Liliane Marques de Sousa
Engenheira agrônoma e mestranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV), Departamento de Agronomia
liliane.engenheira007@gmail.com
Walleska Silva Torsian
Engenheira agrônoma e doutoranda em Fitotecnia – ESALQ/USP, Departamento de Produção Vegetal
alleskatorsian@usp.br
A cebola é um produto agrícola de grande importância e demanda, sendo consumida na forma in natura, salada e como tempero dentro da alimentação humana. Em grande parte do Brasil, a cebola é cultivada por pequenos, médios e grandes produtores e sua importância econômica não é só para gerar fontes de renda, como também empregos, tanto diretos como indiretos.
Bahia e Pernambuco são os principais Estados produtores de cebola da região nordeste, com 98% da produção na região. Os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul contribuem com cerca de 60% da produção nacional e São Paulo e Minas Gerais com aproximadamente 25%.
A área plantada de cebola no Brasil é de quase 65 mil hectares por ano, com mais de um milhão de toneladas produzidas por ano.
Época ideal
A época de plantio da cebola é definida de acordo com o clima e o mercado consumidor, por exemplo, na região sul do País a semeadura é realizada entre abril e junho e a colheita entre novembro e janeiro.
Já na região sudeste a semeadura e a colheita compreendem fevereiro a maio e julho a novembro, respectivamente. Já na região nordeste, o semeio pode ser realizado em qualquer época do ano, que tem a capacidade de abastecer a demanda dos mercados consumidores em todo o Brasil.
Condições para a cultura
A cebola exige dias longos para crescer e desenvolver, ou seja, mais de 10 horas de luz por dia. Essa exigência acontece, principalmente, em regiões onde as temperaturas altas são intensificadas, pois temperaturas altas influenciam no tamanho e ciclo da cultura.
Em fotoperíodos mais curtos, as plantas não bulbificam de maneira adequada, e a baixa temperatura do solo influencia de forma negativa na germinação, no crescimento de desenvolvimento das raízes e na velocidade do crescimento das plantas.
A cebola exige solos de textura média com pH de 6,0 a 7,0 com altos teores de matéria orgânica e com boa drenagem. O plantio de cebola pode acontecer de três formas diferentes: plantio de mudas, semeadura no local definitivo e plantio de pequenos bulbinhos.
Mudas
Vale destacar que, na região nordeste, predomina o sistema de mudas, com a semeadura mais o transplantio. As sementeiras são próximas à área de transplantio para facilitar o transporte para o local definitivo e não danificar as mudas.
Para a instalação da sementeira, é necessário a aração, gradagem e sulcamento, com irrigação por microaspersão e dimensões de 1,0 m de largura por 5,0 a 10 m de comprimento e 10 cm de altura.
As adubações da sementeira podem ser realizadas com 06-24-12, sendo incorporada ao solo, no momento anterior da semeadura. A aplicação de nitrogênio é realizada 20 dias após a semeadura.
São utilizadas de oito a 10 gramas de sementes por metro quadrado, com aproximadamente 2,0 a 3,0 kg de sementes para o plantio de um hectare. Pulverizações com inseticidas e fungicidas e tratos culturais são necessários durante o período de semeadura.
Preparo de solo
Para o preparo de solo bem feito, primeiramente o mesmo deve possuir boa produtividade, com 30 cm de profundidade, se necessário realizar gradagem e sulcamento. Os sulcos devem ter espaçamento de 40 cm de centro e as mudas devem transplantadas duas fileiras nas laterais.
O transplantio é, basicamente, retirar as mudas que foram produzidas na sementeira e levar para o local definitivo, geralmente com 30 dias após o semeio, com espaçamento de 10 cm x 10 cm, por apresentar melhores produtividade e bulbos mais aceitos pelo mercado consumidor.
Adubação
Para a adubação das cebolas, é necessário realizar uma análise de solo, acompanhada de um profissional engenheiro agrônomo, que saberá realizar os cálculos de acordo com os resultados da análise.
Mas, geralmente, recomenda-se 20 m³ de esterco bovino e 600 kg/ha da fórmula 06-24-12, que deverão ser incorporados ao solo antes mesmo do transplantio. E, em cobertura, aplicar 120 kg/ha de nitrogênio parcelado em duas aplicações aos 20 e 50 dias após o transplantio.
Recomenda-se, ainda, 60 kg/ha de potássio aos 35 e 50 dias após o transplantio, também de forma parcelada. A irrigação é importante para obter altas produtividades, como exemplo, na formação dos bulbos.
Silício
Além dos nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento de qualquer cultura, existem alternativas sustentáveis que auxiliam para aumento de produtividade, como por exemplo, a aplicação do silício.
O silício beneficia diversas características químicas do solo, como pH, saturação por bases e aumenta a concentração de cálcio e magnésio. O uso de silício juntamente com a adubação NPK melhora as propriedades do solo devido à liberação de fósforo que se encontrava adsorvido.
A maioria dos solos do nosso país apresenta acidez devido a níveis elevados de alumínio e manganês, que impedem a disponibilidade de nutrientes essenciais às plantas. Devido a esse fator, ocorre a baixa agregação e menor resistência do solo à penetração das raízes.
Benefícios múltiplos
O silício é reconhecido, atualmente, por fornecer maior resistência a doenças e insetos, melhorar a nutrição das plantas, reduzir a taxa de transpiração, aumentar a capacidade fotossintética das plantas e, ainda, corrigir o pH de solos ácidos.
Os produtores de hortaliças veem utilizando o silício como nutriente para obter melhores produtividades, principalmente da cebola.
Dosagem
Pesquisas científicas demonstram que a quantidade de silício aplicada de 3,0 a 6,0 toneladas por hectare no solo deve obter 80% de elevação da saturação por bases, com 50 dias antes da cultura ser instalada no campo.
Na agricultura atual, embora o silício não seja considerado um elemento essencial às plantas, ele é tido como um elemento benéfico para as culturas, ou seja, contribui para o crescimento das plantas de forma indireta.
No Brasil, foi incluído na Legislação para a Produção e Comercialização de Fertilizantes e Corretivos como micronutriente benéfico, a partir do decreto de lei número 4.954, que regulamenta a lei 6.894 de 16/01/1980 de 14/01/2004.
Isto se dá porque a inclusão desse elemento no manejo nutricional das lavouras traz inúmeros benefícios às lavouras, por auxiliar nas funções como: redutor dos efeitos dos estresses abióticos; melhoria da produtividade das culturas; aumento da resistência das plantas aos efeitos de metais tóxicos; auxílio na defesa das plantas contra pragas e redução da intensidade de doenças.
Portanto, o uso do silício na agricultura pode ajudar o produtor a minimizar os efeitos do estresse hídrico na cebola, visto que um dos benefícios desse elemento é justamente a redução dos estresses abióticos.
Ação na cebola
Nas plantas, e não diferente na cebola, o silício atua de duas formas para amenizar os efeitos do déficit hídrico – o primeiro refere-se ao fortalecimento dos tecidos vegetais, por meio da deposição do silício nas camadas dos tecidos vegetais. Isto contribui para evitar a perda excessiva de água pelas plantas pelo processo de transpiração.
Além do mais, essa deposição de silício contribui para o fortalecimento dos tecidos vegetais, o que por sua vez ajuda a melhorar a arquitetura foliar das plantas. Todos esses benefícios auxiliam na redução do auto sombreamento, contribuindo também para a redução de perda de água por transpiração. Desta forma, a planta consegue lidar melhor com situações de estresse como a falta de água no ambiente.
Portanto, o agricultor precisa estar atento às condições que podem levar as plantas de cebolas ao estresse hídrico para não sofrer com perdas na lavoura. E, com as condições climáticas cada vez mais instáveis, isso se torna um grande desafio para a cebolicultura atual.
Absorção de água
Outras vantagens do silício são a promoção da maior eficiência na absorção de água, tornando as plantas mais tolerantes às condições de déficit hídrico, melhoria da integridade e estabilidade da membrana celular, potencializando a síntese de enzimas antioxidantes envolvidas como os mecanismos de defesa vegetais contra as espécies reativas de oxigênio, fortalece a parede celular das folhas e dos caules ao deixar as plantas mais eretas e aumentando a área de exposição a luz.
Além disso, o silício torna as células epidérmicas das folhas das plantas mais eretas, assim induzindo maior absorção de CO2, promovendo aumento na eficiência da fotossíntese e no teor de clorofila. Isto ocorre devido ao acúmulo de silício na superfície das folhas, atuando como uma barreira física e regulador osmótico, conferindo melhor permeabilidade, resultando em células mais túrgidas, com maior resistência mecânica, tornando-as mais tolerantes aos danos causados pelo déficit hídrico.
Manejo
A forma mais comum de fornecimento de silício às plantas é pela aplicação dos silicatos, que promovem inúmeras outras vantagens, tais como efeito corretivo no solo, em função do aumento do pH, menor teor de elementos tóxicos como AI, Fe e Mn, disponibilidade de Ca, P, Mg e micronutrientes, aumento de Si solúvel no solo, maior saturação por bases e, consequentemente, baixa saturação por bases por alumínio.
A aplicação de Si pode ser feita antes da implantação da cultura ou após o estabelecimento da cultura em campo, todavia, a forma de aplicação dos silicatos é via sólida (pó ou granulado) ou líquida (via solo ou via foliar).
A aplicação dos silicatos em pó é feita via incorporação no solo em área total. Já os granulados são aplicados nas linhas de plantio, geralmente com outros adubos, como os formulados à base de nitrogênio, fósforo e potássio, os tradicionais NPK.
A aplicação de silício pode ocorrer via solo ou foliar, sendo ambas as formas eficientes. Irá depender do fertilizante disponível, quando feito por fertirrigação, diminui a necessidade com mão de obra.
Esse elemento também pode ser aplicado no solo por meio da adubação na forma de silicato de cálcio (CaSiO3), contribuindo para o aumento na capacidade de trocas de cátions e correção de acidez, disponibilizando cátions e fornecendo cálcio para a cultura.
Fontes de silício
As fontes de Si variam, sendo a mais comum os silicatos de cálcio, entretanto se faz necessário a descontaminação de metais pesados e outros contaminantes, como alumínio (Al).
Uma boa fonte de silício deve ser solúvel, proveniente de matéria-prima confiável, ser livre de contaminantes, além de facilmente aplicável. Os xistos, “folhelhos oleígenos” (rochas silto-argilosas), escórias siderúrgicas (primárias com alta concentração de silício, magnésio e cálcio) os termofosfatos também são tidos como boas fontes de Si, casca de arroz carbonizada, além de ser um subproduto com baixo custo.
Embora haja poucos critérios de recomendação de doses de silício para a cultura da cebola, o produtor deve tomar como base estudos de calibração das análises de Si solúvel no solo e na produtividade esperada da cebola, bem como sobre o efeito residual dos silicatos.
No geral, recomenda-se que a quantidade aplicada deve variar de três a seis toneladas de silicato de cálcio ou magnésio por hectare, com 40 a 60 dias antes do estabelecimento da cultura em campo.
Pesquisas
Estudos mostram que a adubação com silício diminuiu drasticamente a absorção e os efeitos adversos de metais pesados, como cádmio (Cd) e arsênio (As), em cebola, além de atenuar o efeito das adversidades da seca nas plantas.
A adubação do solo com Si aumenta a eficiência da adubação convencional à base de NPK (nitrogênio, potássio e fósforo), bem como a produtividade e melhora a qualidade dos bulbos de cebola em campo.
Custos envolvidos
O custo da operação de aplicação de silício na cebola pode variar em função de inúmeros fatores, como tipo de formulação do adubo; se é via solo ou foliar ou fertirrigação; forma de aplicação mecanizada ou manual; se vai ser realizada junto com outras adubações e, especialmente, das condições do solo, etc.
Entretanto, a aplicação do silicato de cálcio e magnésio é semelhante ao custo operacional do calcário agrícola. Como regra básica para uma melhor e maior eficiência, recomenda-se que o produtor faça análise de solo visando determinar a melhor dose para a cultura.
É importante que, na escolha da fonte de Si, o produtor considere o poder relativo de neutralização total (PRNT) do silicato, bem como da distância entre o local de produção e a área de cultivo, visto que os custos da aplicação do produto podem aumentar em função do elevado preço do frete até a propriedade.
Desta forma, é importante avaliar a relação custo/benefício do uso do produto na lavoura, pois a mesma determinará a viabilidade ou não da aplicação do silicato em substituição ao calcário, assim como evitar prejuízos em campo.