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Castanheira mostra eficiência na recuperação de solos degradados

A castanheira, além de produzir frutos valiosos, é uma aliada poderosa na restauração de solos degradados.

Cristiane de Pieri
Bióloga e doutora em Proteção Florestal
pieri_cris@yahoo.com.br

Sabe-se que os ecossistemas amazônicos são de suma importância para a regulação ambiental, ricos na oferta de alimento e água, e imprescindíveis na conservação da diversidade biológica e na regulação edafoclimática.

O processo de restauração florestal por meio da castanheira favorece, ainda, a estruturação do solo

Com isso, é de conhecimento de todos a urgência na contenção do desmatamento da Floresta Amazônica, bem como a restauração de áreas de uso agrícola e pecuária degradadas.

Solução

Medidas que corroborem com essa ação são definitivamente necessárias e de cunho urgente, pela necessidade da ciclagem de nutrientes, na manutenção do solo com diversidade biológica, rico e, portanto, produtivo, bem como no manejo e manutenção das áreas degradadas e ainda na diminuição do desmatamento.

O processo de restauração florestal favorece, ainda, a estruturação do solo, e contribui positivamente com o seu banco de sementes, na sucessão ecológica, por possuir ampla base genética, o que auxilia no estabelecimento das plantações.

Neste contexto, destaca-se a espécie nativa da Amazônia, Bertholletia excelsa, conhecida popularmente como castanha-do-pará, castanha, castanheira, castanheira verdadeira, amendoeira-da-américa, castanha-mansa, pertencente à família Lecythidaceae, a qual engloba cerca de 300 espécies, distribuídas em 25 gêneros.

No Brasil está representada por dez gêneros e, aproximadamente, 150 espécies, distribuídas predominantemente na região norte. É uma árvore social, encontrada em grupamentos extensos, associadas a outras espécies florestais de grande porte.

Importância econômica

A castanheira é uma das espécies mais importantes da Amazônia e uma das mais exploradas pelas comunidades extrativistas devido ao seu valor alimentício, aliado ao seu potencial econômico.

É uma árvore de uso múltiplo: aproveitamento da madeira e também a dos frutos, que são apreciados tanto no Brasil como no exterior. B. excelsa é capaz de produzir frutos por mais de 40 anos, com baixo ou nenhum aporte de nutrientes.

Montagnini (1997) aponta espécies florestais com capacidade de produzir grande quantidade de biomassa, assim, tendo um bom aporte de nutrientes como sendo uma das principais habilidades arbóreas para ser utilizada na recuperação de áreas degradadas e em solos pobres em nutrientes, características essas atribuídas à castanheira.

Estudos

Pesquisas da Embrapa com plantações de castanha-do-pará (Bertholletia excelsa) indicam que a espécie é eficiente para a recuperação de solos degradados em áreas onde a floresta foi removida. Este é um resultado muito promissor para a recomposição de florestas no bioma Amazônia, onde existem, atualmente, mais de 5,0 milhões de hectares de solos que precisam ser restaurados.

Alguns autores citam a importância desta espécie como excelente opção para plantios sustentáveis em áreas degradadas, pois ela se desenvolve bem em solos pobres em nutrientes, com boa drenagem e estrutura. 

Seu rápido crescimento e estabelecimento se dá pelas respostas positivas na absorção de nutrientes (devido ao sistema radicular extremamente profundo e por não apresentar raízes tabulares, o que contribui para sua melhor fixação no solo) como nitrogênio, fósforo, magnésio, potássio, zinco, sódio, entre outros.

Acredita-se que a riqueza da castanheira em selênio está relacionada à similaridade química com o enxofre, elemento este deficiente nos solos amazônicos. Em plantios abertos, apresenta índice de 95% de sobrevivência e, alta longevidade das árvores. 

Várias pesquisas vêm sendo realizadas ao longo dos anos na Amazônia e mostram a eficiência da castanheira na recuperação de solos degradados. Os resultados do trabalho de Salomão e colaboradores de 2006 e 2014 testaram o crescimento e desenvolvimento da espécie 30 anos após a mineração de bauxita, os quais demonstram a efetividade de B. excelsa para o plantio em áreas intensamente degradadas da Amazônia devido a sua adaptabilidade e excelente crescimento.

Recuperação de áreas

Além de áreas de mineração, as pesquisas abrangem também o uso da espécie na recuperação de áreas que antes eram pastagens.

Nessas pesquisas, comparou-se também a respiração do solo (temperatura, umidade, nutrientes e níveis de oxigênio) e a emissão de gases nos diferentes ecossistemas. Como conclusões, evidenciou-se que a castanheira apresenta níveis satisfatórios na qualidade do solo.

Ou seja, a espécie melhora a disponibilidade hídrica, as características físicas, químicas e biológicas, aumentando a biodiversidade microbiana do solo, o que acarreta em melhor ciclagem de nutrientes e aproveitamento dos nutrientes pela planta.

Com isso, há bom desenvolvimento da espécie, gerando biomassa e, portanto, nutrientes, aumentando a riqueza nutricional daquele solo degradado. Além dos inúmeros benefícios ambientais (recuperação do solo e atração da fauna), gera também vantagens econômicas à população da região, com renda e emprego.

Estima-se que os solos com plantios de castanheiras apresentam qualidade superior a 50% em comparação com os solos de pastagem degradados.

O exemplo é uma fazenda localizada em Itacoatiara, no estado do Amazonas, que possui, há mais de 40 anos, mais de um milhão de árvores de castanheira plantadas em uma área de três mil hectares de pastagem degradada. A área, hoje, está totalmente restaurada com a espécie vegetal.

O pesquisador da Embrapa responsável pelos estudos nesta área desde a década de 90 afirma que B. excelsa tem uma estratégia fisiológica totalmente adaptada aos solos pobres em nutrientes.

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