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Fungos entomopatogênicos: a natureza contra as pragas

Crédito Rodrigo Nogueira

Claudia Adriana Görgen
Engenheira agrônoma e doutora em Geociências Aplicadas – Universidade de Brasília (UnB)e pesquisadora – Terra Nova – Agricultura Planetária Sustentável
gorgenclaudia@gmail.com
Roberto Balbino da Silva
Biólogo e pesquisador/consultor na área de produção de boinsumos e manejo pragas
balbinorobert@hotmail.com

O uso de fungos entomopatogênicos específicos/isolados vem aumentando significativamente nos últimos anos no Brasil. Esses produtos biológicos atuam de uma forma eficiente e integrada no combate às pragas, garantindo produtividade e qualidade dos alimentos.

No entanto, esta prática isolada não faz milagres, para que tenha sua eficiência garantida é importante que sejam utilizados da forma correta.

Sempre a origem

No início dos tempos as plantas viviam em comunidades. A vida em comunidade é autorregulada pela interação de fatores e nenhum privilégio. Todos os seres vivos da comunidade se desenvolvem com naturalidade, vivem em simbiose e são multifuncionais.

A organização da biosfera desde sempre é integrativa e não excludente. Quando nossas práticas agrícolas são “monoculturas”, ocorre a seleção natural de organismos associados àquele microambiente.

Então, naquele espaço (limitado na capacidade de autorregulação) alguns organismos se sobrepõem e dominam o processo causando destruição. Assim, neste ambiente de práticas específicas e reguladas de fora para dentro, há necessidade de aplicação de organismos externos para efeito de controle de insetos-praga que agem negativamente nos fatores de produção.

Principais fungos entomopatogênicos

Os principais fungos entomopatogênicos específicos/isolados são:

  • Metarhizium anisopliae;
  • Beauveria bassiana;
  • Cordyceps fumosorosea;
  • Hisutella thompsonii;
  • Nomuraea rileyi.

Mecanismo de ação

A ação dos entomopatógenos pode ocorrer de diversas formas, mas de maneira didática, o modo de infecção desses fungos é dividido por fases: germinação dos conídios, formação de apressório, do grampo de penetração, colonização e reprodução do patógeno.

Após a penetração, processo que leva de seis até 12 horas, dependendo da agressividade do fungo, fator relacionado à patogenicidade e virulência, é observada e confirmada a ação no sistema nervoso.

Com isso, as pragas-alvo perdem sua coordenação motora, cessam a alimentação, e em muitas situações, quando estão em arena ou alta populações, se tornam canibais.

Outro fator observado é o deslocamento para o ápice da planta, com a finalidade de os raios solares eliminarem esses sintomas, ou até descer para a parte inferior da planta, afim de se esconder, para evitar disseminar a doença.

Essas situações têm um tempo médio de até 72 horas após infecção.

Morte do inseto

Diante dessas alterações na coordenação motora, antes de ocorrer a morte dos insetos-praga eles ficam vulneráveis e são facilmente capturados pelos seus predadores, devido ao seu status de locomoção reduzido.

Com a morte, o inseto fica duro, mumificado e inicialmente de cor branca, coberto pelos esporos, que é uma ação das hifas que saem do seu corpo (figura 1). Logo após acontece a formação dos conídios, que ficam da cor característica do fungo (figura 2).

Figura 1: Esporos do fungo Metarhizium anisopliae que saem do corpo predado

 Foto: Roberto Balbino da Silva

Figura 2: larvas de Lepidópteros mortos por Metarhizium anisopliae

Foto: Roberto Balbino da Silva

Eficácia dos fungos entomopatogênicos

Entres os principais fatores de impacto negativo na ação dos entomopatogênicos que ocorrem e são poucos abordados, podendo comprometer sua eficiência em campo, pode-se destacar:

1. Viabilidade do fungo (conídios viáveis são sinônimo de estarem vivos);

2. Patogenicidade do fungo em insetos-praga está relacionada à capacidade dele de causar a doença em um hospedeiro. Esses fungos podem tem ações específicas ou generalistas para determinado grupo, ou até mesmo instar no desenvolvimento do inseto;

3. Virulência é uma unidade contínua e se refere à intensidade do dano causado nos insetos, podendo variar conforme a cepa ou ambiente. A interação com a pragas, de forma simples, pode levar a uma infecção, porém, não causa a morte do inseto-praga, mas, pode prolongar o ciclo de vida e causar perturbações, deixando-o desnorteado. Com isso, cessa o acasalamento.

4. Mistura de calda, uso de adjuvante incompatível, incompatibilidade com químico, forma de aplicação e estar ligado diretamente ao comportamento do inseto-pragas. É preciso conhecer a biologia desses.

5. Umidade e temperatura são importantes fatores ambientais para eficácia dos produtos. Evite aplicações entre 10 e 15h, quando a temperatura ambiente é alta e a umidade do ar e do solo é baixa.

Melhores práticas de aplicação

Para um bom resultado no uso dos fungos entomopatogênicos isolados/específicos, alguns pontos têm destaque máximo, como qualidade do fungo (viabilidade, patogenicidade, virulência, dose e concentração).

Colônia do fungo entomopatogênco Beauveria bassiana
Crédito Embrapa

Técnicos e auxiliares com conhecimento prévio, equipamento de aplicação com manutenção em dia, conhecimento da biologia do inseto e da cultura possibilitam a assertividade no controle, pois uns dos maiores desafios em qualquer aplicação é que a calda tenha contato com o inseto e a mesma fique viável nos vegetais ou no solo.

Manejo integrado de pragas (MIP)

Pela sua atuação e compatibilidade, o químico e outros meios de manejo têm um diferencial em seu modo de ação. O ponto em destaque é a especificidade (seletividade). Em geral, os fungos entomopatogênicos afetam somente a população de inseto-alvo (pragas), não alterando a população de outros insetos que atuam como inimigos naturais de insetos-praga.

Podem permanecer no solo ou em insetos mortos, afetando populações posteriores da praga, sem que haja necessidade de reaplicações frequentes. Têm baixo impacto sobre as culturas e os organismos diversos.

O que você precisa saber

Os fungos são organismos vivos que precisam de formas diversas para seu cultivo e utilização em campo, sendo um dos maiores desafios para quantificar os resultados positivos nas culturas a forma de utilização (tecnologia).

Por isso, é importante usar sempre táticas variadas de aplicação para os diversos cultivos, chegando a ser um dos desafios ainda pouco explorado.

Sobre as condições climáticas, é essencial avançar em pesquisa e desenvolvimento de formulações para garantir sua estabilidade em situações adversas. Outro ponto que pode ser observado é que a própria condição dos insetos já traz um ambiente propício para ação do fungo naquele inseto-praga.

Então, algumas dessas limitações estão sendo reavaliadas quando se tem conhecimento sobre os diversos mecanismos de defesas e atuação dos fungos.

Ninfas de mosca-branca infectadas com bioinseticida à base de Cordyceps javanica
Crédito Embrapa

O que muda?

Importante lembrar que há diferença entre fungos ‘produzidos em condições controladas’ e aqueles ‘produzidos em condições ambientais’. Esses últimos se desenvolvem em condições semelhantes às da lavoura, são mais resistentes às variações de temperatura e umidade em campo.

Pesquisas

Fungos entomopatogênicos têm várias propriedades pouca exploradas, porém, nos últimos anos conseguimos avançar na pesquisa em passo mediano sobre sua ação endofítica, responsável pela resistência da planta contra os ataques severos das pragas.

Outro ponto é sua ação promotora de crescimento nos vegetais (plantas) e no controle de doenças, especialmente relacionado aos fungos Metarhizium anisopliae e Beaveria basssiana.

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