Thiago Alberto Ortiz
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia e professor – Universidade Paranaense (UNIPAR – campus Umuarama-PR)
thiago.ortiz@prof.unipar.br
A qualidade das sementes é um fator crucial para o sucesso do cultivo da soja, pois elas possuem características genéticas, físicas, fisiológicas e sanitárias que impactam diretamente no desempenho no campo.
Para que uma semente de soja seja considerada de qualidade, é essencial que apresente alta vitalidade, boa capacidade de germinação, sanidade adequada, além de pureza física e genética. A pureza genética é especialmente importante, pois está relacionada as características agronômicas como ciclo de desenvolvimento, produtividade e resistência a doenças.
A qualidade sanitária das sementes de soja é igualmente fundamental, pois afeta a qualidade fisiológica e a sanidade da lavoura. Sementes de baixa qualidade podem introduzir patógenos em áreas livres de doenças, como a reintrodução de enfermidades anteriormente erradicadas no Brasil, muitas vezes decorrente do uso de sementes piratas.
Além disso, fungos fitopatogênicos e de armazenamento podem comprometer o vigor e a taxa de germinação das sementes.
Por que investir em qualidade
A escolha de sementes certificadas é, portanto, vital em comparação àquelas de origem desconhecida ou que não passaram por um adequado processo de melhoramento. Sementes de alta qualidade resultam em plantas vigorosas, que conseguem se estabelecer e crescer de forma eficaz em diversas condições.
Essas lavouras tendem a ser mais resilientes em situações de estresse, como secas ou altas temperaturas do solo. Em contraste, sementes de qualidade inferior geram plântulas fracas, incapazes de competir adequadamente no ambiente de cultivo.
Além disso, a densidade ideal de semeadura e o tratamento apropriado das sementes são essenciais para garantir uma população de plantas bem distribuída, prevenindo problemas como acamamento e competição com plantas daninhas. O uso de sementes de alta qualidade, juntamente com o tratamento correto, diminui o risco de ressemeadura, o que pode impactar negativamente a rentabilidade do negócio.
Desenvolvimento genético
Ao selecionar sementes para a safra, é fundamental considerar o melhoramento genético. Reconhecendo a importância da qualidade das sementes de soja para o sucesso da cultura, as empresas têm investido continuamente em tecnologia e aprimoramento genético para atender às diversas demandas dos produtores rurais.
Com soluções desenvolvidas de maneira estratégica, com foco na pureza genética, capacidade de germinação, sanidade e integridade física, busca-se potencializar o desempenho das sementes no campo e, assim, alcançar altos níveis de produtividade.
O desenvolvimento de cultivares de qualidade envolve várias etapas em programas de melhoramento, entre elas a seleção de linhagens resistentes a doenças.
Essa prática possibilita o lançamento de variedades que apresentam resistência a diversas doenças, o que não apenas aumenta o potencial produtivo, mas também reduz os custos de produção. A resistência genética é um dos métodos mais eficazes e econômicos disponíveis para os produtores no controle de doenças em culturas comerciais, incluindo a soja.
Cultivares resistentes as doenças
As doenças representam um dos principais obstáculos para a obtenção de altos rendimentos na cultura da soja, e sua gestão é frequentemente desafiadora. No Brasil, diversas doenças causadas por fungos, bactérias, nematoides e vírus têm sido identificadas. A resistência genética é considerada a forma mais eficaz e econômica para o controle dessas doenças, mas deve ser integrada a um sistema de manejo abrangente da cultura.
O desenvolvimento de cultivares de soja com resistência a doenças depende do conhecimento sobre as fontes de resistência disponíveis, incluindo o número de genes envolvidos e como se expressam. Além disso, entender o modo de ação dos patógenos ajuda na definição dos métodos mais adequados para criar e testar genótipos resistentes.
Instituições como a Embrapa e outras empresas realizam testes para o desenvolvimento de cultivares em diferentes regiões do Brasil. Isso envolve a análise de linhagens em relação a doenças, como o cancro da haste (Diaporthe aspalathi), mancha olho-de-rã (Cercospora sojina), podridão radicular (Phytophthora sojae), pústula bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. glycines), ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), mancha-alvo (Corynespora cassiicola), oídio (Microsphaera diffusa), mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), mancha bacteriana marrom (Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens), e podridão vermelha da raiz (Fusarium spp.).
Além disso, a resistência a nematoides do cisto (Heterodera glycines) e de galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica) também é avaliada, assim como a reação a viroses, como o mosaico comum da soja (Soybean Mosaic Virus) e a necrose da haste (Cowpea Mild Mottle Virus).
Novas cultivares que atendam demanda
O melhoramento genético da soja é um processo contínuo, focado na criação de novas cultivares que atendam às demandas do mercado e superem limitações específicas.
Uma cultivar de soja ideal deve não apenas apresentar alta produtividade, mas também garantir estabilidade da produção e ampla adaptabilidade a uma variedade de ambientes. A resistência genética a doenças e pragas, juntamente com a tolerância a condições adversas de solo e clima, são fundamentais para assegurar a estabilidade da produção e o retorno econômico, possibilitados pelo uso de sementes de cultivares melhoradas.
A qualidade fisiológica das sementes é uma característica crucial no melhoramento da soja, especialmente em regiões tropicais do Brasil, onde altas temperaturas e umidade podem comprometer a qualidade durante as fases de pré e pós-colheita.
Isso resulta em prejuízos significativos, incluindo o aumento nos custos de produção e a perda de lotes que não atendem aos padrões de germinação e vigor. Os produtores que utilizam sementes de baixa qualidade podem enfrentar problemas de rendimento devido a falhas na emergência e na densidade de plantas.
Estratégia
Desenvolver cultivares que assegurem alta qualidade fisiológica e sanitária das sementes é uma estratégia eficaz para mitigar esses problemas. A deterioração das sementes pode ser patológica, fisiológica ou física, e frequentemente ocorre de maneira combinada, prejudicando a germinação e o vigor.
A Embrapa Soja, por exemplo, tem avançado significativamente na incorporação de características de resistência à deterioração nas populações e linhagens. Para avaliar a resistência das sementes a esse processo, é fundamental utilizar metodologias apropriadas para mensurar a qualidade das sementes em condições de estresse, como durante o cultivo, a colheita e o armazenamento.
Isso possibilita uma análise rápida e reproduzível entre diferentes linhagens.
