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Pesquisas com bioinsumos avançam rumo às florestas

Crédito Pedro Francio

Cristiane de Pieri
Doutora em Patologia Florestal e especialista em Bioinsumos
pieri_cris@yahoo.com.br

Os bioinsumos nada mais são que produtos ou processos agroindustriais desenvolvidos a partir de enzimas, extratos, sejam eles de origem botânica ou microbiológica) ou ainda, microrganismos, macrorganismos, metabólitos secundários e feromônios.

São empregados para o enraizamento de mudas, para promover o crescimento e o desenvolvimento vegetal com a mineralização e absorção de nutrientes, minimizar o estresse abiótico, como por exemplo o hídrico, atuam na regeneração do solo ou ainda para induzir resistência à planta e para utilização no controle biológico de pragas e doenças.

Avanços

Os produtos biológicos tiveram exponencial crescimento nas últimas duas décadas no setor agrícola, e no setor florestal os resultados têm sido tão satisfatórios quanto, devido a sua multifunção.

De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), somam-se mais de 50 milhões de hectares com a utilização de bioinsumos, onde aproximadamente 40 milhões de hectares são cultivados com bactérias promotoras do crescimento de plantas (BPCP) e em cerca de 10 milhões de hectares são utilizados outros bioinsumos, como para controle de pragas e doenças.

Inúmeros são os trabalhos que vêm sido desenvolvidos com bactérias, principalmente as endofíticas (aquelas presentes em todas as espécies vegetais, as quais podem permanecer no estado de latência ou ativa, colonizando os tecidos de forma local ou sistêmica) para avaliação da promoção do crescimento vegetal.

As pesquisas envolvem indução do crescimento, seja para solubilização de fósforo, sideróforos, nitrogênio, entre outros elementos, seja para o controle de alguns tipos de estresse e ainda para a resistência a pragas e doenças.

Há, ainda, espécies de bactérias metonotróficas (bactérias aeróbias que utilizam o CH4 como única fonte de carbono para o seu crescimento).

Em testes

Dentre as principais bactérias testadas e com excelentes resultados, encontram-se as espécies de bacilos: Bacillus aryabhattai, B. subtilis, B. pumilus e B. licheniformis. Ainda, as rizobactérias (espécies dos gêneros Rhizobium sp. e Bradyrhizobium sp.), as quais suprem as necessidades das espécies vegetais com antibióticos, hormônios do crescimento, solubilização de fósforo e ferro, absorção de nitrogênio, proporcionando maior adaptabilidade e maior enraizamento para as espécies vegetais.

O gênero Pseudomonas sp. contém substâncias interessantes para a planta, como a produção do ácido indolacético (AIA), um hormônio que favorece o crescimento vegetal e, além de auxiliar na solubilização e absorção de fosfato, defende também a planta contra agentes causadores de doenças.

Dentre os fungos estudados e com resultados proeminentes estão, além do já conhecido gênero Trichoderma sp., os denominados como dark septate (devido à morfologia das suas estruturas vegetativas), que promovem alto enraizamento e desenvolvimento das mudas florestais em viveiros e adaptabilidade no campo.

Há, ainda, os denominados fungos micorrízicos arbusculares (FMAs), os quais desempenham um papel de suma importância em processos de restauração florestal, ao favorecerem a estruturação e estabilidade do solo, além de conferir às espécies florestais maior tolerância ao estresse hídrico (abiótico) e a doenças (estresse biótico).

Benefícios para as mudas

Estima-se que a abundância dos FMA esteja na capacidade de formar associações simbióticas com mais de 80% das espécies vegetais terrestres.

Essa simbiose em mudas florestais pode gerar diversos benefícios, como a redução de danos no transplantio, maior índice de pegamento de mudas, redução no tempo da formação destas no viveiro, além de maior produção no que tange as substâncias de reserva, e aumento na absorção de nutrientes como notadamente o fósforo, ademais de outros nutrientes como o cobre, o magnésio e o zinco, os quais são pouco móveis para as espécies florestais.

Tais resultados foram obtidos por vários pesquisadores na prospecção de mudas florestais nativas e comerciais, como aroeira pimenteira, angico, garapa, braúna, acácia, eucalipto, pinus, entre outras.

Outras espécies beneficiadas

Para acácia negra, espécie exótica, originária da Austrália, utilizada devido à extração de tanino em curtumes e estações de tratamento de água, as pesquisas da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), por meio do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA), investiga a associação de bactérias à raiz da planta capazes de promover maior fixação de nitrogênio, dispensando o uso de fertilizantes.

Em testes recentes, os pesquisadores observaram aumento de 16% na germinação das sementes de acácia, quando utilizados os rizóbios no substrato de plantio.

Com a crescente pesquisa em biotecnologia, os ganhos em produtividade e maior sustentabilidade vêm sendo alcançados nos processos de produção florestal. Neste cenário, as plantas Bt (Bacillus thuringiensis) já são uma realidade promissora nas pesquisas laboratoriais com eucalipto.

O eucalipto Bt será, em breve, uma planta que terá os benefícios dos genes Bt, que resultam em proteínas com ação inseticida, protegendo as plantas contra pragas-alvo (grupo de insetos denominados de lagartas desfolhadoras de eucalipto – Thyrinteina arnobia), garantindo resistência à planta e benefícios à natureza.

Versatilidade

Diversos são os tipos e as utilizações dos bioinsumos para a floresta, cada um com suas propriedades específicas e podem ser potencializadas se usados em conjunto, atendendo a demanda do setor e promovendo soluções sustentáveis ao meio ambiente.

Tais insumos são valiosos para a sustentabilidade na produção de mudas florestais e, entre outras vantagens, estão a promoção da biodiversidade, a redução de impactos ambientais negativos, maior segurança operacional, entre outros benefícios, apresentando uma abordagem inovadora e ambientalmente responsável.

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