Estimativas da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) sugerem que ainda há ineficiência no uso de recursos naturais tais como água e energia devido aos altos índices de perdas da produção de frutas e verduras após a colheita. Estudos revelam que as podridões, os distúrbios fisiológicos, os danos mecânicos e a deterioração da aparência, textura e sabor são as principais causas das perdas e desperdícios de frutas após a colheita.
Um extenso estudo em larga escala, publicado em março de 2021 – “Caracterização e quantificação de perdas pós-colheita de frutas de maçã armazenadas em condições comerciais” – e liderado pelo Dr. Luiz Carlos Argenta (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina -EPAGRI) quantificou e caracterizou as perdas de produção de maçãs devido a sua deterioração durante e após a armazenagem, no Brasil.
O estudo foi realizado ao longo de quatro anos e analisou 2560 amostras (bins) de 380 a 400 kg de maçãs de dezenas de pomares e câmaras de armazenagem comercial, depois de 150 a 300 dias de armazenagem sob atmosfera controlada.
Os resultados desse estudo mostram que 3,9% a 12,1% das maçãs ‘Galas’ e 6,6% a 8,4% das maçãs ‘Fujis’ são perdidas por deterioração durante a armazenagem. Perdas adicionais num período de prateleira (7 dias a 22oC), após a armazenagem, podem variar de 8,4 a 17,6% para ‘Galas’ e de 12,4% a 27,2% para ‘Fujis’ dependendo do ano e pomar.
Os autores resumem que a perda de produção de maçãs armazenada por mais de 150 dias é de 18.3% a 26.6% por ano, considerando dados médios dos 4 anos e a soma das perdas durante e após a armazenagem. O impacto econômico dessas perdas pode ser estimado assumindo que aproximadamente 500 mil toneladas de maçãs são armazenadas por 150 dias ou mais anualmente, no Brasil.
Segundo Dr. Argenta, as tecnologias de armazenagem têm sido aprimoradas continuamente para redução das perdas de produção de maçãs após a colheita. No entanto, essas tecnologias também têm sido aplicadas para aumentar o período de suprimento das maçãs no mercado ao longo de todo o ano, estimulando o aumento do consumo e da produção. Assim, os ganhos pela adoção de novas tecnologias podem ser mitigados pelo aumento do tempo de armazenagem considerando que os riscos de perda da produção por deterioração das maçãs aumentam com o tempo de armazenagem.
O estudo mostrou que a tecnologia SmartFresh™ reduz significativamente as perdas da produção de maçãs por distúrbios fisiológicos após a armazenagem além de preservar a qualidade interna (sensorial) expressa por medidas da textura e acidez. Para o cultivar Fuji, por exemplo, a tecnologia SmartFresh™ reduz a perda de maçãs por escaldadura superficial de 12,7% para apenas 0,7%.
A maior parte (60% a 80%) da perda pós-colheita de maçãs no Brasil é causada por podridões, aponta o estudo. Isso indica que as tecnologias de armazenagem atualmente empregadas têm sido eficientes para reduzir as perdas por distúrbios fisiológicos. Por outro lado, esse resultado aponta a necessidade de investimentos para desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias para controle de podridões. O aumento expressivo das podridões no período pós armazenagem reforça a necessidade de manutenção da cadeia de frio durante o transporte e comercialização.
Apesar das tecnologias de atmosfera controlada e SmartFresh™ serem eficientes para prevenir perdas devido a distúrbios fisiológicos, elas não têm efeito direto sobre o desenvolvimento de fungos causadores de podridões, descrevem os autores.
Nesse estudo, não se observou efeito significativos do SmartFresh™ sobre o desenvolvimento de podridões para maçãs Gala e Fuji armazenadas sob atmosfera controlada, embora a maior incidência de podridões tenha sido associada à menor firmeza da polpa, para maçãs Galas. Adicionalmente, os autores fazem a referência a vários estudos desenvolvidos em outros países com outras cultivares de maçãs para as quais SmartFresh™ reduz as perdas por podridões associadas ao avanço do amadurecimento, senescência e desenvolvimento de distúrbios fisiológicos (ex: escaldadura superficial). Maior incidência de podridões em maçãs com menor firmeza (mais maduras) possivelmente está associada a redução dos compostos fenólicos e ao aumento da degradação da parede celular que torna os frutos mais suscetíveis ao crescimento e desenvolvimento dos fungos.
A influência das condições climáticas durante o crescimento das maçãs sobre as perdas pós-colheita foi demonstrada nesse estudo pela associação entre alta precipitação de chuva e alta incidência de podridões. A variabilidade das perdas de maçãs por podridões entre anos foi associada a maior precipitação de chuva durante o crescimento das maçãs. Os autores ponderam que a alta precipitação de chuva favorece a esporulação e dispersão de propágulos dos fungos; propágulos dos fungos aderem mais em superfícies úmidas das flores e frutas aumentado a probabilidade de infecção; a precipitação pode afetar o crescimento das maçãs e a integridade da cutícula, importante barreira à infecção por fungos. Por outro lado, a grande variação das perdas por podridões entre pomares possivelmente está relacionada a métodos de manejo dos pomares além das condições ambientais de microrregiões.
Nesse artigo, os autores discutem a importância dos protocolos de manejo integrado para reduzir a infestação e infecção das maçãs por fungos nos pomares, considerando que a maior partes das podridões pós-colheita resultam de infecções latentes ocorridas antes da colheita. Destacam as práticas de controle pré-colheita de doenças, limpeza dos pomares, controle de plantas invasoras, práticas para evitar desequilíbrios de nutrientes minerais, manuseio adequados dos frutos para evitar danos mecânicos na colheita e transporte dos frutos, prevenção de detritos de solo e das plantas nos contentores de maçãs, desinfecção das sacolas de colheita e dos contentores de maçãs (bins), desinfecção de câmara de armazenagem e resfriamento rápido após a colheita.
Adicionalmente o estudo demonstra que as podridões mais frequentes em maçãs produzidas no Brasil são olho de boi (Neofabraea sp.), mofo azul (Penicillium sp.), mofo cinzento (Botrytis sp.) e alternaria (Alternaria sp.).
Para ler o estudo na íntegra: https://journals.ashs.org/hortsci/view/journals/hortsci/56/5/article-p608.xml
Para saber mais: edebona@agrofresh.com; fpereira@agrofresh.com; dchiou@agrofresh.com
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