José de Barros França-Neto
Fernando Augusto Henning
Francisco Carlos Krzyzanowski
Pesquisadores da Embrapa Soja
Produzir semente de soja de elevada qualidade é um desafio para o setor sementeiro, principalmente em regiões tropicais e subtropicais. Nessas regiões, a produção desse insumo só é possível mediante a adoção de técnicas especiais.
A não utilização dessas técnicas poderá resultar na produção de semente com qualidade inferior que, caso semeada, resultará em severos problemas com a implementação da lavoura e em possíveis reduções de produtividade. Produzir semente de soja de elevada qualidade tem sido restringido pelas condições climáticas desfavoráveis nessas regiões.
Na safra 2019/20, em diversas regiões brasileiras, principalmente no Rio Grande do Sul, Oeste de Santa Catarina e do Paraná, Sul de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, tem sido relatada a ocorrência de elevados índices de sementes de soja esverdeadas, em alguns casos superiores a 50%.
Esse fato deveu-se à ocorrência de seca associada a elevadas temperaturas nas fases de enchimento de grãos e em pré-colheita, que resultaram na morte prematura das plantas e na maturação forçada das sementes. Com isso, as duas principais enzimas associadas à degradação da clorofila, magnésio quelatase e clorofilase foram desativadas, culminando na produção de altos níveis de sementes esverdeadas.
Mais causas
Além de seca, outros fatores contribuem para a produção de sementes esverdeadas em soja. Diversas doenças, quando mal manejadas, podem resultar nesse problema. Como por exemplo, pode-se mencionar a fusariose (causada pelo fungo Fusarium solani f. sp. glycines/Fusarium tucumaniae), a podridão radicular causada por macrofomina (Macrophomina phaseolina), doenças do colmo, como o cancro da haste (Phomopsis phaseoli f. sp. meridionalis.) e doenças foliares, como a ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachurhizi).
O intenso ataque de insetos, principalmente de percevejos sugadores, pode resultar no aparecimento desse problema.
O manejo inadequado de lavouras de soja também pode resultar na produção de semente esverdeada. A distribuição inadequada de calcário ou de fertilizantes pode ocasionar problemas de maturação desuniforme, o que, por sua vez, resultará na colheita de semente imatura e esverdeada, mesclada com semente amarela e madura.
Outra prática de manejo que pode resultar nesse problema é a dessecação em pré-colheita. Semente esverdeada poderá ocorrer, caso o dessecante seja aplicado antes do estádio ideal (ponto de maturidade fisiológica – R7), ou quando a sua aplicação é realizada para corrigir situações em que exista desuniformidade de maturação de plantas.
Genética
Além desses fatores, deve-se levar em consideração a suscetibilidade genética dos genótipos de soja utilizados, uma vez que existem cultivares de soja que são mais suscetíveis que outros à expressão do problema.
A expressão do problema de sementes esverdeadas estará condicionada à ocorrência desses tipos de estresses bióticos ou abióticos e será mais intensa, caso associada com elevadas temperaturas.
Sementes com coloração intensa da cor verde ou mesmo esverdeadas geralmente apresentam elevados índices de deterioração, o que pode levar à redução da germinação e do vigor em lotes de sementes de soja: quanto maior o índice de sementes esverdeadas, menores serão a sua germinação e o vigor.
Sementes esverdeadas recém-colhidas podem até germinar, mas têm o seu vigor significativamente reduzido. Após três a quatro meses de armazenagem em condições não climatizadas, a germinação das sementes esverdeadas será próxima de zero.
Pesquisas
Dados de pesquisa da Embrapa Soja em conjunto com a UFLA (Universidade Federal de Lavras) sugerem que em pré-colheita, níveis de até 9,0% de sementes esverdeadas poderão ser tolerados; logicamente, o ideal seria ter 0,0% do problema.
A remoção de sementes esverdeadas de um lote pode ser realizada por equipamentos selecionadores de cores que, apesar de caros, removem grande parte dessas sementes esverdeadas. Existem no mercado diversas marcas e modelos desses equipamentos, que fazem a separação com base em uma, duas ou três cores e têm a capacidade de produção variando de 60 kg.h-1 a 5,0 t.h-1.
Além disso, por serem menores, a classificação por tamanho das sementes pode resultar em melhoria da qualidade fisiológica do lote de semente, pois a maior concentração de sementes esverdeadas ocorrerá nas menores classes de tamanho, que poderão ser descartadas. As sementes das classes maiores, por terem um menor percentual desse problema, tenderão a apresentar melhor germinação e vigor.
A separadora em espiral também pode auxiliar na remoção de sementes esverdeadas do lote de sementes, uma vez que muitas dessas sementes apresentam-se deformadas ou alongadas. Entretanto, a utilização da mesa de gravidade não é eficaz na remoção de semente esverdeada dos lotes de semente.
Armazenagem
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Em situações em que o produtor de sementes se vê forçado a armazenar lotes de sementes com esse tipo de problema (logicamente em baixos níveis), sugere-se armazená-las em condições climatizadas (10 – 15ºC, 60% UR), pois isso preservará a qualidade das mesmas durante o armazenamento.
Prejuízos
Em suma, foi relatado que a ocorrência do esverdeamento da semente de soja prejudica a sua qualidade fisiológica, e que a sua presença interfere negativamente na germinação e no vigor do lote. Diversos estresses bióticos e abióticos que ocorrem durante a fase final de maturação e pré-colheita das sementes são responsáveis pela expressão do problema.
A intensidade de ocorrência de semente verde é afetada tanto pelo genótipo como por condições climáticas desfavoráveis. Plantas de soja submetidas a condições de estresse hídrico e térmico, nas fases finais de maturação e pré-colheita, produzem altos índices de sementes verdes, menores e mais leves.
A morte prematura de plantas causada por doenças como a fusariose e macrofomina, como resultado do mau manejo do solo, também resulta em sementes esverdeadas.
Informações adicionais podem ser obtidas na Circular Técnica 91 “Semente esverdeada de soja: causas e efeitos sobre o desempenho fisiológico”, que pode ser baixada diretamente do site da Embrapa Soja (www.embrapa.br/soja/publicações).