Juliana Iassia Gimenez
Doutora em Botânica e professora – FAFIPE/FUNEPE
juliana.gimenez@funepe.edu.br
Rodrigo de Aguiar Lima
Engenheiro agrônomo
rlpulverizacao@gmail.com
Hoje a semente é considerada uma tecnologia vital para a produção agrícola, visto que carrega todas as informações relacionadas ao desempenho da planta, tais como a tolerância a condições ambientais adversas e doenças, o que reflete diretamente na produtividade e na lucratividade da lavoura.
Além destes atributos de qualidade, a busca pela rentabilidade agrícola tem envolvido a utilização do tratamento de sementes. Estima-se que, atualmente, cerca de 95% das sementes empregadas pelos produtores passaram por algum tipo de tratamento pré-semeadura.
Esta técnica pode envolver a aplicação de defensivos como fungicidas, bactericidas e inseticidas, ou ainda reguladores vegetais, micronutrientes, entre outros.
Seus efeitos podem ser visualizados desde o estabelecimento inicial das plantas até o final do ciclo da cultura, impactando diretamente na produção. Por este motivo, o tratamento de sementes é considerado, hoje, um dos procedimentos mais importantes a serem realizados antes da semeadura.
Produtos
Dentre os produtos utilizados no tratamento das sementes, podemos citar os enraizadores, que são substâncias geralmente à base extratos naturais, sintéticos ou de algas marinhas.
Os enraizadores auxiliam no desenvolvimento da arquitetura radicular, o que possibilita uma melhor exploração do solo e dos seus recursos, de modo a otimizar o desenvolvimento da planta.
Neste sentido, considerando que a água é o recurso mais importante a ser explorado no solo, a maior distribuição de raízes permitirá o alcance de água disponível em maiores distâncias, refletindo em um aumento da resistência da planta ao estresse hídrico.
Da mesma forma que a água, os nutrientes também são fundamentais no ciclo de vida das culturas, com papel determinante na produção, visto sua importante atuação nos diferentes processos bioquímicos do metabolismo das plantas.
Independente da forma que estes nutrientes chegam até à planta – mobilização através do solo ou interceptação radicular – é fato que sua absorção ocorrerá pelas raízes. Deste modo, o maior desenvolvimento das raízes promovido pelo tratamento das sementes com enraizadores também favorece a absorção de nutrientes presentes no solo, visto a interceptação de nutrientes distantes da planta, além do aumento da superfície de absorção em decorrência do desenvolvimento dos pelos radiculares.
Opções
Dos enraizadores disponíveis no mercado para o tratamento de sementes, os de origem natural têm ganhado espaço nos últimos anos, em função dos bons resultados, eventualmente superiores aos dos enraizadores sintéticos.
Os extratos de algas são um exemplo de enraizadores naturais fontes de macro e micronutrientes, aminoácidos, entre outras substâncias capazes de interferir nos processos metabólicos das plantas, favorecendo o crescimento e a produtividade vegetal.
Algas marinhas
Atualmente, a alga marrom (Ascophyllum nodosum) é uma das mais estudadas para o tratamento de sementes de diversas culturas e seu uso tem sido relacionado ao aumento da resistência ao estresse hídrico, por apresentar em sua composição a betaína, um composto derivado da glicina, com efeito osmoprotetor que protege as organelas celulares contra o referido estresse.
No milho, é comprovado que o tratamento das sementes com o extrato desta alga resulta em maior acúmulo de matéria fresca na parte aérea, maior crescimento do sistema radicular em profundidade e acréscimo na produtividade.
Embora os enraizadores sejam capazes de promover o maior desenvolvimento radicular e fornecer determinados nutrientes, nem sempre esta técnica será eficiente para solucionar a demanda nutricional da planta. Isso porque, devido à intensificação dos cultivos, o solo tende a apresentar deficiência de certos nutrientes, até mesmo daqueles exigidos em baixas quantidades, e neste caso, o crescimento das raízes de nada adiantará.
Por este motivo, o tratamento de sementes também tem envolvido o uso de micronutrientes, os quais também podem influenciar positivamente no desenvolvimento da arquitetura radicular.
Na cultura do milho, estudos têm demonstrado que o tratamento das sementes com molibdênio (Mo) e zinco (Zn) apresenta os efeitos mais relevantes, devido à atuação destes nutrientes na síntese e ativação de enzimas envolvidas na produção de hormônios vegetais importantes para o desenvolvimento das plantas.
Na soja, além destes elementos, o boro (B) e o cobalto (Co) também têm sido responsáveis pelas maiores respostas no desenvolvimento da cultura.
Atenção!
De modo geral, as sementes de todas as culturas comerciais podem ser tratadas, com atenção à dosagem recomendada do produto para a espécie em questão. No caso do tratamento das sementes com micronutrientes, deve ser considerada a análise de solo a fim de verificar os micronutrientes já disponíveis no solo.
Quanto à forma de se realizar o tratamento das sementes, atualmente existem duas opções: o tratamento de sementes industrial (TSI) e o tratamento on farm (“na fazenda”). O TSI é realizado na própria indústria por meio de equipamentos específicos que garantem a adequada cobertura das sementes, sem afetar sua integridade física, além de trazer benefícios relacionados à saúde do trabalhador rural e à proteção ambiental.
Já o tratamento on farm é realizado pelos próprios produtores imediatamente antes da semeadura, por meio da utilização de betoneiras, tambores ou máquinas específicas para o tratamento de sementes, e consiste na opção mais utilizada pelos produtores devido ao baixo custo.
Porém, é importante salientar que ao optar pelo tratamento das sementes on farm, o produtor deve contar com o auxílio de um responsável técnico para a recomendação de produtos e dosagens, bem como para o correto manuseio durante o tratamento e período de exposição das sementes aos produtos.
Além disso, outro aspecto que merece atenção e precaução está relacionado à utilização de diferentes produtos em conjunto, a fim de evitar o possível efeito tóxico às sementes e às plântulas, bem como evitar qualquer impacto ambiental devido ao excesso de produtos utilizados.
Por este motivo, recomenda-se a utilização de produtos que já tenham em sua formulação a combinação dos defensivos/produtos de interesse.
Viabilidade
Deste modo, considerando todos os benefícios relacionados ao controle sanitário, além da tolerância a interferências climáticas como o estresse hídrico, verifica-se que o tratamento de sementes é uma técnica de baixo custo quando comparada às perdas que podem ocorrer por sua não realização.
Estes fatores, somados ao aumento no rendimento da cultura, tornam claras as vantagens da utilização do tratamento de sementes, desde a semeadura até a colheita.