Leandro Luiz Marcuzzo
Professor e pesquisador – Instituto Federal Catarinense-IFC/Campus Rio do Sul
leandro.marcuzzo@ifc.edu.br
No cultivo de cebolas, o uso de variedades resistentes é um aliado primordial no manejo integrado de doenças e não tem custo adicional durante o ciclo da cultura, pois já vem inserida geneticamente na variedade.
Depois das medidas preventivas, é o segundo melhor método de controle dentro do manejo integrado e visa uma agregação fundamental para o manejo fitossanitário.
Alerta
Entre as principais doenças foliares da cebola estão o míldio, causado por Pernospora destructor, a queima das pontas, por Botrytis squamosa, a mancha púrpura causada por Alternaria porri e antracnose foliar, cachorro quente ou mal de sete voltas, por Colletotrichum gloeosporiodes f.sp. cepae
Míldio
Os primeiros sintomas podem ser observados em qualquer estádio de desenvolvimento da cultura, tanto em folhas como em hastes florais aparentemente sadias, por meio da formação de eflorescência acinzentada constituída por zooporângios e zoosporangióforos do patógeno.
Com a evolução da doença ocorre descoloração do tecido afetado, o qual adquire tonalidade verde mais clara do que as regiões sadias das folhas. Ao aumentarem de tamanho, as manchas se alongam no sentido das nervuras e, em seguida, tornam-se necróticas.
Como nas condições brasileiras não tem sido relatada a formação do oósporo, a sobrevivência do patógeno se dá por meio de bulbos e plantas remanescentes na lavoura.
Plantas de cebolinha-verde próximas à lavoura também se constituem fonte de inóculo. A disseminação pode ocorrer pela água ou correntes de ar. Temperaturas abaixo de 22ºC e umidade relativa do ar acima de 95% são ideais para o desenvolvimento do patógeno.
Queimas das folhas
Os sintomas são pequenas manchas que podem aumentar de tamanho, permanecendo isoladas. Em alta intensidade, causam a seca da folha, que evolui rapidamente em forma de queima descendente da folha.
Em condições de alta umidade e temperaturas amenas, pode-se observar sinais do patógeno com esporulação abundante nas pontas necrosadas das folhas, culminando em aspecto de veludo acinzentado.
De maneira geral, a queima das pontas é favorecida por temperaturas mais amenas, com seu ótimo de desenvolvimento em torno de 20°C. Temperaturas acima de 25°C desfavorecem a ocorrência da doença e esporulação do patógeno, sendo que a partir de seis horas de molhamento foliar, o patógeno já consegue iniciar a esporulação.
A severidade é crescente em função de um maior período de molhamento foliar. Estudos sobre a importância da transmissão do patógeno via sementes ainda são controversos.
Mancha púrpura
As folhas atacadas pela mancha púrpura são inicialmente amareladas, com posterior coloração lilás-avermelhada. À medida que a doença evolui, forma anéis concêntricos característicos, de coloração marrom a cinza escuro, correspondentes às frutificações e estruturas de reprodução do fungo.
As lesões podem crescer e coalescer, levando à morte das folhas. Eventualmente, bulbos podem ser atacados. O patógeno também ataca as inflorescências, causando perdas na produção de sementes.
O fungo se adapta a uma ampla faixa térmica, porém, com ótimo de desenvolvimento entre 21 e 30°C, ou seja, é um patógeno que causa maiores danos em regiões ou épocas com temperaturas mais elevadas.
Por ser dependente de água livre para esporulação, umidades relativas maiores que 90% são ideais para seu desenvolvimento e multiplicação. De maneira geral, folhas mais velhas são mais suscetíveis ao patógeno.
Danos causados por insetos, como o tripes, facilitam a penetração do fungo. É importante salientar que a maior ocorrência desse inseto se dá em épocas com temperaturas mais elevadas, o que coincide com a condição ideal de progresso da doença.
Antracnose
A doença pode ocorrer em reboleiras e as folhas apresentam enrolamento, curvatura e amarelecimento das folhas. Nas folhas e no pescoço pode-se observar a formação de lesões com pontuações escuras, concêntricas, que são as estruturas do fungo.
Essas lesões podem crescer e provocar a morte das folhas, com consequente redução do tamanho dos bulbos.
Temperaturas entre 23 e 30°C são ideais para a germinação e infecção dos conídios nas folhas da cebola. O fungo pode ser disseminado a longas distâncias por sementes contaminadas.
A transmissão via sementes torna-se um importante aspecto epidemiológico, uma vez que pode introduzir o patógeno em áreas onde o mesmo não ocorria. A transmissão a curtas distâncias (dentro da lavoura) ocorre por respingos de chuva e/ou irrigação, associados a ventos fortes.
Isso significa que a irrigação por aspersão pode favorecer a ocorrência de uma epidemia na lavoura, desde que haja ambiente favorável e hospedeira altamente suscetível.
Variedades resistentes
Deve-se dar preferência às variedades que tiverem maior cerosidade foliar, pois é um dos fatores que diminui a infecção. A variedade vai depender das condições de cultivo de cada local e das características produtivas escolhidas, já que são fornecidas as características pelas empresas de sementes.
A variedade pode ser recomendada conforme as características locais de produção e das condições de mercado.
A área foliar sadia das variedades resistentes faz com que a planta tenha maior fotossíntese e, consequentemente, maior produtividade e qualidade dos bulbos.
Desafios
As condições de cultivo, como densidade de plantas, nutrição balanceada e controle fitossanitário, são obrigatórias para a redução da intensidade da doença, pois sabe-se que a resistência não consegue controlar as doenças isoladamente.