Autores
Fabio Olivieri de Nobile
Doutor e professor – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (Unifeb)
fabio.nobile@unifeb.edu.br
Maria Gabriela Anunciação
Graduanda em Engenharia Agronômica – Unifeb
O milho é uma das principais culturas cultivadas no Brasil, uma vez que se estende por todo o território nacional sob diversos níveis tecnológicos e interage com diversos setores do mercado financeiro. O grão é utilizado na alimentação animal, participando indiretamente da exportação de carne, no entanto, os produtos à base de milho são bem aceitos pela população em todas as regiões do País, além do setor de polímeros e de energia.
Tamanha importância faz com que duas concentrações de cultivo sejam pertinentes no País: a primeira safra ou safra de verão, que vai de agosto a novembro, dependendo da região e, posteriormente, a safrinha ou safra de sequeiro, sendo que esta última se dá após o cultivo de soja precoce nos meses de fevereiro a março.
Muitos são os entraves que impedem que todo o potencial produtivo da cultura seja externado, portanto, o planejamento é indispensável, desde a escolha correta da cultivar conforme os níveis tecnológicos e condições climáticas da região até o manejo nutricional e fitossanitário.
Desafios
Um dos principais problemas que acomete praticamente todos os solos agricultáveis do Brasil são os nematoides. Praga de solo, os nematoides colonizam o sistema radicular, podendo causar diferentes tipos de lesões, dependendo da espécie. No entanto, os sintomas visuais vão desde o engrossamento e diminuição da massa radicular à destruição parcial acompanhada de lesões escuras.
Fato é que o complexo de injúrias causado pelos nematoides vai comprometer o funcionamento fisiológico das plantas, de forma que a absorção e translocação de nutrientes e água serão afetados. Na parte aérea, é possível identificar reboleiras e plantas com crescimento irregular, além da murcha das plantas, em função dos danos na absorção de água.
Dentre as principais formas de controle está a resistência e tolerância genética e a rotação de culturas, sendo o último essencial, porém, de difícil implantação, visto que os nematoides são incrivelmente polífagos. Dessa maneira, quando em sucessão com soja e algodão, por exemplo, há um incremento na população de nematoides no solo.
Outro fator que, apesar de melhorar os aspectos físico-químicos do solo, acaba por influenciar, é o uso do Sistema de Plantio Direto (SPD), pois a permanência de raízes da cultura anterior no solo acaba por funcionar como fonte de sobrevivência e, consequentemente, permite a reprodução dos nematoides.
Tratamento de sementes
Devido à facilidade de aplicação, os nematicidas, no geral, são aplicados no sulco de semeadura. A utilização de produtos no tratamento de sementes, porém, tem se mostrado opção vantajosa e interessante, especialmente por proteger as plântulas no estádio inicial, permitindo que esta possa desenvolver o sistema radicular.
Além disso, aumentos de produtividade podem ser observados quando as sementes são submetidas a este tipo de tratamento – tal fato pode ser explicado de maneira bem simples: o estabelecimento das raízes é um ponto crítico para que o potencial da cultura seja alcançado, e isto se dá nos estádios inicias.
No mercado existem diversos tipos de produtos, desde altamente seletivos, em função da seletividade quanto a proteínas mitocondriais até produtos cujo uso no desenvolvimento inicial irá integrar o combate a pragas gerais do solo e, por conta disso, apresentam ação nematicida, inseticida e fungicida.
Os produtos divergem também entre químicos e biológicos. Os produtos químicos prometem proteção na superfície radicular, enquanto que os biológicos possuem variabilidade quanto ao modo de ação.
Existem bactérias benéficas capazes de induzir resistência, produtoras de toxinas que vão afetar os nematoides e até mesmo gerar antibiose. Isso também é válido para fungos simbióticos que podem colonizar as raízes e auxiliar no combate aos nematoides.
Novidades
Fato é, porém, que diversas multinacionais estão com produtos altamente eficazes no mercado, alguns mais antigos que os outros. A novidade fica por conta dos produtos biológicos que estão ganhando cada vez mais espaço na agricultura moderna.
Diversos relatos científicos demonstram que, mesmo em dosagens muito baixas, os produtos apresentam eficiência e cumprem o propósito de garantir que a cultura do milho chegue ao fim do ciclo e responda de maneira eficiente aos gastos de implantação.
Um dos principais produtos do mercado apresenta dosagem de 800 mL para cada 100 kg de sementes, sendo esta a dosagem máxima. A dosagem pode ser ajustada conforme o nível de infestação da área e o material genético utilizado, ou seja, cultivares sem nenhum tipo de resistência ou áreas altamente infestadas devem ter dosagem ajustada.
Além disso, é na etapa da escolha do nematicida que pode ocorrer um erro grave: qual tipo de nematoide a área apresenta com maior severidade? A resposta da pergunta está diretamente envolvida com o sucesso ou falha da aplicação, seja em semente ou sulco de semeadura.
Isso se deve ao fato de que não necessariamente um nematicida será eficiente a mais de uma espécie de nematoide, portanto, amostragens visuais e contagem em laboratório são armas que não podem ser dispensadas nas lutas contra nematoides.
Viabilidade
O tratamento de sementes é uma prática que vale a pena – resultados demonstram reduções de nematoides nas raízes de até 60%. Considerando a proporção que os nematoides possuem em reduzir a produtividade, não há dúvidas da necessidade de controlar e suprimir a população. Além disso, devido à falta de conhecimento técnico, muitas das áreas são afetadas e os sintomas são confundidos com deficiência nutricional ou fitopatógenos.
Sendo assim, ao identificar reboleiras e plantas anormais, verifique as raízes das plantas e a formação de estruturas características de cada espécie de nematoide, lembrando que o milho pode ser atacado por múltiplas espécies que, além dos estragos característicos, podem abrir portas e formar complexos com outros patógenos oportunistas que vão se aproveitar da lesões e enfraquecimento da planta. Isso porque o desbalanço nutricional causado pelo distúrbio fisiológico torna a planta propensa a ser afetada tanto por fatores bióticos quanto abióticos.
Vale lembrar que as técnicas de aplicação, independente do modo, fazem parte da eficiência do produto. No caso de controle de nematoides pelo tratamento de sementes, por exemplo, deve-se levar em conta as condições edafoclimáticas – há relatos de que em ocasiões de seca excessiva a solubilidade do produto é afetada.
Outro fator de importância é saber qual espécie de nematoide está ocorrendo com maior intensidade no campo e a quantidade de nematoides. Em áreas de extrema infestação talvez seja necessário aplicar mais de uma técnica de controle por meio dos três vértices básicos do controle: rotação de cultura, cultivar resistente e uso de nematicidas.