Walleska Silva Torsian
Engenheira agrônoma e doutoranda em Fitotecnia – ESALQ/USP
walleskatorsian@usp.br
O milho (Zea mays) é uma das culturas agrícolas mais importantes no mundo inteiro e, no Brasil, não poderia ser diferente, sendo cultivado em praticamente todos os estados brasileiros, com maiores produções nas regiões centro-oeste (54%), sul (20%) e sudeste (9%).
O estado do Mato Grosso é o principal produtor de milho no Brasil, representando cerca de 33% de toda a produção. Nos últimos anos, a área plantada com milho no Brasil cresceu quase 75%, aumentando a produção do grão em 213%, impulsionada principalmente pela produção de milho na segunda safra ou safrinha.
Atualmente, já é conhecida a produção de terceira safra de milho no nordeste, mesmo que ainda pequena, mas já demonstra muito potencial para crescimento.
Para o futuro
Com a população mundial crescendo cada vez mais, já é esperado que em 2050 superará 9 bilhões de pessoas no planeta. Logo, o milho será ainda mais importante e desafiador, porque com o aumento da demanda por alimento, a produtividade deste cereal também deverá aumentar e o Brasil será responsável por quase 40% desta demanda.
Mas, outros pontos devem ser considerados, a exemplo da escassez de terras e outros fatores ou riscos, como condições climáticas e o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas, o que sabemos que impacta o valor da produção final de milho. Então, soluções sustentáveis e inovadoras surgem para aumentar a produtividade do milho e, ao mesmo tempo, evitar contaminações de solo ou aumento das áreas de produção.
Extrato de algas como solução
O uso de extrato de algas vem sendo utilizado na agricultura para várias culturas, visando o aumento da produtividade e a redução do uso de fertilizantes e/ou defensivos químicos, se destacando por ser uma experiência mais sustentável.
Na verdade, as algas são uma fonte natural de macro e micronutrientes, hormônios vegetais, aminoácidos e carboidratos. São originadas da Ascophyllum nodosum, que se destaca por melhorar e aumentar a resistência das plantas em condições de estresse.
A Ascophyllum nodosum é uma alga marrom presente nas águas frias do oceano Atlântico, onde está a África do Sul, Canadá, Brasil, Chile, Dinamarca, entre outros países que são banhados por esse oceano.
O potencial dessa alga é promover o crescimento vegetal e o aumento da produção das culturas, mesmo em baixas concentrações e condições diferentes.
Como elas agem
Precisamos entender como é o funcionamento do extrato de algas para então verificar como elas podem contribuir para a agricultura. Primeiro, funciona como um bioestimulante, promovendo o crescimento e o desenvolvimento das plantas, por atuar diretamente na fisiologia vegetal das mesmas.
As algas são agentes antiestressantes que fortalecem o sistema antioxidante das plantas e aumentam a resistência à diversas condições ambientais.
O extrato de algas marinhas basicamente é aplicado na pulverização foliar, na irrigação e no tratamento de sementes, podendo ser utilizado de outras maneiras também. Ao realizar a pulverização foliar, permitirá que a planta absorva os nutrientes de forma mais rápida, já na irrigação garantirá maior uniformidade na concentração que será distribuída no solo. E o tratamento de sementes promove maior germinação e enraizamento de plantas.
Para o milho
No milho, o efeito dessas algas marinhas são vários, como o aumento na porcentagem e taxa de germinação, aumento do vigor de mudas, do enraizamento no solo, da fotossíntese, do rendimento de grãos, melhora no crescimento vegetativo da planta, proporciona maior resistência do milho ao ataque de pragas e doenças, diminui a competição por plantas daninhas, devido à resistência do milho em conseguir absorver mais nutrientes do solo, entre outros.
As algas presentes nos adubos complexados contribuem para o enraizamento e o arranque inicial mais vigoroso das plantas de milho devido à sua rica composição em hormônios vegetais, como a auxina, citocinina e giberelinas, aminoácidos e polissacarídeos.
Toda essa composição promove vários processos fisiológicos que são essenciais para o crescimento e desenvolvimento do milho.
Podemos citar algumas funções dessa composição, como exemplo, a auxina é responsável pelo alongamento celular e formação das raízes, o que resultará em um sistema radicular mais eficiente na absorção de água e nutrientes.
As citocininas colaboram com a divisão celular e as giberelinas para o crescimento das células radiculares. Os aminoácidos e os polissacarídeos contribuem para melhorar a estrutura do solo, visando o aumento da capacidade de retenção de umidade e o desenvolvimento das raízes.
Tudo isso garantirá um enraizamento mais vigoroso e saudável, permitindo uma germinação e arranque inicial bom e com maior resistência às condições ambientais.
Resistência das plantas
As algas ativam nas plantas de milho vários mecanismos bioquímicos e hormonais que promovem maior resistência às condições adversas como frio, calor e salinidade. Tudo isso só é possível por meio da ativação de vias metabólicas de sinalização que conseguem modular a expressão de genes de defesa que influenciam diretamente ao estresse abiótico.
Podemos destacar a modulação hormonal, a produção de compostos antioxidantes e a ativação de genes de defesa.
O ácido abscísico (ABA) atua na resposta ao estresse (frio, salinidade e seca). As algas promovem a síntese de ABA que é responsável por fechar os estômatos, reduzindo a perda de água e aumentando a tolerância à seca.
As auxinas e citocininas são produzidas pela planta com o auxílio das algas, melhorando o crescimento radicular, garantindo que as raízes do milho, no caso, explorem mais o solo buscando por água e nutrientes.
O etileno e a giberelina controlam o metabolismo da planta e ao mesmo tempo auxiliam no crescimento e na germinação mesmo em condições adversas. Tudo isso contribui para promover a planta de milho e deixar cada vez mais adaptada às diversas condições, garantindo maiores produtividades.
Quem ganha?
Os benefícios de aplicar adubos complexados com algas no plantio de milho incluem a melhoria da absorção de nutrientes devido a eficiência das algas em melhorar a fisiologia da semente, garantindo a eficiência do uso de fertilizantes e aumentando a produtividade.
O crescimento radicular também é afetado positivamente, garantindo raízes mais profundas e com boas ramificações, contribuindo para plantas de milho mais resistentes. Com as raízes bem desenvolvidas, a parte vegetativa da planta consegue ter mais resistência às pragas e doenças, reduzindo a necessidade de defensivos químicos, resultando em espigas de melhor qualidade e garantindo a uniformidade no momento da colheita.
Resultados
As principais diferenças observadas no desenvolvimento de plantas de milho tratadas com adubos à base de algas em comparação com adubos convencionais são destacadas na tabela a seguir:
Algas | Adubos convencionais | |
Desenvolvimento radicular | Maior volume e comprimento devido à presença de compostos bioativos | Desenvolvimento adequado, mas sem o estímulo adicional das algas |
Crescimento vegetativo | Vigoroso e uniforme, maior coloração das folhas e alta capacidade fotossintética em condições de estresse | As folhas podem ficar amareladas e o crescimento reduzido em condições de estresse |
Tolerância ao estresse abiótico | Plantas mais resistentes, devido a concentração de antioxidantes e hormônios vegetais que auxiliam a planta | Embora forneçam nutrientes, não oferecem a mesma proteção contra as adversidades |
Qualidade da planta | Alta imunidade natural das plantas, deixando mais resistentes às pragas e doenças | Sem benefícios adicionais em relação à defesa natural da planta, podendo gerar maior suscetibilidade a doenças |
Qualidade dos grãos | Grãos mais uniformes, com melhor peso e nutricionalmente melhor | Uniformidade e o peso podem ser inferiores |
Sustentabilidade | Melhoram a saúde do solo | Podem ter problemas de contaminação e lixiviação |
Mitos e verdades
É importante destacar que essa comparação não quer dizer que um seja melhor do que o outro, aqui é só mais uma alternativa para o produtor e que poderá agregar benefícios no final da safra.
A substituição dos adubos convencionais por aqueles à base de algas não é obrigatória, mas, pode ser sim uma opção mais rentável para o agricultor. Atualmente, produtos mais sustentáveis estão disponíveis e sendo procurados como forma de garantir uma produção mais “limpa” e talvez até mais econômica para o produtor.
Concluindo, o uso de adubos à base de algas no cultivo de milho é uma alternativa vantajosa ao comparar os adubos convencionais, oferecendo benefícios nutricionais e melhor desenvolvimento das plantas, como crescimento radicular e maior tolerância a estresses e condições climáticas.
Portanto, sim, o uso de algas na cultura do milho é promissor para aumentar a produtividade, apesar de ser uma alternativa antiga, recentemente vem ganhando destaque nos estudos e pesquisas, sendo uma ótima solução para os desafios da agricultura.