25.6 C
Uberlândia
sexta-feira, setembro 20, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioNotíciasCerrado é bioma mais rapidamente devastado do Brasil

Cerrado é bioma mais rapidamente devastado do Brasil

Foto: André Dib (ISPN)

O Cerrado tem nascentes de oito das 12 principais bacias hidrográficas que abastecem o Brasil e conecta a Amazônia ao norte, a Caatinga a nordeste, o Pantanal a sudoeste e a Mata Atlântica ao sudeste. Apesar de sua importância socioambiental, é o bioma mais rapidamente devastado do país: em 2023, perdeu cerca de 1 milhão de hectares de vegetação nativa para o desmatamento. O número representa uma área do tamanho de dois Distritos Federais e um aumento de 67,7% em relação ao ano anterior. Foi também a primeira vez que a área desmatada de Cerrado foi maior que a área amazônica, desde o início da publicação do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD) da rede MapBiomas.

Por “bombear” água para o restante do território brasileiro, o Cerrado é chamado de “Coração das Águas” em uma nova campanha cujo objetivo é sensibilizar brasileiros e brasileiras sobre o bioma e esta região. Ao todo, são milhares de nascentes que correm apenas para a Amazônia, sem falar no Pantanal, na Caatinga e na Mata Atlântica, e abastecem milhares de cidades, a indústria e a própria agropecuária.

O segundo maior bioma da América do Sul possui ainda mais características fundamentais, afinal, presente em 11 estados do Brasil e no Distrito Federal, abriga cerca de 12% da população (25 milhões de pessoas), além de 80 etnias indígenas e diversas comunidades quilombolas, geraizeiras, de quebradeiras de coco babaçu e diversos outros segmentos de povos tradicionais. Apesar de prover quase metade da água doce do Brasil, a conversão de áreas nativas do Cerrado para pastagens e agricultura já tornou o clima na região quase 1°C mais quente e 10% mais seco, indica um estudo publicado na revista científica Global Change Biology.

No quesito diversidade, é a savana mais antiga e biodiversa do planeta. Estima-se que abrigue mais de 12 mil espécies de plantas. A região conta também com pelo menos 2.373 espécies de vertebrados, cerca de um quinto dos quais são endêmicos, ou seja, exclusivos do Cerrado.

A magnitude do Cerrado também está embaixo da terra, uma vez que abriga uma “floresta invertida”, ou seja, tem árvores com raízes profundas que atuam como uma esponja gigante absorvendo e distribuindo água da chuva para milhões de nascentes durante todo o ano, inclusive no período de seca. Ao desmatar essa vegetação, acontece a compactação e erosão do solo, dificultando a retenção de água para os aquíferos e prejudicando rios de todo o bioma.

É por isso, também, que a campanha “Cerrado, Coração das Águas” gira em torno da questão hídrica. A ideia é apresentar o bioma como fundamental para a vida humana na COP de Belém, que será realizada em 2025 na capital paraense. “Queremos que todos saibam da relevância do Cerrado para as nossas vidas, inclusive para a agropecuária”, diz Yuri Salmona, diretor-executivo do Instituto Cerrados.

O Cerrado é hoje responsável por 60% de toda a produção agrícola do Brasil, incluindo culturas como soja, milho e algodão – 14% de toda a soja do mundo e 16% da carne são produzidas no Cerrado. Plantações que dependem da estabilidade climática já começam a sofrer os impactos do desmatamento. A expansão agrícola, principal indutora do desmatamento do Cerrado, muda o cenário climático local e regional, o que pode levar à queda de produtividade e à diminuição do número de safras, além de agravar o aquecimento global. “Cerca de 28% das áreas agrícolas de milho e soja do Centro-Oeste já estão fora do ideal climático para plantio, número que pode aumentar para 70% em 30 anos”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), em referência a um estudo publicado pela instituição na revista científica Nature Climate Change. O início da estação chuvosa agrícola já está 36 dias atrasada e as chuvas já reduziram 8,6% em média no Cerrado.

As barreiras para conter o avanço do desmatamento no bioma são poucas. O Código Florestal brasileiro determina que, pelo menos, 20% da área dos imóveis rurais no Cerrado seja mantida como vegetação nativa, e essa proteção passa para 35% em áreas de Cerrado dentro da Amazônia Legal. Na Amazônia, uma propriedade privada é obrigada a manter até 80% da vegetação nativa de sua área – o inverso. Além disso, no Cerrado existem poucas Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas, ocupando apenas 8,6% e 4,8% do território do bioma, respectivamente. “A perspectiva de aumentar essa porcentagem é baixa, devido ao preço da terra e ao pequeno orçamento destinado pelo governo à criação de áreas protegidas”, diz Isabel Figueiredo, coordenadora do Programa Cerrado do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

“O Cerrado está em degradação. Foram mais de 20 mil km² desmatados nos últimos 2 anos. Além disso, hoje, o Cerrado tem sido diretamente impactado pela crise climática, o bioma está se tornando mais seco e quente. Temos os incêndios iniciados por atividade humana. Precisamos reverter esse cenário catastrófico, para garantir que o bioma mantenha todos os seus serviços ecossistêmicos, ao mesmo tempo em que restauramos o que já foi destruído”, complementa Bianca Nakamato, especialista em conservação do WWF-Brasil.

ARTIGOS RELACIONADOS

Mercado de cebolas crescente e segmentado exige sementes adaptáveis às diversas condições de plantio

Vasto portfólio de cebolas híbridas Topseed Premium atende produtores de Norte a Sul do país O aumento de plantio de cebolas em áreas como o...

Algodão – A vedete da rotação de culturas

  Através do sistema de rotação de culturas é possível aumentar ou manter a matéria orgânica do solo, diminuir perdas por erosão, controlar plantas daninhas,...

Com recorde de público e negócios, Agrobrasília 2018 supera as expectativas

Chega ao fim mais uma edição da AgroBrasília. E a 11ª Feira Internacional dos Cerrados foi um verdadeiro sucesso. Todas as expectativas foram superadas...

Focos de incêndio aumentam no país: Cerrado e Pantanal são os que mais sofrem

O Cerrado e o Pantanal bateram recordes e registraram, no primeiro semestre deste ano, a maior quantidade de focos de incêndio desde 1998, início...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!

66130 64797