A maioria dos solos brasileiros apresenta pH inferior a 5,5, uma condição química que contribui para a baixa fertilidade do solo, reduzindo a produtividade do abacateiro. O pH do solo é um indicativo da sua fertilidade atual, isto é, da forma química em que o alumínio se encontra, se tóxica (Al3+) ou precipitada (Al(OH)3), do nível de solubilidade dos macro e micronutrientes e da atividade de microrganismos no solo.
A maneira mais fácil, correta e economicamente viável de corrigir a acidez do solo é por meio da aplicação de corretivos, pela prática da calagem, que pode variar de acordo com a cultura e características da região.
Por onde começar
O primeiro passo para avaliar a necessidade de calagem (NC) é realizar a análise química do solo na profundidade de 0 – 20 cm. A correção do solo é indicada quando o solo apresenta baixa saturação por bases (V), elevado teor de Al3+ e alta acidez.
Os métodos para determinar a NC variam nas diferentes regiões do país; entretanto, o método mais comum é baseado na elevação da saturação por bases, que considera a CTC potencial (T), ou seja, a quantidade total de cargas negativas que o solo poderia apresentar se seu pH estivesse em 7,0.
Além disso, leva em conta a saturação por bases atual do solo (V1) e por bases desejada de acordo com a cultura (V2), sendo o ideal 80% para o abacateiro.
Para calcular a quantidade de calcário (QC), ou seja, a quantidade que será efetivamente aplicada ao solo, deve-se considerar, além da necessidade de calagem (t ha-1), o volume de solo com o qual o calcário irá reagir e o poder relativo de neutralização total (PRNT) do calcário utilizado (%).
Na hora certa
As plantas são mais sensíveis à acidez do solo quando jovens; portanto, no momento do plantio a acidez do solo deve estar corrigida. Assim, a aplicação de calcário comum deve ser realizada de três a seis meses antes do plantio.
Na formação do pomar, o calcário deve ser distribuído uniformemente sobre o solo e incorporado o mais profundamente possível, uma vez que apresenta baixa solubilidade em água e reduzida mobilidade no solo.
Incorporações profundas favorecem o desenvolvimento radicular, aumentando a área de exploração pelas raízes, o que favorece a absorção de água e nutrientes e, consequentemente, a produtividade do abacateiro.
Se a saturação por bases na camada de 20 a 40 cm do solo for inferior a 25%, recomenda-se aumentar a dose calculada para a camada arável em 50%. Além da calagem em área total, recomenda-se aplicar 0,3 kg de calcário dolomítico por metro linear de sulco.
Contudo, em solos argilosos e pouco drenáveis, onde os cultivos são realizados sobre camalhões, não é necessária a aplicação de calcário no sulco, pois a construção dos camalhões concentra o calcário na linha de plantio. Em pomares já formados, 70% da dose recomendada deve ser aplicada na faixa que recebe a adubação e 30% no centro das ruas.
Influência da calagem no pH do solo
O calcário, constituído por carbonatos de cálcio e magnésio (CaCO3 e MgCO3), quando aplicado ao solo, ao reagir com a água se dissocia em íons de Ca2+, Mg2+ e CO32-. O ânion acompanhante do cálcio e magnésio, o CO32-, é o responsável pela neutralização do H+, elevando assim o pH do solo.
Com a elevação do pH ocorre a redução da solubilidade do alumínio, que passa da forma tóxica Al3+ para a forma insolúvel Al(OH)3. A formação dos íons neutralizantes ocorre lentamente e explica a necessidade de aplicação do calcário com a devida antecedência ao plantio.
Além disso, deve-se destacar a necessidade de um teor adequado de umidade no solo para que ocorra a reação dos corretivos.
Manejo do solo
Outra prática de manejo da fertilidade do solo é a gessagem, que consiste na aplicação de gesso agrícola quando o solo, na profundidade de 20 – 40 cm, apresenta elevado teor de Al3+ e/ou baixos teores de Ca e Mg, conforme a análise química do solo.
A dose de gesso deve ser aplicada a lanço, sobre toda a superfície, sem necessidade de incorporação, no mínimo três meses após a calagem. A calagem realizada antes da gessagem é importante para aumentar o número de cargas negativas, evitando assim a lixiviação excessiva de nutrientes como cálcio, magnésio e potássio, e a adsorção de SO42-, o que permite seu aprofundamento no perfil do solo.
Além da análise do solo, a qual é imprescindível para a avaliação da necessidade de calagem, gessagem e aplicação de fertilizantes, a análise foliar é crucial para a avaliação do estado nutricional do abacateiro.
A amostragem foliar consiste na coleta, em fevereiro ou março, de folhas recém-expandidas com idade entre cinco e sete meses, da altura média das copas (amostragem = 50 plantas).
As faixas de teores adequados de macronutrientes são, em g kg-1: N (16 – 20), P (0,8 – 2,5), K (7 – 20), Ca (10 – 30), Mg (2,5 – 8,0) e S (2,0 – 6,0); e os teores adequados de micronutrientes, em mg kg-1: B (50 – 100), Cu (5 – 15), Fe (50 – 200), Mn (30 – 100) e Zn (30 – 100).
Todas as variedades se beneficiam igualmente da calagem.
Escolher o corretivo adequado, a dose correta e definir a melhor forma e época de aplicação são essenciais para alcançar sucesso na prática da calagem.
A aplicação do calcário comum deve ser realizada no mínimo 90 dias antes do plantio, para garantir a ação do produto. Além disso, como a reação química do corretivo no solo depende da umidade, deve-se evitar a aplicação durante períodos de seca.
Outro fator importante é a quantidade: a aplicação de doses acima do recomendado, ocasionada por má distribuição, incorporação inadequada ou dimensionamento incorreto do corretivo, pode levar à supercalagem, aumentando a mineralização da matéria orgânica e a lixiviação de nutrientes.