. Fato!
Mito
É mito que a aplicação de adubos diminui a vida útil do pivô. Isto ocorre apenas quando não se respeita a solubilidade e o adubo não é totalmente dissolvido. Neste caso, o adubo sólido entra na tubulação agindo como areia, “lixando“ a galvanização interna e expondo o aço à corrosão química, que pode vir até da própria água (alto teor matéria orgânica, por exemplo).
Dica: Respeitando-se a solubilidade e deixando o equipamento funcionando só com água por no mÃnimo 30 minutos após a aplicação você praticamente elimina este risco.