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A seca no Café

Incertezas da cafeicultura brasileira com a perspectiva de florada e uma luz no final do túnel

 

Prof. José Donizeti Alves

Universidade Federal de Lavras

 

o pegamento dessa florada vai depender da regularidade das chuvas daqui para frente. Caso ocorram veranicos intermitentes, a chance de abortamento das flores e queda de frutos ainda no estádio chumbinho é muito grande - Crédito Ana Maria Diniz
o pegamento dessa florada vai depender da regularidade das chuvas daqui para frente. Caso ocorram veranicos intermitentes, a chance de abortamento das flores e queda de frutos ainda no estádio chumbinho é muito grande – Crédito Ana Maria Diniz

As chuvas e perspectiva de florada

Temos observado pequenos episódios de chuvas que desencadearam pequenas floradas no cafeeiro. Parte dessa florada, a dependendo da região, pegou e parte não pegou, ocorrendo o aborto.

Felizmente a principal florada ainda não foi registrada e em função das últimas chuvas e do aumento da umidade relativa do ar e do arrefecimento do calor, ela deve acontecer nos próximos dias. Entretanto, o pegamento dessa florada vai depender da regularidade das chuvas daqui para frente. Caso ocorram veranicos intermitentes, a chance de abortamento das flores e queda de frutos ainda no estádio chumbinho é muito grande.

Condições climáticas atuais, estado das lavouras e a perspectiva de pegamento da florada

Em decorrência das já conhecidas intempéries climáticas ocorridas entre os meses de janeiro a março desse ano, as lavouras não entraram em uma fase fisiologicamente ativa e com isso houve um baixo aproveitamento dos nutrientes orgânicos e minerais. Em um primeiro momento essa inabilidade fisiológica afetou o enchimento dos frutos e culminou em perdas na produção de café desse ano uma vez que, os frutos ficaram menores do que o esperado e, grande parte apresentou-se chochos ou com sementes mal formadas.

Em um segundo momento o forte calor e seca no inicio do ano deixaram os cafezais depauperados e com isso sem reservas e energia para sustentar a safra do ano que vem. Para piorar ainda mais a situação, setembro e outubro que deveriam ser meses chuvosos, apresentaram-se com um regime de chuva muito abaixo da média histórica. Portanto, a recuperação do metabolismo da planta, já ausente entre os meses de janeiro a março não aconteceu. Com isso, caso a chuva se regularize, ela vai ser suficiente apenas para garantir o pegamento das flores e o estabelecimento inicial da frutificação. As fases posteriores de expansão e granação dos frutos já estarão prejudicadas.

Implicações do atraso da florada no período de frutificação

Normalmente da florada até a colheita do café vão-se em media 240 dias. Esse período se inicia com aumento de temperatura e as chuvas de setembro onde se observam as floradas e finaliza com o período seco e frio em abril/maio com a colheita. Como existe a possibilidade de ocorrência da florada principal até o final do mês, se isso vier a acontecer, o período de frutificação do cafeeiro vai ser diminuído em 45 a 60 dias. Isso implica em dizer que, para que não haja prejuízos no rendimento e produção e em função do menor período entre florada e colheita, os frutos teriam que crescer em taxas significativamente mais rápidas e elevadas do que normalmente ocorreria. Isso ao meu ver é quase impossível de acontecer acha vista o déficit hídrico solo, as elevadas temperaturas e irregularidade das chuvas esperadas para o verão. Aliado a isso, os cafeeiros, devido ao baixo metabolismo entre os meses de janeiro a março e setembro a outubro, encontram-se com baixo nível de reservas e em muitos casos, o nível de energia está no vermelho. Essas lavouras encontram-se, portanto fracas e, por conseguinte, mais susceptível ao ataque de pragas e doenças. Por essas razoes que acredito que haverá uma queda significativa na próxima safra.

 O que fazer daqui para frente?

 Eis um pergunta difícil de ser respondida haja vista que muita das ações depende do que acontecerá com o clima nas regiões cafeeiras. Caso as chuvas sejam mais regulares, deve-se iniciar os tratos culturais que ainda não foram feitos como controle de pragas, doenças e do mato, adubações, etc. Nesse caso, deve-se ter em mente que o retorno em termos de produtividade, a despeito de tudo que se fizer em termos de manejo da lavoura, será menor pelas razões mostradas anteriormente. Além disso, ainda que não seja cientificamente adequado, deve-se ter também uma dose de sorte e isso depende mais de São Pedro do que de nós. Uma boa alternativa que eu vejo para aqueles cafeicultores cujas lavouras encontram-se depauperadas e com perspectivas de baixa safra, é a poda tipo esqueletamento com decote. Essa opção me parece bastante adequada uma vez o cafeicultor vai deixar de colher a próxima safra (safra zero) priorizando a seguinte (safra 100%). Este manejo além de tirar o estresse do cafeicultor, devido a perspectiva de uma violenta queda na produção do ano que vem vai desonerá-lo dos altos custos de produção. Para o ano de 2016, se São Pedro cooperar, ele vai ter um bom retorno em seu investimento. Esta e a luz que vejo no final do túnel e desculpe o humor negro, não é de forma alguma, um trem vindo em nossa direção.

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