Daniel Schurt
Pesquisador da Embrapa Roraima
Entre as doenças que atacam os bananais, destaque deve ser dado à Sigatoka negra, causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, que reduz em maior intensidade a produtividade das áreas. É a doença mais destrutiva da bananeira no mundo, causando manchas foliares que rapidamente coalescem, formando áreas necróticas que reduzem a capacidade fotossintética da planta.
As manchas foliares decorrentes do ataque do fungo podem causar uma redução de até 70% na produção, no caso da doença não ser controlada adequadamente. Gasparotto et al. (2001) registraram perdas de 100% a partir do segundo ciclo de produção nas cultivares Maçã, Prata, Terra e D´Angola na região norte do Brasil.
Sintomas
As manchas foliares provocadas pelo fungo causam severo desfolhamento, reduzindo o tamanho do fruto, penca, cachos e número de cachos. Os prejuízos causados pela Sigatoka negra são imensos, afetando principalmente a qualidade dos frutos, bem como o rendimento.
Controle
Em plantios comerciais de bananeira, onde a doença está estabelecida, o controle químico é muito utilizado, principalmente em materiais suscetíveis. No Brasil, os fungicidas são regulados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e para o controle da Sigatoka negra são recomendados cerca de 36 produtos químicos (MAPA, 2014).
No Equador, estudos de Rangel et al. (2002) mostraram que foram realizadas entre 20 a 30 aplicações de fungicidas para controle da Sigatoka negra. Já na Costa Rica, entre 40 a 50 aplicações, e no México passou de 50 aplicações anuais de fungicidas.
No Brasil, segundo Pereira e Gasparotto (2005), nas regiões úmidas, são necessárias de 40 a 52 pulverizações/ano com fungicidas protetores e de 20 a 28 com fungicidas sistêmicos.
Custo
A Sigatoka negra tem um alto custo social, em função da tecnologia empregada em muitos países não ser acessível a todos os produtores, especialmente aos pequenos, que se tornam os mais prejudicados por essa doença.
Os fungicidas para pequenos produtores muitas vezes são caros, quando utilizam aplicação mecanizada, principalmente em terrenos com topografia forte ondulada. Desta maneira, outras estratégias são necessárias para diminuir o desenvolvimento da doença, as perdas causadas pelo patógeno e os altos custos destes controles.
Melhoramento
No Programa de Melhoramento Genético da Bananeira da Embrapa Mandioca e Fruticultura foram desenvolvidos vários genótipos que possuem tolerância à Sigatoka negra, e uma das cultivares que se destaca neste programa é a BRS-Japira.
A variedade de banana BRS-Japira é um híbrido tetraploide (AAAB), gerado pelo Programa de Melhoramento Genético da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, em Cruz das Almas (BA), resultante do cruzamento da variedade Pacovan (AAB) com o diploide M53 (AA).
A BRS-Japira foi avaliada em atividade de pesquisa que consta de uma coleção de cultivares de bananeiras estabelecidas na Embrapa Roraima, em projeto liderado pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical. As avaliações realizadas permitiram descrever as plantas da cultivar BRS-Japira como vigorosas e de porte mediano.
No estudo, avaliando diversas cultivares de banana quanto à resistência a Sigatoka negra, a cultivar que apresentou a maior severidade (quantidade de doença) foi a Grande Naine, com 67% de severidade na folha. Já o genótipo que apresentou a melhor resistência foi a cultivar BRS-Japira, com 1,8% de severidade de doença da folha, considerado muito baixo, demonstrando que a cultivar é muito resistente à Sigatoka negra nas condições de campo.
Importante lembrar que o nível de resistência pode variar de região para região em virtude de fatores climáticos e grau de agressividade da doença.
Alternativas para ajudar a diminuir a doença no campo
É Importante realizar medidas preventivas, pois isoladamente nenhum método ou medida terá sucesso. Por isso, importantes práticas culturais para o manejo da Sigatoka negra são:
ð Selecionar cultivares resistentes;
ð Utilizar mudas certificadas livres de doenças;
ð Controlar os insetos (principalmente as brocas) que depauperam o vigor da planta;
ð Utilizar espaçamento adequado;
ð Realizar o manejo sanitário e retirar folhas doentes;
ð Realizar o manejo adequado dos filhotes junto à planta mãe;
ð Evitar a entrada de pessoas estranhas na área de produção;
ð Não transportar mudas, frutas e folhas de bananeira das regiões afetadas para outras regiões onde não ocorre a doença;
ð Utilizar irrigação, quando necessário;
ð Conservar bons níveis de nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K) e de micronutrientes no solo, pois a deficiência aumenta a propensão das plantas à doença;
ð A não eliminação de plantios velhos e a presença de plantas de banana atacadas pela doença nas estradas de acesso às propriedades contribuem para a manutenção do patógeno na área.