Seis anos se passaram desde que as primeiras pesquisas, fruto da parceria entre a iniciativa pública e privada, confirmassem a cana-de-açúcar como viável para a produção de pasta celulósica. O investimento até agora foi de R$ 25 milhões e a inovação já é uma realidade
Foram seis anos de pesquisa para chegar à inovação que transforma a palha da cana-de-açúcar em pasta celulósica, matéria-prima 100% sustentável. É a primeira iniciativa de uma fábrica no mundo com essa finalidade. Para isso, o Grupo Cem, holding que atua em diversos negócios no interior paulista e em outros Estados brasileiros, investiu no desenvolvimento de um biodispersante biodegradável que separa a lignina (molécula que dá rigidez às células das plantas) das fibras existentes na palha. A pasta foi avaliada e classificada pela Universidade Federal de Viçosa (MG).
Tão inovador quanto o biodispersante é o processo produtivo, também criado pela empresa. Trata-se de um sistema a frio, que elimina a necessidade de calor. O processo envolve um circuito fechado que evita perdas e desperdÃcio de água, e o pouco resíduo gerado na produção pode ser reutilizado como adubo no campo, entre outras finalidades.
Investimento e estrutura
O Grupo realizou investimento parcial de R$ 25 milhões no novo projeto, que inclui a recente inauguração, em Lençóis Paulista (SP), da FibraResist, fábrica que está produzindo a pasta celulósica.
Mais de 80% da estrutura da fábrica foi montada com equipamentos adquiridos e reaproveitados da indústria Lwarcel, gerando assim mais ganho sustentável ao projeto.Com uma área de 60 mil m², a FibraResist tem capacidade para produzir até 72 mil toneladas da pasta por ano. A previsão é atingir esse volume de produção a médio prazo.
A produção inicial, que será de 25% do total da capacidade produtiva, já está sendo negociada com empresas que produzem diversos tipos de embalagens e também papel kraft e tissue (como papel higiênico e papel toalha). “A partir do segundo semestre de 2018, estaremos preparados para novos investidores e novas unidades“, garante José Sivaldo.
A indústria conta ainda com um departamento de pesquisa, responsável pela evolução constante do processo produtivo e pelo estudo da utilização do produto em outros segmentos.
As vantagens
Considerando que a pasta celulósica é uma fibra virgem sem contaminantes, existem algumas vantagens em ganhos de produtividade e rentabilidade. A indústria consegue produzir a mesma metragem de papel usando menos insumo, o que gera ganho de bulk (volume específico). Há, ainda, ganho no processo produtivo, já que a pasta é livre de impurezas. Fora isso, ainda existe o ganho institucional de se trabalhar com um produto sustentável.
Pesquisas
As pesquisas com fontes alternativas para produção de pasta celulósica começaram em 2009. Inicialmente, conta José Sivaldo de Souza, responsável técnico da FibraResist, foi usado o bagaço da cana-de-açúcar. “Mas, com o tempo, decidimos testar o uso da palha da cana, por dois motivos principais. O primeiro é que o bagaço, por ser usado como fonte de energia em caldeiras por outras indústrias, tem custo maior e menor volume disponível para compra no mercado. O segundo é que o bagaço contém mais impurezas que a palha, o que onera o processo produtivo da pasta celulósica, além de ser necessário maior volume para produção da pasta“, relata.
Àmedida que o uso da palha se mostrou eficiente, a FibraResist levou a inovação, em 2012, para ser avaliada e classificada pela Universidade de Viçosa. Em seguida, a empresa passou a dar foco no processo de produção, por meio de uma unidade piloto e, depois, na construção de uma fábrica que pudesse produzir a pasta celulósica a partir da palha da cana em escala industrial.
Sustentabilidade em primeiro plano
Todo o processo é sustentável, ou seja, não agride o meio ambiente em absolutamente nenhuma etapa. “Recebemos a matéria-prima e a passamos por uma grande peneira para retirar as impurezas. Os resíduos servem de adubo nas fazendas produtoras e podem ser levados de volta ao campo, além de outras finalidades. Em seguida, a palha é triturada para que as fibras fiquem em um tamanho uniforme. Em um tanque, o biodispersante é adicionado às fibras para iniciar a separação do material até chegar a uma polpa“, relata José Sivaldo.
Na próxima etapa, essa polpa é depurada, filtrada, desaguada e cortada em mantas para se transformar em pasta celulósica, para ser encaminhada às fábricas de papel.
Para o responsável técnico pela FibraResist, o principal diferencial é que todo o processo é feito a frio, em temperatura ambiente. “Vale lembrar que toda a água usada nesse processo é captada de poço artesiano e reutilizada. Como o circuitoé fechado, ela é decantada para voltar a ser utilizada. Os detritos obtidos com a decantação se transformam também em adubo. Esse processo leva em torno de 12 horas“, ressalta.
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