Autores
Matheus Giugni
Graduando Agronomia – Faculdades Integradas de Ourinhos
matheusgiugni@outlook.com
Hugo Cesar Rodrigues M. Catão
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Produção e Tecnologia de Sementes e professor – Faculdades Integradas de Ourinhos
hugocatao@yahoo.com.br
Com a agricultura em pleno desenvolvimento, está se visando aumentar os níveis de produtividade de todas as nossas culturas, e tendo-se esse aumento como meta deve-se utilizar de técnicas mais avançadas para melhorar os rendimentos.
Com a expansão das culturas em área e produtividade nos últimos anos, há um consequente aumento na demanda por sementes de alta qualidade, por isso a qualidade fisiológica destas e o uso de técnicas para manter a qualidade no campo devem estimular cada vez mais o avanço da soja e do milho no Brasil.
Em associação ao tratamento químico, o recobrimento de sementes tem sido estudado visando, principalmente, melhorar o comportamento dessas, tanto do ponto de vista fisiológico como econômico (Sampaio e Sampaio, 1994).
O recobrimento de sementes com nutrientes também tem se mostrado um forte aliado no incremento da produtividade de diversas culturas (Meschede et al., 2004; Peske et al., 2009; Tunes et al., 2012). Essa tecnologia vem se tornando crescente e promissora, pois agrega valor às sementes e contribui para um mercado cada vez mais exigente e competitivo.
Comprovação
Pesquisas têm demonstrado que a aplicação de nutrientes no recobrimento das sementes apresenta-se uma alternativa viável para manter a qualidade fisiológica das sementes, contudo, alguns resultados são controversos no que tange os componentes do rendimento, produtividade e qualidade fisiológica das sementes produzidas, em distintas culturas e sob diferentes condições nutricionais.
Os nutrientes podem ser classificados em essenciais e benéficos. De acordo com Malavolta (2008), atualmente 19 elementos estão classificados como essenciais, pois satisfazem os seguintes critérios de essencialidade: fazer parte de um composto ou de uma reação crucial do metabolismo; na sua ausência a planta morre antes de concluir o seu ciclo; e o elemento não pode ser substituído por nenhum outro.
Por que nutrir
A aplicação de nutrientes é fundamental nas diversas etapas do desenvolvimento vegetal, como germinação, crescimento vegetativo, floração, frutificação e maturação. Como foi mencionado, o recobrimento de sementes com nutrientes pode promover aumento de produtividade da cultura, pois sua disponibilidade na concentração correta influencia na formação do embrião e dos cotilédones, com resultados eficazes sobre o vigor e a qualidade fisiológica das sementes.
Além do mais, o papel dos nutrientes é fundamental durante as fases de formação, desenvolvimento e maturação das sementes, principalmente na constituição das membranas e no acúmulo de carboidratos, lipídios e proteínas (Sá, 1994).
Diversas vantagens também podem ser atribuídas ao fornecimento de nutrientes na cultura via tratamento de sementes, entre elas: baixo custo rotativo, facilidade operacional, maior eficácia no uso do fertilizante, elevada uniformidade de distribuição dos elementos, maior disponibilidade dos nutrientes na fase inicial de crescimento das plantas, entre outros (Scott e Blair,1988; Farooq; Wahid e Siddique, 2012).
Dentre os nutrientes que têm merecido atenção especial no ramo da ciência e tecnologia de sementes estão o cálcio e o magnésio, visto que afetam a produção e a qualidade de sementes de soja (Mascarenhas et al., 1982). Com a expansão dessa cultura por todo o território brasileiro, solos ácidos e de baixa fertilidade natural têm sido utilizados, necessitando de práticas de manejo de adubação e técnicas de nutrição de plantas adequadas para suprir as necessidades da cultura em macro e micronutrientes.
Além disso, o uso intensivo do solo por sucessivos anos tem exaurido algumas áreas, surgindo a necessidade de técnicas adequadas de reposição dos nutrientes retirados pelas culturas.
Correção do solo
Os materiais corretivos de acidez do solo mais usados na agricultura são rochas calcárias moídas, constituídas por misturas de minerais como a calcita e a dolomita, as quais possuem, em sua composição, carbonatos de cálcio e/ou magnésio.
Por isso, tem-se optado por utilizar o recobrimento das sementes com calcário, como fonte de cálcio e magnésio, por ser uma das práticas menos dispendiosas e com vastas reservas de calcário distribuídas no Brasil (Fageria, 2002).
Assim, a utilização do cálcio e magnésio aplicados via semente, devido à disponibilidade já na fase inicial de desenvolvimento das plantas e proximidade dos nutrientes do sistema radicular, podem estimular de maneira mais efetiva a nodulação, crescimento radicular, fixação de N, desenvolvimento das plantas e produção de sementes na cultura da soja.
Fontes de cálcio
As culturas apresentam quantidades diferentes em relação à absorção de cálcio e magnésio (Novais et al., 2007). As principais funções do cálcio são: atuar na formação do pectato de cálcio, presente na lamela média da parede celular e na germinação do grão de pólen e crescimento do tubo polínico.
Segundo Malavolta (2006), os sintomas de deficiência de cálcio causam amarelecimento da região limitada da margem das folhas mais novas, crescimento não uniforme da folha, resultando em formas tortas, às vezes com gancho na ponta; murchamento e morte das gemas terminais; gemas laterais dormentes, manchas necróticas internevais, murchamento das folhas e colapso do pecíolo, raízes mostram a deficiência precocemente, aparência gelatinosa das pontas, pelos inchados, cessação do crescimento apical, pequena frutificação ou produção de frutos anormais; produção pequena ou nula de sementes, mesmo com flores normais.
O magnésio
Já o magnésio é absorvido pela planta na forma iônica da solução do solo e acessado pelas raízes principalmente pelos mecanismos de interceptação radicular e fluxo de massa. A absorção de magnésio está associada, também, às suas relações de equilíbrio com cálcio e potássio na solução do solo (Novais et al., 2007).
Os sintomas de deficiência de magnésio geralmente aparecem primeiro nas folhas mais velhas. Isso acontece porque o magnésio é redistribuído na planta. A deficiência aparece com cor amarelada, bronzeada ou avermelhada, enquanto as nervuras das folhas permanecem verdes.
O desequilíbrio entre cálcio e magnésio no solo pode acentuar a deficiência de magnésio. Quando a relação cálcio-magnésio se torna muito alta, a planta pode absorver menos magnésio (Fernandes, 2006).
O magnésio ocupa posição central na molécula da clorofila e funciona como ativador de muitas enzimas. Serve como ponte entre o ATP e compostos orgânicos, como açúcares, que serão transformados por enzimas. Quando ocorre deficiência de magnésio, as folhas mais velhas ficam amarelas entre as nervuras e caem prematuramente, e a formação das sementes é prejudicada (Malavolta et al., 2002).
Em algumas pesquisas o recobrimento das sementes foi realizado usando como fontes dos nutrientes (cálcio e magnésio) o calcário dolomítico aplicado na dose de 5,0 g.kg-1 de sementes.
Pesquisas
O calcário dolomítico é um produto obtido pela moagem da rocha calcária. Seu principal constituinte é o carbonato de cálcio – CaCO3, que contém 32% de CaO (óxido de cálcio) e 16% MgO (óxido de magnésio) reatividade de 73% e PRNT de 70%.
Nos resultados verificados por Rufino et al. (2015) usando as sementes recobertas com calcário dolomítico foi verificado melhora no desempenho fisiológico das sementes colhidas e o rendimento de sementes de soja. Esses mesmos autores ainda ressaltaram que o recobrimento não afetou os componentes de crescimento inicial, bem como caracteres agronômicos, proporcionando incremento nas taxas de crescimento.
Os resultados obtidos foram influenciados de forma benéfica pela ação do calcário dolomítico em plantas soja. Rufino (2010) ainda verificou que as cultivares de soja BMX Potência RR e CD 226 RR apresentaram comportamentos distintos quando submetidas ao recobrimento das sementes com Ca/Mg. Assim, o recobrimento de sementes de soja com cálcio/magnésio pode ser uma alternativa viável para o tratamento das sementes, pois promove maior área foliar, produção de matéria seca e melhora o crescimento inicial em plantas de soja.
É válido ressaltar que sementes viáveis e vigorosas são autossuficientes para desenvolver todas as etapas iniciais relacionadas com os processos fisiológicos da germinação, uma vez que contam com todos os nutrientes necessários em suas substâncias de reserva.
Sendo bem conhecida esta particularidade, o tema do fornecimento de nutrientes para cobrir as necessidades das plântulas durante o período da emergência não é ainda perfeitamente esclarecido. Entretanto, alguns trabalhos demonstram que em muitos casos um aporte nutricional externo, mediante a adição localizada de fertilizantes em formulações simples ou combinadas, faz com que as plântulas respondam favoravelmente e cresçam de forma mais rápida e vigorosa.
Uma extensa revisão das implicações do tratamento de sementes com macro e micronutrientes foi apresentada por Scott (1987). Nesta revisão, são descritos os resultados positivos encontrados por vários pesquisadores sobre: 1) êxitos no estabelecimento de plântulas; 2) incremento na sobrevivência de plântulas de sementes em semeadura direta no campo; 3) aumento na produção total dos cultivos; 4) correção da acidez do solo na área circundante às sementes; 5) maior desenvolvimento de plantas e acesso mais uniforme de todas plântulas aos nutrientes fornecidos.
Em alguns casos, a eficiência do tratamento de sementes no fornecimento precoce de nutrientes às plântulas foi significativamente maior que quando a adição dos mesmos se realizou diretamente no sulco de semeadura.
Mais benefícios
Além do fornecimento nutricional às plântulas, o recobrimento de sementes com nutrientes foi utilizado para exercer uma influência primordial em outros aspectos não menos importantes. Como exemplo, destaca-se o aporte de elementos essenciais para que possa ocorrer eficiente nodulação simbiótica em plantas de soja.
É bem conhecida a ação do cálcio na infecção dos pelos radiculares pelas bactérias do gênero Rhizobium, a indispensável presença do magnésio para que ocorra o acoplamento do ATP no funcionamento da nitrogenase, assim como a importância fundamental do molibdênio na fixação do N2 sempre que sejam adequadamente incorporados às sementes com o recobrimento das mesmas.
Uma das questões imediatamente debatidas em relação à incorporação de nutrientes no recobrimento é, logicamente, a preocupação que existe quanto a possíveis efeitos prejudiciais que estes possam produzir à integridade das sementes. É perfeitamente conhecido o efeito nocivo que produzem alguns fertilizantes sobre a germinação das sementes, quando estão presentes em soluções osmóticas muito concentradas. Isto já foi demonstrado por muitos autores.
Mesmo assim, os conhecimentos de algumas variáveis que podem ajudar na busca de alternativas para evitar ou diminuir esse problema, quando bem manejados, permitem boa flexibilidade técnica ao tema.
Sabe-se, por exemplo, que nem todas as espécies são igualmente suscetíveis ao contato com os fertilizantes e, também, que distintas fontes do nutriente influem com diferente intensidade sobre as estruturas germinativas das sementes. As formas de fertilizantes mais rapidamente solúveis são mais agressivas que aquelas que se liberam mais gradualmente, principalmente em condições de baixa umidade do solo.
Tendência
O recobrimento de sementes de soja com polímeros é uma técnica promissora, pois mantém os produtos utilizados aderidos à semente, evitando perdas destes para o ambiente, permitindo utilizar doses menores em virtude do melhor aproveitamento. Com isso, o impacto ambiental é reduzido. No entanto, novos estudos ainda são necessários.