Roberto Araújo
Engenheiro agrônomo, pós-graduado em Engenharia de Irrigação e Proteção de Plantas (UFV) e líder de sustentabilidade e stewardship na CropLife Brasil
A agricultura sustentável é um método de cultivo que visa intensificar a produção agrícola e, ao mesmo tempo, maximizar os benefícios econômicos e sociais, minimizando os impactos ambientais negativos.
As técnicas de manejo sustentável envolvem a utilização das melhores práticas agrícolas, como a conservação de solo, o plantio direto na palha, a rotação de cultivos, ações de conservação da biodiversidade, a otimização no uso de insumos agrícolas, como os fertilizantes, as sementes e mudas geneticamente avançadas, os defensivos agrícolas químicos e biológicos, por meio de planejamento agronômico e do uso de soluções de agricultura de precisão.
Em resumo, a agricultura sustentável procura atender às necessidades de produção de alimentos, fibras e energia limpa, de forma a garantir a conservação dos recursos naturais e a qualidade de vida das gerações presentes e futuras.
Colocando em prática
Existem vários exemplos de agricultura sustentável utilizadas no Brasil, uma vez que o País é um dos maiores produtores agrícolas e vem se destacando na adoção de práticas sustentáveis. Alguns dos principais exemplos são:
Bioinsumos: têm sido utilizados em cerca de 50 milhões de hectares que recebem os mais diversos tipos de produtos biológicos para o controle pragas e doenças, assim como para melhorar o desenvolvimento de plantas.
De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), os bioinsumos já trazem uma economia anual acima de US$ 13 bilhões, decorrente do uso do controle biológico e da fixação biológica de nitrogênio.
Com base no estudo de caso apresentado por Olmo (2022) – safra de soja 2019/20 – foi estimado que 430 milhões de toneladas de CO2 equivalente deixam de ser lançados na atmosfera por conta do uso das bactérias fixadoras de nitrogênio na cultura da soja.
Biotecnologia: de acordo com o Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia (ISAAA), as culturas biotecnológicas vêm contribuindo para a segurança alimentar, sustentabilidade e soluções para mitigar os impactos das mudanças climáticas desde o início de sua adoção, em 1996.
De acordo com o ISAAA, em 2018 o Brasil cultivou 52,8 milhões de hectares com culturas geneticamente modificadas, onde 35,1 milhões de hectares é com soja, 16,3 milhões de hectares de milho, 1,4 milhão de hectares de algodão e cerca de 18 mil hectares de cana-de-açúcar resistente a insetos.
Sistema de Plantio Direto (SPD): é uma técnica de cultivo que preserva a cobertura vegetal do solo com plantas forrageiras para evitar a erosão, além de melhorar a qualidade, a biodiversidade e a fertilidade do solo. De acordo com a Embrapa e a Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto (FEBRAPD), o SPD é praticado em mais de 33 milhões de hectares da área cultivada no país.
Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF): o sistema ILPF é uma estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área. De de acordo com a Refe ILPF a área com Sistema ILPF já ultrapassou 17 milhões de hectares no Brasil.
Agricultura de Precisão (AP): uso de tecnologias avançadas para monitorar e gerenciar a produção agrícola de forma mais eficiente, como o uso de sensores, equipamentos de automação, hardwares, softwares de inteligência artificial (IA) e internet das coisas (IoT), otimizando o uso de recursos (p.e. água, energia, tempo e insumos agrícolas, dentre outras) e minimizando os impactos ambientais negativos.
De acordo com dados divulgados durante o 9º Congresso de Agricultura de Precisão (ConBAP-2022), por meio de pesquisa desenvolvida pela IHS Markit com o apoio da Associação Brasileira de Agricultura de Precisão e Digital (AsBraAP), os produtores de algodão são os que mais utilizam agricultura de precisão (66%), seguidos pelos produtores de soja (34%) e cana-de-açúcar (14%).
Produção sustentável com o mesmo custo
Produzir grãos de forma mais sustentável significa ser mais eficiente nos aspectos econômico, ambiental e social. É um erro analisar apenas o custo de produção, quando na verdade o mais importante é a rentabilidade sustentada ao longo dos anos.
De forma simplista, produzir grãos de forma sustentável é produzir mais grãos por área plantada, utilizando menos recursos (insumos, diesel, água etc.), ou seja, o aumento da produtividade é um dos principais aspectos da sustentabilidade.
Não faz sentido aumentar a produtividade e ter prejuízo, ou gerar impactos negativos para o meio ambiente e a sociedade. Na prática, o custo de produção deve crescer em taxas inferiores ao aumento da produtividade, e os indicadores ambientais (p.e. conservação e fertilidade do solo) e sociais (renda dos trabalhadores, escolaridade e qualidade de vida) devem prosperar ao longo dos anos.
Máximas produtividades
Um bom exemplo para materializar a superioridade da produção agrícola sustentável é o Desafio Nacional de Máxima Produtividade de Soja, desenvolvido anualmente pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), que visa reconhecer os melhores sojicultores do País nos sistemas irrigado e sequeiro.
Para comprovar que o aumento da sustentabilidade da soja está diretamente relacionado ao aumento da produtividade e à adoção das melhores práticas agrícolas, a Fundação Espaço Eco desenvolveu para o Cesb um algoritmo para cálculo da ecoeficiência da produção de soja.
O sistema considera dez parâmetros internacionalmente aceitos para avaliar os aspectos econômicos e ambientais, utilizando as informações do sistema de produção dos sojicultores que participam do Desafio para calcular e comparar a ecoeficiência das lavouras.
Durante o Fórum Nacional de Máxima Produtividade do Cesb, realizado em junho de 2022, o vencedor nacional colheu 7.611 kg/ha, 125% acima da média nacional (Conab), com uma lucratividade de 74,1% e retorno de 2,9 vezes sobre o capital investido.
O vencedor do Desafio melhorou todos os índices de sustentabilidade, comparativamente aos parâmetros de sua região. Um dos indicadores de destaque é a redução das emissões de gás carbônico (CO2 equivalente), que foram 54% menores, além de 53% de redução no uso da terra. A CropLife Brasil é parceira do Cesb e algumas de suas associadas são patrocinadoras.
Obstáculos à agricultura sustentável
São muitas as oportunidades para expandir a agricultura sustentável, pois o Brasil reúne excelentes condições para aumentar a produção agrícola e se manter como uma grande potência ambiental, já que possui 20% da biodiversidade do mundo e 66% do seu território coberto por vegetação nativa.
De acordo com a FAO, o Brasil está entre os cinco países com maior quantidade de terras agricultáveis, além de ter condições edafoclimáticas favoráveis para produzir duas ou até três safras por ano.
O crescimento da agricultura sustentável pode criar novas oportunidades de acesso aos mercados internacionais, cada vez mais preocupados com a sustentabilidade, além de contribuir para a redução de custos de produção e o aumento da competitividade, a conservação ambiental, o desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a agricultura tropical, a geração de empregos mais qualificados e a valorização da imagem de um país como fornecedor sustentável de alimentos, fibras e energia limpa.
Sobre os desafios, é possível listar os mais importantes, como a falta de conscientização de muitos agricultores, a pressão econômica do modelo tradicional de produção agrícola, que muitas vezes prioriza a maximização do lucro a curto prazo, a falta de incentivos e de política pública para facilitar a transição, fato que pode ser um obstáculo para agricultores menos tecnificados, atraso na implementação do novo código florestal, as limitações de investimentos em pesquisa e difusão de tecnologia, problemas de infraestrutura logística e para armazenagem, a desigualdade socioeconômica, a baixa escolaridade e a falta de qualificação profissional no meio rural.
Destaques na agricultura sustentável
O Brasil possui uma grande diversidade de cultivos, e muitos deles se destacam pela produção agrícola sustentável mundial, por exemplo:
Soja: o Brasil é o maior produtor mundial de soja e também apresenta um dos maiores índices de produtividade, com 3.026 kg/ha na safra 2021/22. A maioria dos sojicultores tem adotado técnicas modernas e mais sustentáveis, como o plantio direto, sementes certificadas, biotecnologia, controle biológico, fixação biológica de nitrogênio, agricultura de precisão e rotação de cultivos, dentre outras.
Algodão: de acordo com a Abrapa, o Brasil está entre os quatro maiores produtores mundiais e é o segundo maior exportador de algodão, fornecendo 20% do volume comercializado internacionalmente. Desde 2012, a Abrapa desenvolveu um programa de certificação, Algodão Brasileiro Responsável (ABR), atendendo às diretrizes internacionais de sustentabilidade.
O programa ABR permite a rastreabilidade do processo completo, desde o plantio do algodão certificado até a venda do produto final. De acordo com a Associação, o Brasil é o maior fornecedor mundial de algodão Better Cotton Initiative – BCI (certificação internacional de referência na cadeia produtiva mundial do algodão), representando 42% da oferta mundial.
Café: o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. Em 2022, o País colheu 42,3 milhões de sacas de 60 quilos e registrou um recorde de exportações de 36,80 milhões de sacas.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produtividade média por hectare é de 22,49 sacas. A área total destinada à cafeicultura no País em 2023 (arábica e conilon) totaliza 2,26 milhões de hectares.
De acordo com o Mapa, o parque cafeeiro nacional é estimado em 2,25 milhões de hectares e compreende um universo de cerca de 290 mil produtores, a maioria pequenos, que estão espalhados por aproximadamente 1.900 municípios.