Iara Nobre Carmona
Engenheira florestal, mestra em Ciência e Tecnologia da Madeira e doutoranda em Recursos Florestais – Universidade de São Paulo (USP)
iaracarmona@usp.br
Allana Katiussya Silva Pereira
Engenheira florestal, mestra em Ciências Florestais e doutoranda em Recursos Florestais – USP
allana.florestal@gmail.com
Fabíola Martins Delatorre
Engenheira industrial madeireira e mestranda em Ciências Florestais – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
fabiolamdelatorre@gmail.com
Uma pesquisa recente investigou a presença de bactérias eficientes para a fixação biológica de nitrogênio (FBN) em árvores de pau-rainha (Centrolobium paraense Tul.). O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Pará e do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Os pesquisadores coletaram amostras de raízes de pau-rainha em diferentes áreas da Amazônia brasileira e isolaram as bactérias presentes nas raízes. Trata-se de uma espécie nativa do Estado de Roraima, cujo uso é indicado para evitar erosão, com bom potencial para exploração madeireira e capacidade de fixar nitrogênio, o que permite reduzir custos de adubação e melhorar a qualidade do solo.
O trabalho inclui o desenvolvimento de protocolo para produção de mudas das árvores, etapa importante, já que a planta poderá ser incluída em programas de recuperação de áreas desmatadas da região norte, atendendo o novo Código Florestal Brasileiro.
Árvore pau-rainha como fixadora de nitrogênio no solo
A espécie pau-rainha, cientificamente conhecida como Centrolobium paraense Tul., é uma árvore nativa da região amazônica, que pode ser encontrada em áreas de floresta tropical de terra firme e de várzea.
Ela pertence à família Fabaceae e pode alcançar até 30 metros de altura, com tronco retilíneo e diâmetro que pode variar entre 60 e 120 centímetros. Possui uma copa densa e arredondada, composta por folhas compostas de coloração verde brilhante. As flores da espécie são pequenas, de cor amarela e surgem em abundância nos meses de janeiro a março.
Esta espécie é amplamente conhecida por sua capacidade de ajudar a prevenir a erosão do solo em áreas degradadas, devido sua capacidade de fixação de nitrogênio no solo, o que a torna uma importante espécie para a manutenção da fertilidade do solo em áreas degradadas ou desmatadas.
A fixação biológica de nitrogênio é um processo que possibilita que certas espécies de plantas transformem o nitrogênio atmosférico em uma forma utilizável pelas plantas. A pau-rainha é uma dessas espécies, capaz de estabelecer simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio do gênero Bradyrhizobium.
Essas bactérias estabelecem uma relação simbiótica com as raízes das árvores de pau-rainha, formando nódulos nas raízes. Dentro desses nódulos, as bactérias convertem o nitrogênio atmosférico em amônia, que é então disponibilizada para a planta em troca de carboidratos produzidos pela fotossíntese.
Fixação biológica de nitrogênio
Essa capacidade da pau-rainha de fixar nitrogênio do ar é muito importante para a regeneração de áreas degradadas ou desmatadas, pois o nitrogênio é um elemento essencial para o crescimento das plantas e, muitas vezes, limitante em solos pobres.
A presença da pau-rainha pode, portanto, melhorar a fertilidade do solo e favorecer a regeneração natural da vegetação em áreas degradadas.
Além disso, a pau-rainha é uma espécie importante para a preservação da biodiversidade, pois é uma espécie chave para a regeneração de florestas tropicais e abriga muitas outras espécies em seu habitat.
Por isso, é importante que medidas de conservação e manejo sustentável sejam tomadas para garantir a sobrevivência dessa espécie e de outras espécies associadas a ela.
Recuperação de áreas desmatadas
As árvores de pau-rainha podem desempenhar um papel importante em programas de recuperação de áreas desmatadas na região amazônica. Aqui estão algumas maneiras como ela pode ser incluída:
1. Coleta de sementes e produção de mudas: uma das formas mais comuns de incluir a árvore pau-rainha em programas de recuperação de áreas desmatadas é por meio da coleta de sementes e produção de mudas em viveiros. Isso permite que as mudas cresçam e se desenvolvam em um ambiente controlado, antes de serem plantadas em áreas degradadas.
2. Plantio direto em áreas degradadas: as mudas produzidas em viveiros podem ser plantadas diretamente em áreas degradadas, incluindo áreas que foram desmatadas para o estabelecimento da agricultura ou pecuária. O plantio deve ser feito com o espaçamento e profundidade adequados para garantir o sucesso da planta.
3. Introdução em sistemas agroflorestais: a árvore pau-rainha também pode ser introduzida em sistemas agroflorestais, onde é combinada com outras espécies de interesse econômico, como cacau, café ou açaí. Isso ajuda a restaurar a biodiversidade local e fornecer fontes de renda sustentáveis para as comunidades locais.
4. Proteção e manejo de áreas remanescentes: a proteção e o manejo de áreas remanescentes de floresta nativa que abrigam a espécie são importantes para a sua conservação. Isso inclui práticas como a redução do impacto humano na floresta, a recuperação de áreas degradadas e a prevenção de incêndios florestais.
Em qualquer uma dessas abordagens, é importante garantir que a inclusão da árvore pau-rainha em programas de recuperação de áreas desmatadas seja feita de forma sustentável, respeitando as necessidades da espécie e das comunidades locais.
Além disso, é importante envolver as comunidades locais na implementação e gestão desses programas para garantir o sucesso a longo prazo.
Desenvolvimento de protocolo para produção de mudas
A produção de mudas de qualidade é um pré-requisito fundamental para a implantação de plantios comerciais e programas de restauração ecológica com esta espécie. Desenvolver um protocolo para produção de mudas de pau-rainha (Centrolobium paraense Tul.) é importante porque permite estabelecer uma metodologia padronizada e eficiente para a produção de mudas em larga escala.
Isso garante que as plantas produzidas tenham alta qualidade genética e sanitária, além de serem adaptadas às condições ambientais onde serão plantadas.
Esse protocolo pode incluir informações sobre seleção de sementes de alta qualidade, tratamento pré-germinativo, substratos e fertilizantes adequados, manejo de irrigação e controle de pragas e doenças.
Com um protocolo bem estabelecido, é possível reduzir custos e aumentar a eficiência da produção de mudas, contribuindo positivamente para a conservação da espécie e para o desenvolvimento sustentável da região.
Recomendações para a fixação biológica de nitrogênio
Para favorecer a fixação biológica de nitrogênio por meio do uso de árvores de pau-rainha, são recomendadas algumas práticas, tais como:
1. Adubação orgânica: o uso de adubos orgânicos, como compostos e estercos, pode fornecer nutrientes e microrganismos benéficos ao solo, favorecendo a atividade das bactérias fixadoras de nitrogênio.
2. Manejo adequado do solo: a manutenção de uma cobertura vegetal no solo e o controle do tráfego de máquinas e pessoas na área de cultivo podem ajudar a preservar a biodiversidade microbiana do solo e, assim, favorecer a fixação biológica de nitrogênio.
3. Inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio: a inoculação com bactérias específicas que possuem a capacidade de estabelecer uma relação simbiótica com as raízes do pau-rainha pode aumentar significativamente a quantidade de nitrogênio fixado no solo.
É importante destacar que a fixação biológica de nitrogênio é um processo natural e complexo, que envolve diversos fatores. Portanto, é recomendável procurar orientação técnica especializada para a escolha das melhores práticas de manejo para cada caso específico.