Autor
Paulo Popp
Engenheiro agrônomo e consultor da Paulo Popp Consultoria Agrícola Ltda
rppopp@netpar.com.br

Depois de o setor in natura passar pela pior crise de rentabilidade (2017-18) dos últimos 20 anos, em 2019, finalmente, bataticultores registram um ano de recuperação. No entanto, nem todos usufruem deste bom momento. A crise de 2017-18 resultou na saída de muitos produtores da atividade, com alguns em recuperação judicial e outros precisando reduzir os investimentos em 2019 por falta de caixa.
A causa foi uma combinação de fatores, a começar por um longo período de baixa produtividade devido ao calor e seca nas safras das águas, verão e secas, principalmente no Sul do País desde o segundo semestre de 2018. Já em 2019, os primeiros meses de plantio sofreram com muita chuva, que atrasaram e prejudicaram o plantio e desenvolvimento das lavouras.
O segundo fator foi a real redução em todas as áreas de produção. Esta redução de área foi variada entre cada safra e região, chegando a quase 20% em alguns locais e épocas. Foi influenciada em parte pela descapitalização dos produtores; pela substituição por outras culturas e menor disponibilidade de sementes.
Em termos econômicos
Estima-se que o Brasil cultive anualmente 115.000 hectares de batatas, o que deve representar um valor aproximado de R$ 4,5 bilhões em custos de produção. A área plantada no mundo está entre 17 a 18 milhões de hectares/ano, e o Brasil tem entre 115.000 a 120.000 hectares nos últimos anos – 2019 deve ter uma redução de área plantada próxima de 15%.
A produção anual no mundo está em aproximadamente 380 milhões de toneladas. As últimas estatísticas da FAO, de 2016, apresentam uma produção mundial de 376,8 milhões de toneladas. Já o Brasil produziu entre 3,5 e 3,8 milhões de toneladas nos últimos anos.
Em 2019, a produção deverá ser menor em decorrência da redução da área plantada e clima desfavorável desde o final de 2018 até o primeiro trimestre de 2019.
O Estado do Paraná é o maior produtor nacional de batatas. Em seguida vem a região do Oeste de Minas Gerais. O restante da produção se distribui entre Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sudoeste de São Paulo, a região de Vargem Grande do Sul em São Paulo; Sul de Minas Gerais, Sul de Goiás e Chapada da Diamantina.
Produtividade e tecnificação
O rendimento médio no Brasil é de 32 ton/ha. A variação se dá entre as diferentes regiões produtoras, mas sobretudo pela época do ano e nível de tecnologia aplicado. Nas épocas de produção das águas e verão (plantios a partir de agosto até dezembro), os rendimentos são muito variáveis, dependendo do clima, principalmente das chuvas.
Nesta época é mais comum o plantio de áreas de sequeiro, sem irrigação, e os rendimentos podem ser desde 20 ton/ha até 35 ton/ha, na média (com poucas exceções de rendimentos acima disto). Os plantios de secas e inverno, quando realizados com irrigação por pivô, apresentam rendimentos entre 30 e 50 ton/ha.
As regiões mais tecnificadas são o Oeste de Minas Gerais, com grande participação na produção nacional; o Sul de Goiás e a região da Chapada da Diamantina, na Bahia. Nestas áreas os rendimentos são mais elevados nos plantios entre abril e junho em campos irrigados por pivô.
Nestas condições, os rendimentos de batata para mercado fresco está entre 40 e 50 ton/ha, podendo chegar a mais de 60 ton/ha. Para batata indústria, esta época é a mais favorável, com rendimentos entre 40 e 60 ton/ha. Outros fatores determinam o resultado do rendimento, como tecnologia aplicada e destino da produção: se é para mercado fresco, indústria de chips e palha ou de palitos pré-fritos congelados.
Os custos de produção são variáveis em função do nível de tecnologia, objetivo da produção, época do ano e região. Lavouras com menor tecnificação estão entre 28 e 35 mil R$/há, incluindo o beneficiamento. Lavouras de alta tecnologia, mecanizadas, irrigadas com sementes de boa sanidade, em torno de 42 a 45 mil R$/ha.
Rentabilidade
A rentabilidade é altamente variável, conforme o comportamento de todas culturas HF. Em 2016, os preços foram dos mais elevados historicamente e a rentabilidade ocorreu com margens bastante altas em algumas situações.
Alguns produtores chegaram a obter mais de 50% de lucro em determinados momentos. Na média foi de 25 a 30%. Em 2017, reduziram para 15 a 25% e, em parte de 2017 e todo o ano de 2018 foram bastante reduzidas, com grande parte do ano cujos preços não cobriam os custos de produção.
Tal situação gerou uma grande crise no mercado e muitos produtores enfrentaram dificuldade para cumprir seus compromissos financeiros. Em 2019 os preços reagiram, mas a margem não foi tão alta em decorrência dos baixos rendimentos observados nas colheitas até metade do ano.
Ou seja, não existe uma estabilidade na bataticultura. É muito variável em decorrência dos rendimentos. Normalmente, quando o preço sobe demais, é porque os rendimentos são muito baixos, reduzindo a rentabilidade.
O que de fato tem ocorrido nas últimas duas décadas é que a rentabilidade da batata não é tão elevada quanto no passado. No caso de batata para indústria com contrato, o preço pago é definido antecipadamente, o que garante ao produtor que tiver custos e rendimentos dentro do esperado, rentabilidade entre 10 e 15%.
Saída é reduzir custo
Investir na qualidade da produção, em sementes de boa sanidade e em tecnologias, como máquinas, sistemas de irrigação, uso racional de insumos e câmara fria para sementes é a melhor receita para reduzir custo.
Planejar um investimento com prazo compatível com o bolso do produtor é fundamental para aumentar o rendimento por área, e também a maior oportunidade de redução de custo. A batata responde proporcionalmente ao investimento; o que se vê hoje é que os produtores mais bem estruturados têm melhor qualidade de produto e custo unitário menor que os demais.
O custo de produção em si não tem muita oportunidade de redução e, insisto: só o aumento da produtividade pode reduzir este impacto.
Outra peça-chave na produção é o uso de variedades de melhor potencial produtivo, de melhor qualidade pós-colheita e mais resistentes a pragas e doenças, o que leva a uma redução do custo unitário de produção.
Competitividade em prova
A batata brasileira tem que melhorar muito sua competitividade. O mercado que mais cresce – independente de qualquer situação econômica do País – é o segmento da batata pré-frita congelada. O Brasil é um dos maiores importadores do mundo deste tipo de produto e a indústria local abastece menos de 1/3 do mercado.
Nossos custos são muito elevados, os rendimentos limitados e a qualidade industrial não é suficientemente satisfatória. Temos que incrementar nossa pesquisa e desenvolvimento direcionados a este segmento de tanta importância. O Brasil importa hoje um volume de batatas pré-fritas congeladas que corresponde a cerca de 20.000 hectares cultivados na Argentina, Bélgica, Holanda e outros países.
Ao mesmo tempo, este produto compete com a nossa batata do mercado fresco, que perde espaço a cada dia. Neste caso, é fundamental a reformulação do nosso mercado fresco com uma segmentação mais definida entre uso culinário, com melhor classificação comercial e identificação da variedade.