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Claudinei Kurtz
Engenheiro agrônomo, doutor em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas e pesquisador da Epagri ” EE Ituporanga
O cobre é um micronutriente que, embora seja absorvido em pequenas quantidades, possui várias funções vitais para as plantas. Este nutriente é constituinte de diversas enzimas, como a oxidase do ascorbato, a citocromo-oxidase, a plastocianina, a fenol-oxidase e a superóxido dismutase.
O cobre também atua em processos fisiológicos de grande importância para o metabolismo das plantas, como a fotossíntese, a respiração, mecanismo de resistência às doenças, efeito tônico, reprodução (formação e germinação grão de pólen), regulação hormonal, fixação de N e no metabolismo de compostos secundários.
Vantagens para a cebola
Na cultura da cebola, a nutrição adequada com o cobre, principalmente no período de bulbificação, pode melhorar a qualidade dos bulbos colhidos. Trabalhos de pesquisa têm demonstrado que o tratamento das lavouras com este micronutriente intensifica a coloração dos bulbos, aumenta a resistência da casca e reduz as perdas de peso durante o armazenamento.
Já na década de 30, nos Estados Unidos, foi evidenciada a importância das aplicações de sulfato de cobre na coloração e qualidade dos bulbos de cebola. Da mesma forma, técnicos que atuam com a cultura da cebola nas principais regiões produtoras do Brasil (SC, SP, RS, BA e PE) relatam que a aplicação de cobre tem sido realizada visando aumentar a resistência às doenças e incrementar a coloração e a espessura da casca dos bulbos.
Nos catafilos de cebola, um dos principais compostos fenólicos presentes são as quinonas, responsáveis pela intensificação da coloração na casca de cebola do tipo amarela, sendo que a quantidade deste composto é aumentada pela nutrição adequada com o cobre. No entanto, tem-se verificado uma redução do uso deste elemento tanto com o objetivo de nutrição como de produtos com ação fungicida, como o oxicloreto de cobre nas lavouras de cebola no Sul do Brasil.
Cadeia precursora
O cobre, por meio das enzimas polifenol-oxidase e ascorbato-oxidase, é responsável também pela formação de compostos fenólicos precursores da lignina, que torna as paredes celulares mais resistentes. Além disso, estes compostos são precursores de outras substâncias, como a melanina e fitoalexinas, que apresentam grande importância na resistência às doenças e na melhoria da firmeza das folhas e dos bulbos, contribuindo para reduzir doenças e aumentar o período de armazenamento.
Ferreira e Minami (2000), em trabalho de pesquisa realizado no Estado de São Paulo, verificaram que a aplicação em pré-colheita do cobre na forma de oxicloreto de cobre, nas últimas semanas do ciclo, aumentou significativamente a resistência da casca, reduziu a perda de peso dos bulbos, incrementou a intensidade da cor e acentuou a coloração avermelhada dos bulbos.
O cobre também possui efeito tônico sobre as plantas, atuando na inibição da atividade da sintetase do ácido aminociclopropano carboxÃlico, diminuindo a formação do fito-hormônio etileno, promovendo atraso da senescência das folhas e aumento da formação de raízes adventÃcias das plantas.
Na carência deste nutriente os principais sintomas de deficiência são folhas de coloração amarelo-parda, com necrose nas pontas. O bulbo torna-se amarelo e fino, faltando solidez e firmeza pela menor lignificação e redução no transporte de água e solutos.
Deficiência
A ocorrência de deficiência do cobre não é muito comum em solos manejados adequadamente. A disponibilidade do cobre no solo para as plantas pode ser baixa em condições de reduzido teor do elemento no material de origem do solo, alto pH, alto teor de matéria orgânica, excesso de N, P, Zn, K e Ca.
Aplicação
O fornecimento de cobre às plantas pode ser realizado por meio de fertilizantes aplicados ao solo em pré-plantio pelo uso de fórmulas de NPK + Cu ou de produtos específicos como o sulfato de cobre (25% Cu) e óxido de cobre (75% de Cu).
Outra alternativa para o fornecimento deste nutriente via solo é o uso de dejetos, principalmente de suÃnos, que possui concentrações relativamente altas. Pode ser feito também via foliar durante as fases de crescimento vegetativo e bulbificação das plantas de cebola.
A aplicação via foliar pode ser realizada com o sulfato de cobre ou de outros produtos comerciais quelatizados. Nas aplicações foliares usando sais como o sulfato de cobre, a concentração máxima na calda não deve ultrapassar 0,3%.
Recomenda-se, ainda, a realização da aplicação no final da tarde para evitar fitotoxicidez e ocorrência de necrose nas folhas de cebola. Também pode ser fornecido de uma forma indireta com o uso do oxicloreto de cobre, produto com ação fungicida usado de forma preventiva no controle de alguns agentes patogênicos da cebola.