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Doenças da soja: o equilíbrio entre químico e biológico

Integrar produtos biológicos com defensivos químicos é uma estratégia sustentável para controlar pragas, doenças e plantas daninhas, preservando o meio ambiente e garantindo colheitas mais saudáveis

Foto: Jacto

Adilson Pimentel Júnior
Engenheiro Agrônomo, doutor em agronomia e professor – Centro Universitário de Ourinhos (Unifio)
adilson_pimentel@outlook.com

O Brasil é um país de dimensões continentais, com diferentes regiões climáticas. Variações extremas de temperatura, regimes de chuva irregulares e eventos climáticos extremos, como secas prolongadas ou chuvas intensas, podem afetar negativamente o cultivo da soja.

Condições atuais

As mudanças climáticas podem levar ao aumento da incidência de pragas e doenças que afetam a soja, como a ferrugem asiática, os percevejos e as lagartas. Esses problemas fitossanitários podem comprometer a produtividade e a qualidade da safra.

Por outro lado, a escassez de água devido à falta de chuvas ou à má gestão dos recursos hídricos pode levar a situações de estresse hídrico nas plantações de soja. Isso pode resultar em redução do rendimento das plantas e impactar negativamente o desenvolvimento da cultura.

Além disso, as mudanças nos padrões de temperatura e umidade podem favorecer o surgimento e a disseminação de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Isso demanda estratégias de controle mais eficazes e sustentáveis para evitar perdas na produção e o desenvolvimento de resistência das plantas daninhas.

Outro aspecto relevante das variações climáticas está em afetar diretamente a qualidade e a quantidade da colheita de soja. Períodos de seca ou excesso de chuvas durante momentos críticos do ciclo de crescimento da planta podem resultar em menor produtividade, além de afetar a qualidade dos grãos produzidos.

Esses desafios destacam a necessidade de práticas agrícolas adaptativas e sustentáveis, bem como o desenvolvimento de soluções integradas que combinem métodos químicos e biológicos para enfrentar os desafios impostos pelos fatores climáticos na produção de soja.

Manejo integrado

A integração de produtos biológicos com defensivos químicos oferece uma abordagem abrangente e sustentável para o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas na cultura da soja.

O uso exclusivo de defensivos químicos pode levar ao desenvolvimento de resistência por parte das pragas e doenças, tornando os produtos menos eficazes ao longo do tempo. A integração com produtos biológicos pode ajudar a retardar esse processo, reduzindo a pressão seletiva sobre os agentes patogênicos.

Alguns produtos biológicos, como agentes de controle biológico e microrganismos benéficos, podem ajudar a melhorar a persistência e a eficácia dos defensivos químicos. Eles podem atuar como complementos, aumentando a eficácia dos produtos químicos e prolongando sua ação no ambiente.

Os produtos biológicos geralmente têm um impacto ambiental menor do que os defensivos químicos tradicionais. Eles são geralmente menos tóxicos para os organismos não alvo e têm menor potencial de contaminação do solo e da água.

A integração desses produtos pode ajudar a reduzir o impacto ambiental geral do manejo de pragas, doenças e plantas daninhas na cultura da soja.

Dessa forma, a integração de produtos biológicos pode contribuir para a preservação da biodiversidade nos agroecossistemas. Ao promover o equilíbrio natural entre pragas e seus inimigos naturais, esses produtos ajudam a manter populações saudáveis de predadores e parasitoides, reduzindo a necessidade de intervenções químicas intensivas.

Quem ganha?

Adotar práticas agrícolas mais sustentáveis, como a integração entre o químico e o biológico na produção de soja traz uma série de benefícios, tanto para os produtores quanto para o meio ambiente.

A integração de produtos biológicos reduz a dependência de defensivos químicos, o que pode resultar em menor toxicidade para organismos não-alvos, como insetos polinizadores e predadores naturais de pragas. Os produtos biológicos geralmente têm um perfil ambiental mais favorável do que os defensivos químicos, reduzindo a contaminação do solo, da água e do ar.

Outro fator importante para adotar juntamente com os manejos de aplicações é o uso de outras práticas sustentáveis, como rotação de culturas e incorporação de matéria orgânica, para promover a saúde do solo, aumentando sua capacidade de retenção de água e nutrientes e reduzindo a erosão.

Somada aos produtos biológicos, a técnica pode reduzir a necessidade de aplicações frequentes de defensivos químicos, resultando em economia de recursos financeiros, energéticos e hídricos.

O equilíbrio total

Não podemos deixar de comentar que os consumidores estão cada vez mais preocupados com a sustentabilidade e a segurança alimentar. A produção de soja com práticas agrícolas sustentáveis pode abrir portas para mercados mais exigentes e com maior valor agregado.

Atualmente, há várias tendências de pesquisa e desenvolvimento de soluções para o manejo de doenças da soja que buscam equilibrar o uso de produtos químicos e biológicos.

Pesquisadores estão focando no desenvolvimento de cultivares de soja geneticamente modificadas para serem mais resistentes a doenças específicas, como a ferrugem. Essas cultivares reduzem a necessidade de aplicação de defensivos químicos.

Também existem diversos estudos sobre o microbioma do solo que estão ganhando destaque, pois mostram que certos microrganismos benéficos podem suprimir a atividade de patógenos. Isso leva ao desenvolvimento de produtos biológicos que promovem a saúde do solo e a resistência das plantas.

Eficácia

Outra área em que a pesquisa está avançando, é na identificação e formulação de biofungicidas eficazes, que consistem em microrganismos ou compostos naturais que controlam doenças de forma biológica.

Além disso, bioestimulantes são desenvolvidos para fortalecer a capacidade das plantas de resistir a doenças. Abordagens integradas que combinam diferentes métodos de controle, como rotação de culturas, uso de cultivares resistentes, aplicação de produtos biológicos e químicos de forma seletiva estão sendo pesquisadas para maximizar a eficácia e reduzir os impactos ambientais.

Limitações

Os desafios referentes a essa integração de manejo são os custos, sendo que os produtos biológicos podem ter um custo inicial mais elevado do que os defensivos químicos convencionais, o que pode representar um desafio financeiro para os produtores.

Além disso, implementar estratégias de manejo integrado requer um conhecimento aprofundado dos diferentes agentes de controle, bem como das interações entre eles. Isso pode ser desafiador para os produtores sem acesso a informações e suporte técnico adequados.

Foto: Jacto

Outro fator limitante é o risco de que pragas e patógenos desenvolvam resistência aos produtos biológicos, assim como já ocorre com os defensivos químicos. Portanto, é essencial usar esses produtos de forma consciente e integrada a outras estratégias de manejo.

Por outro lado, existe as oportunidades, sendo uma das principais, a sustentabilidade, ao reduzir a dependência de defensivos químicos e preservar a saúde do solo e da biodiversidade.

Além disso, produtos agrícolas produzidos de forma sustentável têm uma demanda crescente em mercados internacionais exigentes. Os produtores que adotam o manejo integrado podem acessar esses mercados e obter preços mais altos para seus produtos.

A diversificação de métodos de controle torna as plantações mais resilientes a flutuações ambientais e pressões de pragas e doenças, reduzindo os riscos de perdas de produtividade.

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