Rafael Simoni
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
rafaelsimoni@gmail.com
O pepino é um alimento de grande demanda no Brasil, e pode ser consumido de diferentes formas, desde cru, em saladas e sanduíches, bem como na forma de picles, conservas e saladas prontas para o consumo, ou “ready to eat”.
Essa última modalidade de consumo vem ganhando cada vez mais aceitação em razão da necessidade de uma alimentação saudável, aliada ao fato de a população urbana não dispor de tanto tempo disponível para o preparo de vários itens de uma salada variada.
Pelo Brasil afora
Os maiores produtores do Brasil são os três estados da região sul, com destaque para Santa Catarina, que responde por aproximadamente 25% da produção nacional, seguido dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
Estima-se, de acordo com dados de 2021, que aproximadamente 60 mil toneladas de pepinos sejam produzidas anualmente para atender à demanda da indústria.
Qualidade em primeiro lugar
No atual contexto agrícola, atender à crescente demanda por alimentos de alta qualidade e seguros para o consumo humano requer uma atenção cada vez maior e mais detalhista na escolha das variedades cultivadas.
O conjunto de prioridades inclui vários fatores como: variedades que sejam adaptadas às condições de solo e clima locais, oferecer resistência às pragas e doenças, o produto deve atender às demandas e exigências do mercado e também deve garantir ao agricultor boa produtividade e, consequentemente, bons resultados financeiros.
Na produção de pepino destinado à indústria alimentícia, os critérios de detalhamento de cultivo tornam-se ainda mais determinantes para assegurar um cultivo eficiente e bem-sucedido.
O produto exige uma cuidadosa validação de cada um desses fatores descritos, uma vez que sua utilização em processamento industrial intensifica a necessidade de consistência na qualidade, resistência e produtividade.
Critérios
Dentre as principais características exigidas pela indústria, destaca-se, principalmente, a padronização dos frutos, os quais devem ter formato circular e retilíneo, com 5,0 a 7,0 cm de comprimento.
Isso assegura um fluxo homogêneo dentro da indústria, minimizando operações de calibragem de máquinas e alterações de protocolos de fabricação, como também um padrão para o consumidor.
Outra característica que deve ser considerada é de que a oferta deve ser o mais constante possível. A estabilidade no fornecimento é essencial para assegurar a eficiência nas operações e atender à demanda do mercado de maneira consistente.
Vantagens para o produtor
Embora a preparação industrial possa estender significativamente a validade do produto final, a indústria se beneficia de volumes estáveis para evitar a necessidade de grandes estruturas de armazenamento de produtos acabados, sem risco de desabastecimento para o mercado.
Para o produtor, as principais vantagens são:
• A demanda sempre constante, o que significa venda garantida da produção;
• É um produto de colheita precoce quando comparado à produção de pepino salada, e isso impacta diretamente em ganhos financeiros mais rápidos;
• Menor pressão de pragas e doenças, diminuindo possíveis custos com pulverizações;
• É um produto versátil, podendo ser empregado em vários tipos de processados.
Mercado
O mercado para pepinos destinados à indústria revela um vasto leque de oportunidades impulsionadas pela notável versatilidade desse vegetal e pela sua demanda abrangente nos diversos segmentos da indústria alimentícia.
A capacidade do pepino de se adaptar a diferentes formas de processamento o torna um componente apropriado em produtos como conservas, picles, snacks saudáveis, saladas embaladas.
Sua presença como ingrediente em alimentos processados atende à crescente procura por opções mais naturais e saudáveis. Além disso, a exportação para mercados internacionais se destaca como uma via promissora.
A constante inovação na incorporação do pepino em produtos alimentícios, como bebidas funcionais e snacks gourmet, amplia ainda mais as possibilidades de crescimento e diferenciação na indústria alimentícia.
No limite
Como desafios, o destaque fica por conta do alto emprego de mão de obra, já que a manutenção da qualidade e preservação dos frutos ainda depende de colheitas manuais. Além disso, o pepino é uma espécie que, na época adequada de cultivo, cresce literalmente da noite para o dia.
Muitas variedades mais produtivas exigem duas colheitas por dia para manter a padronização dos frutos. Outro ponto importante que o agricultor deve estar atento diz respeito às boas práticas de colheita, transporte e armazenamento, para manter a qualidade do produto.
Quanto às pragas e doenças, apesar de geralmente esse cultivo ser menos problemático, o agricultor deve estar atento principalmente ao ataque de ácaros, pulgões e tripes, insetos que causam danos indiretos, bem como ao ataque de brocas, que causam danos aos frutos.
Esses desafios podem ser superados, em parte, pela escolha de variedades cada vez mais adaptadas para essa finalidade. As empresas produtoras de sementes estão em constante trabalho de pesquisa e desenvolvimento de variedades adequadas às condições de cultivo brasileiras, sem deixar de lado a preocupação com a melhoria da qualidade do produto final.
Profissionalização
A capacitação das equipes de trabalho envolvidas também é um fator que contribui positivamente para aumentar a produtividade e a qualidade do pepino produzido. Assim, é fundamental que o produtor esteja sempre atualizado quanto às novas técnicas de boas práticas e repassando isso às equipes de campo, quando necessário.
Portanto, no cultivo de pepino para a indústria, os produtores devem se atentar para diversos aspectos ao longo do ciclo de cultivo. No plantio, a escolha de variedades adaptadas ao clima local, bem como produzir o pepino com as características exigidas pela indústria fazem toda a diferença em termos de retorno financeiro.
A preparação adequada do solo é outro fator decisivo para que a lavoura possa expressar todo o potencial de produtividade. A preparação do solo envolve desde a análise do solo, que deve ser feita por um laboratório de confiança, até a correta aplicação para correção a partir dos dados que a análise mostrar.
A implementação de práticas de irrigação eficientes e o controle de pragas e doenças desde as fases iniciais são essenciais para garantir um crescimento saudável. O monitoramento constante de pragas e doenças, juntamente com a aplicação criteriosa de fertilizantes, assegura a saúde da cultura.
Na fase de colheita, a frequência adequada para garantir a padronização dos frutos é crucial, e a adoção de boas práticas de manejo pós-colheita preserva a qualidade do produto até sua chegada à indústria.
Custos produtivos e rentabilidade
Quanto aos custos de produção, existe uma significativa variação entre as regiões produtoras e mesmo entre produtores da mesma região. Grande parte dessa variação é resultado, principalmente, do nível de tecnificação empregado na lavoura, disponibilidade e valor da mão de obra, visto que tem se observado variações desta última mesmo em municípios vizinhos e demanda por parte das indústrias.
Na maior parte dos casos, o pepino para indústria tem uma rentabilidade expressivamente maior, quando comparada à rentabilidade do pepino salada comum. Tanto isso é notável, que cada vez mais produtores têm recorrido ao cultivo protegido e métodos de fertirrigação mais modernos, tudo para garantir boa produtividade.
Um fato que é importante ressaltar é que os pepinos tipo japonês e holandês ficam em uma posição intermediária no quesito rentabilidade. Essas variedades vêm aumentando a demanda nos últimos tempos, e isso justifica serem ligeiramente mais rentáveis que o pepino salada.
Tendências
Nos últimos anos, o cultivo de pepino para a indústria tem experimentado várias tendências e inovações que podem otimizar significativamente os resultados para os produtores.
Do ponto de vista técnico, a implantação de tecnologias, como o cultivo protegido, gerenciamento da irrigação, uso de técnicas de hidroponia e fertirrigação, o desenvolvimento de variedades mais adaptadas e mais produtivas e a aplicação pontual de fertilizantes, de acordo com a necessidade de cada estágio de desenvolvimento da planta, são ferramentas cada vez mais presentes no setor.
No âmbito mercadológico, a crescente demanda por produtos saudáveis representa uma oportunidade para os produtores. Além disso, a cada dia surgem novas receitas e aplicações para esse tipo de produto.
Por fim, o estabelecimento de relações comerciais sadias entre agricultores e a indústria podem levar benefícios a ambos os lados da cadeia produtiva. Alguns exemplos de associações e cooperativas de produtores demonstram que esse tipo de relação com a indústria fortalece toda a cadeia produtiva em si, pois ao mesmo tempo que a indústria remunera justamente o produtor, este, por sua vez, se sente mais motivado a atender de forma integral as necessidades da indústria.