Mais conhecido por ser o material básico da indústria eletroeletrônica, na composição de circuitos integrados ou chips, presentes em todos os equipamentos eletrônicos como computadores e celulares, o silício está presente também na agricultura brasileira para controlar pragas, aumentar a produtividade e melhorar a qualidade de produtos agrícolas.
Um dos estudos mais recentes no Brasil foi realizado por uma equipe de pesquisadores do Departamento de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), na cidade de Botucatu.
Rogério Peres Soratto, professor adjunto que participou do experimento, observou que, dependendo da fonte de silício, especialmente sua forma solúvel, fornece o silício de modo que a planta consegue absorvê-lo mais facilmente, favorecendo que a planta fique mais ereta e, ainda, se saia melhor em condições de estresse, como deficiência hÃdrica ou algum outro estresse abiótico.
Eles finalizaram um experimento que mostrou os benefícios da aplicação de silício na cultura de batata, na forma de adubação, incorporando o elemento ao solo. Os resultados mostraram um aumento da produção total de tubérculos de 14,3% e da produção de tubérculos comercializáveis ” a batata boa para o consumo ” em 15,8%.
Muito desses resultados positivos foi proporcionado por uma redução de 63% no acamamento das plantas. Esse comportamento do vegetal acontece quando os ramos e as folhas crescem e não ficam eretos, e sim deitados no solo, causando uma série de problemas. A planta fica privada da fotossíntese em todo o seu potencial e torna-se mais facilmente suscetÃvel a microrganismos patogênicos.
O silício promove o fortalecimento da parede celular das folhas e dos caules ao deixar as plantas mais eretas e aumentar a área de exposição ao sol. “A redução no acamamento das hastes, proporcionada pela aplicação de silício, pode estar relacionada à melhor condição hÃdrica nas células promovida pelo ajustamento osmótico (que confere melhor permeabilidade), o que resultou em células mais túrgidas (dilatadas) e com maior resistência mecânica“, explica Rogério Soratto.
Como funciona
O silício atua alterando a codificação do DNA da planta e induzindo que ela produza enzimas que fazem com que o seu metabolismo trabalhe melhor em uma condição de estresse. “O silício pode alterar, por exemplo, os teores de algumas enzimas como catalase, peroxidase e outras relacionadas com o estresse. Essas enzimas ajudam a planta a combater os radicais livres proporcionados por esta condição. Isso faz com que essa planta mantenha a sua estrutura e desempenho fisiológicos em melhores condições sobre o estresse do que se ela não tivesse silício. Na batata esse é o principal efeito, e no caso de uma doença, esta terá mais dificuldade de penetrar na planta devido à presença de uma barreira física mais rÃgida“, relata Rogério Soratto.
A batata, que é uma planta não acumuladora de silício, ou seja, a quantidade que ela absorve é muito pequena, apresenta, portanto, efeito mais fisiológico, agindo na produção de enzimas, no combate dos radicais livres e na produção de fitoalexinas que vão tornar a planta mais resistente a doenças.
Mais fósforo
O silício, quando dissolvido na solução do solo, se encontra de forma aniônica, assim como o fósforo, ambos competindo pelos sÃtios de adsorção. Assim, o silício deixa uma quantidade maior de fósforo disponível para a planta na solução de solo.
“Aplicando a solução no solo, as partículas de solo vão reter silício e darão mais oportunidade para os ânions fosfatos ficarem disponíveis para a planta. Essa é uma vantagem, porque a planta terá condição de absorver esse fósforo, que não será mais perdido“, explica o professor Rogério.
Ele relata que os estudos focaram a aplicação via foliar, mas já se iniciam os experimentos via solo. Como ainda estão no começo, não é possível fazer uma recomendação.
Fonte de silício é essencial
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Rogério Soratto destaca a importância da fonte de silício para o sucesso da aplicação. “Temos materiais riquÃssimos em silício, mas esse silício não está disponível para a planta. Para garantir a aplicação de silício de qualidade, o produtor deve considerar a idoneidade da empresa que está fornecendo a fonte deste elemento, e se já há estudos saber qual a eficiência dessa ação“, recomenda.
Um dos estudos mais recentes no Brasil foi realizado na casa de vegetação da Faculdade de Ciências Agronômicas, no campus da Unesp, em Botucatu, e implicou em tratamentos com a presença e ausência de silício, por meio da correção do solo com calcário dolomÃtico e silicato de cálcio e magnésio, além da mesma metodologia em relação ao déficit hídrico.
A utilização do produto aumentou o desempenho da batateira, o que não foi constatado nas plantas tratadas apenas com calcário. “O aumento da produção também pode estar relacionado com a elevação do teor de fósforo disponível no solo e a redução do acamamento devido à aplicação de silicato, que pode ter favorecido a eficiência de interceptação da luz solar e, consequentemente, beneficiou o enchimento das batatas”, comenta o professor.