Evaldo Tadeu de Melo – Técnico de Setor de Fruticultura da UFLA e sócio proprietário da Guatambu Agrossustentável – evaldotadeumelo@hotmail.com
O abacateiro Persea americana pertence à família Lauraceae, possuindo três centros de origem: México, Guatemala e Antilhas. Existem, no mundo todo, mais de 500 variedades de abacateiros, o que explica as diferenças na forma, tamanho, cor, épocas de maturação e adaptabilidade a diversos locais e altitudes de plantio.
Embora suas flores sejam hermafroditas, ou seja, completas, o abacateiro tem um processo de floração que dificulta a autopolinização. Este fenômeno é conhecido por dicogamia protogínica. A abertura da parte feminina da flor (estigma receptivo) é sempre anterior à abertura da parte masculina da flor (anteras abertas).
Tipos
Podemos considerar dois grupos de abacateiros, quanto ao seu comportamento floral, A e B. Nas plantas do grupo A, as flores abrem pela manhã, na fase feminina, e por volta do meio-dia as flores fecham e só voltam a abrir no dia seguinte, aproximadamente na mesma hora, com as anteras abertas.
Nas plantas do grupo B, as flores abrem durante a tarde, com o estigma receptivo e ao entardecer as flores fecham, abrindo na manhã seguinte com as anteras abertas.
Com isso, é necessário que existam duas variedades de grupos distintos próximas, para que ocorra uma boa polinização e, consequentemente, uma frutificação comercialmente viável.
As mais plantadas
No Brasil, as cultivares mais plantadas são:
– Geada (B) – possui fruto grande de casca lisa e formato piriforme É o abacate mais precoce plantado no Brasil. Sua safra ocorre entre dezembro e fevereiro, e o fruto possui pouca gordura e muita água, por isso é considerado mais aguado, e quando entra a safra de outras variedades em meados de Fevereiro, o consumidor acaba rejeitando-o por essa característica.
– Fortuna (A) – é a variedade que atinge maior tamanho de frutos, alcançando facilmente 1,0 kg cada fruto. Possui boa aceitação pelo consumidor brasileiro. Sua safra estende desde fevereiro até agosto, dependendo da região de cultivo.
– Quintal (B) – possui frutos grandes, sendo facilmente diferenciado das demais variedades pelo seu formato com pescoço alongado, casca lisa e brilhante, o que chama muito a atenção do consumidor. Sua safra vai de fevereiro a julho, coincidindo com a safra do Fortuna.
– Ouro Verde (A) – possui casca verde escura e rugosa, sendo cultivado em menor escala. Sua safra é concentrada entre julho e agosto, época de grande oferta da fruta no mercado.
– Breda (A) – possui formato de gota e casca lisa, verde brilhante, sendo muito apreciado pelo consumidor do Sul e Sudeste brasileiro. Sua safra vai de julho a novembro, entretanto, quando a colheita é realizada muito tardiamente, ele apresenta bianuidade muito acentuada, produzindo ano sim, ano não.
– Margarida (B) – é facilmente diferenciado das demais variedades pelo seu formato redondo e casca rugosa. Apresenta caroço pequeno e um grande rendimento de polpa, sendo muito apreciado pelos consumidores do nordeste brasileiro. Sua safra vai de maio a novembro.
– Hass (A) – também conhecido como avocado, possui casca rugosa e é o menor dos abacates cultivados por aqui. Sua safra é bem extensa, dependendo da região de plantio, indo de março até outubro. É a variedade mais cultivada em todo o mundo. Sua polpa é bem concentrada em lipídeos e sólidos solúveis, sendo consumido principalmente em pratos salgados. Além disso, é a principal variedade utilizada para extração de azeite, devido ao seu alto teor de lipídeos, que pode chegar a 20%.
Como escolher sem erros?
A escolha da melhor variedade para o plantio depende de diversos fatores. Um dos principais pontos a se considerar é a época de maturação, pois, embora possamos encontrar abacate nos supermercados o ano todo, as principais variedades plantadas no Brasil concentram a maturação dos frutos entre março e agosto, o que leva à redução dos valores pagos pelo fruto nesta época.
Para amenizar esta situação e ofertar o fruto o ano todo, os produtores de regiões mais quentes devem optar por variedades mais precoces que, associado às altas temperaturas de tais regiões, antecipam suas colheitas, ofertando a fruta a partir de dezembro com a variedade Geada, seguida pelas variedades Fortuna e Quintal.
Já os produtores de regiões mais frias, como as serras do Sul de Minas, por exemplo, devem optar por variedades tardias, que com as temperaturas mais amenas atrasam a maturação e esses frutos podem ser colhidos a partir de julho até novembro, para as cultivares Margarida e Breda.
Base do sucesso
O plantio é a base do sucesso da lavoura. Tudo começa com a escolha da área – o abacateiro não tolera solos encharcados e demasiadamente pesados, necessitando, em alguns casos, da construção de camalhões, o que onera o custo de implantação. Quando possível, dar preferência por solos mais arenosos e bem drenados, além de uma boa correção do solo, que sempre deve ser baseada na análise de solo e nunca em “receitas de bolo”.
Outro fator de extrema importância é a muda, pois ela carrega todo o potencial genético da futura planta, além de poder estar levando pragas e doenças que não existam na propriedade. Sempre adquirir mudas de viveiros idôneos com Renasem, registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Além disso, é importante visitar o viveiro antes de adquirir as mudas e conferir a qualidade das matrizes, o tipo de substrato utilizado, dar preferência por mudas produzidas em substratos comerciais esterilizados, pois quando se usa a tradicional mistura de terra, areia e esterco como substrato, é possível levar nematoides e outros fungos de solo para propriedade.
Outro grave problema relacionado a adquirir mudas de viveiros desconhecidos, além da qualidade das mudas, é a garantia de qual variedade está sendo comprada, pois alguns viveiros, por má fé ou por desorganização, não possuem controle, e acabam vendendo os chamados “gatos por lebre”.
O produtor compra a muda, investe milhares de reais por hectare, espera três a quatro anos para colher a primeira safra, e quando vai ver não é a variedade comprada, não é a que produz na época esperada para sua região ou, ainda, muitas vezes são cultivares pouco comerciais. E aí, vai reclamar com quem? O viveiro emitiu nota fiscal das mudas?
Uma muda saudável, vigorosa e com garantia de procedência, é fundamental para se ter um abacateiro produtivo e precoce, trazendo retorno do investimento feito no menor tempo possível, garantindo a viabilidade da lavoura.