O programa de melhoramento da Embrapa é estruturado em três programas: convencional (não transgênico), RR e IPRO. Mas é importante realizar o posicionamento fitotécnico de cultivares de acordo com os genótipos dentro de sistemas de produção, específicos para cada região. Dessa forma, é possível obter resultados eficientes ao explorar o máximo potencial produtivo dos materiais.
Segundo explica o pesquisador Rodrigo Arroyo Garcia, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), o posicionamento tem a ver com diversos fatores, como população de plantas, épocas de semeaduras, adubação, manejo de pragas, doenças e plantas daninhas. “A cultivar de soja transgênica BRS 543 RR possui tecnologia Block, que torna a oleaginosa tolerante ao percevejo. É um material super precoce. Não é para abrir plantio. O ideal é que seja plantado mais no início de outubro para ter alta produtividade”, recomenda.
Também com tecnologia Block, a soja convencional BRS 391 possui resistência ao mosaico, nematoide-de-galha e tolerância ao percevejo, além de crescimento determinado. “Os últimos plantios são os que possuem mais problemas com o ataque de percevejos. E esse material foi desenvolvido para fechar plantio. Por isso o plantio mais adequado é no fim de outubro até 15 de novembro para ter potencial produtivo”, diz Garcia.
Ainda segundo ele, a BRS 511, também convencional, vai bem no plantio do cedo, possui resistência genética à ferrugem da soja – devido à tecnologia Shield. Seu potencial produtivo é maior entre 20 de setembro, início de outubro. Tem amplo espectro de recomendação.
Zero defensivo
Pesquisa da Embrapa, realizada por Harley Nonato de Oliveira, pesquisador e chefe-adjunto de P&D da Embrapa Agropecuária Oeste, e parceiros, demonstrou que a associação entre a tecnologia Block (contra percevejos) da cultivar de soja BRS 543 RR e o controle biológico feito pelo parasitoide Telenomus podisi (inseto registrado, em 2019, como defensivo agrícola natural) traz grandes benefícios à cultura da soja.
Foram instaladas três áreas experimentais, em Mato Grosso do Sul, para analisar essa associação. Em uma delas, foi liberado o Telenomus podisi (que, além de parasitar o percevejo, tem como uma de suas características ser menos sensível a variações de temperatura) onde havia o material BRS 543 RR. O resultado das pesquisas prova que é possível fazer o controle sem a aplicação de inseticida. Para este ano, o trabalho será repetido também com material convencional.
Mesmo com a junção dessas tecnologias, o pesquisador reforçou que outros fatores do manejo integrado de pragas (MIP) devem ser levados em consideração. “O monitoramento da lavoura é um dos fatores mais significativos do MIP. Quem está fazendo, está ganhando. O controle químico é o último a ser adotado”, garante Harley Nonato.
Ferrugem-asiática da soja na mira
“A ferrugem-asiática da soja é uma doença cosmopolita, que se espalhou rapidamente pelo mundo, exceto em alguns microclimas”, diz Alexandre Dinnys Roese, analista do grupo da pesquisa da Embrapa Agropecuária Oeste.
O monociclo da doença é muito rápido – de seis a sete dias. Causa aberturas nas folhas, que perde água, nutrientes e área fotossintética, resultando no amarelecimento das folhas, que acabam caindo. Apesar de não ser transmitida por semente, sua disseminação é feita pelo vento e sobrevive em folhas vivas.
“O controle deve ser focado no ambiente, no patógeno. A resistência da cultura à doença é um desejo antigo. Mas estamos chegando próximo com a tecnologia Shield, tolerante à doença”, fala Roese.
Com o escudo Shield, que está sendo incorporada nas tecnologias convencionais, RR e IPRO, a ferrugem-asiática não se reproduz, o que proporciona a flexibilidade de dias para serem feitas aplicações de defensivo. A tecnologia Shield faz com que a planta aborte as células mortas, o que resulta em poucos ou nenhum esporo da ferrugem. A folha não amarela e há pouca desfolha. A oleaginosa não perde tanta água e o fungo não se reproduz. A tecnologia interrompe o ciclo da doença e é mais fácil manejá-la.