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Fogo e seca reduzem capacidade da Amazônia de armazenar carbono

Pesquisa do IPAM indica que mortalidade de árvores e baixa umidade reduzem o carbono retirado pela floresta da atmosfera e armazenado no solo

Florestas frequentemente atingidas por fogo e seca perdem sua capacidade de retirar carbono da atmosfera e armazená-lo no solo, é o que mostra novo estudo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), publicado hoje (10/03) na revista científica “Forest Ecology and Management“. A pesquisa é uma das primeiras a investigar a relação entre queimadas e o solo na Amazônia.

Os resultados foram alcançados após uma investigação de seis anos (entre 2004 e 2010), realizada na Estação de Pesquisa Tanguro, espaço dedicado à produção científica localizado na Amazônia e mantido pelo IPAM e parceiros. Leonardo Maracahipes-Santos, coordenador da Estação de Pesquisa Tanguro, pesquisador do IPAM e um dos autores do estudo, explica porque esses eventos podem intensificar as mudanças climáticas.

“Essas florestas atingidas por fogo e seca vão se tornando cada vez mais degradadas ao longo do tempo, principalmente devido à redução do intervalo de tempo entre esses eventos extremos, impedindo que elas se recuperem. Isso significa que elas vão perdendo sua capacidade de estocar carbono no solo, e passam a usar suas reservas de energia para conseguir suportar esses eventos extremos e sobreviver. Como consequência, a floresta reduz sua capacidade de retirar carbono da atmosfera, agravando a emergência climática, além de ameaçar a capacidade da floresta de se manter viva”, detalha Maracahipes-Santos.

O pesquisador destaca que a troca de carbono entre o solo e a atmosfera foi 18,7% menor na floresta estudada atingida pelo fogo. Isso ocorreu porque o fogo aumentou a mortalidade das árvores e raízes que, em conjunto com o estresse causado pela seca, reduziu o processo de fotossíntese — responsável por capturar o carbono do ar e transformá-lo em energia para a planta.

A redução da capacidade de produção de energia obriga a floresta a usar reservas de energia antigas, tornando-a mais vulnerável a eventos extremos futuros, que podem se tornar mais frequentes conforme o aumento da temperatura média global.

Estratégia da Pesquisa

Os pesquisadores analisaram duas partes da floresta amazônica: uma frequentemente atingida pelo fogo experimental e outra preservada (controle). Ambas passaram por dois episódios de seca extrema durante o estudo.

Foram coletados uma série de dados, entre eles o crescimento de raízes, a troca de carbono entre o ar e o solo, além da idade do carbono das reservas de energia usadas pelas árvores.

Ebis Nascimento, técnico de Pesquisa do IPAM, coletando os dados de troca de carbono em floresta preservada na Estação de Pesquisa Tanguro. Foto: Wanderley Rocha da Silva

O exame da troca de carbono foi feito por registros mensais com EGM-4, equipamento que mede a circulação do ar entre o solo e a atmosfera.

O crescimento das raízes finas foi analisado por meio de instalação de canos com telas, no solo, retirados a cada três meses, permitindo medir o crescimento das raízes finas. O crescimento desse tipo de raiz é um processo essencial para a vida das árvores, que precisam renová-las periodicamente para garantir as trocas gasosas e de nutrientes entre solo e planta.

Já a análise do uso de reservas de energia das árvores foi feita por meio da datação do carbono presente nas moléculas de açúcares e amidos das plantas, substâncias que fornecem energia e permitem o crescimento de raízes. A idade do carbono presente nessas moléculas foi medida para identificar o uso de reservas de energia mais antigas, o que indica a diminuição da capacidade das árvores de produzir novas moléculas de energia.

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