Fernando Simoni Bacilieri
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Roberta Camargos de Oliveira
Doutora em Agronomia – UFU
José Geraldo Mageste
Doutor e professor – UFU
Os aminoácidos figuram entre os componentes mais importantes do metabolismo dos organismos vivos. São moléculas com características estruturais comuns, constituÃdas de um carbono central (C) ligado a um grupamento carboxila (COOH), um grupamento amina (NH2), um átomo de hidrogênio (H) e um radical genericamente conhecido por “R“, que os diferenciam entre si.
Os vegetais são capazes de sintetizar todos os aminoácidos, tanto os proteicos quanto os não proteicos, porém, há uma grande demanda energética para produção destes compostos e o fornecimento exógeno por meio de produtos comerciais é uma alternativa.
A utilização de aminoácidos na agricultura como suplementação à adubação mineral tem sido praticada há várias décadas no Brasil e no mundo. Eles são aplicados via sementes, via solo e, principalmente, via foliar em culturas como soja, milho, algodão, feijão, cana, café, entre outras.
Existe uma ampla gama de produtos no mercado formulados à base de aminoácidos à disposição dos agricultores que são diferentes de acordo com a composição (concentração e tipos de aminoácidos presentes associados aos nutrientes) ou processo de fabricação utilizado (fermentação do glutamato, hidrólise proteica ou síntese química).
As principais funções atribuÃdas aos aminoácidos nas plantas são: a síntese de proteínas, precursores de hormônios vegetais, resistência a estresses bióticos e abióticos, além de um efeito quelatizante sobre nutrientes e defensivos agrícolas, possibilitando, em alguns casos, a redução do uso de fertilizantes e proporcionando incrementos em produtividade.
O tratamento de sementes com produtos à base de aminoácidos associados a nutrientes pode ser uma estratégia interessante para suprir a necessidade inicial de micronutrientes das plantas e auxiliar no processo de germinação das sementes. Nos tecidos de reserva, as proteínas são “quebradas“ por enzimas como proteases e peptidases, gerando aminoácidos que são transportados até o eixo embrionário.
Os aminoácidos serão a base de construção das proteínas do embrião para o crescimento da parte aérea e, principalmente, de raízes da planta. Com um sistema radicular bem desenvolvido, maiores serão as chances de ocorrer interceptação e consequente absorção de nutrientes.
Plantas com raízes bem desenvolvidas, mais finas, bem distribuÃdas, são mais eficientes para absorver nutrientes, especialmente elementos cujo contato com a raiz se faz por difusão.
Vantagens
O fornecimento de aminoácidos via solo tem ganhado destaque. Aproveita-se o tratamento fitossanitário do sulco de plantio para controle de nematoides, pragas e doenças de solo e adicionam-se produtos à base de aminoácidos em culturas como cana-de-açúcar, soja, milho, algodão e feijão, ou junto aos fertilizantes via fertirrigação como, por exemplo, na cultura do café.
No solo, os aminoácidos podem potencializar o efeito dos defensivos agrícolas e proporcionar benefícios como estimular o crescimento das raízes, aumento da CTC e da atividade biológica na região de rizosfera, favorecendo a solubilização e absorção de alguns nutrientes.
O aumento no aproveitamento de nutrientes via foliar nas lavouras pode ocorrer devido à complexação dos elementos catiônicos K+, Ca++, Mg++, Fe++, Mn++, Zn++ e Cu++ com os aminoácidos, formando assim um quelato orgânico que possui alta capacidade de atravessar a cutÃcula das folhas, que é a primeira barreira para absorção foliar por apresentar propriedades de atração e repulsão, em que os nutrientes aplicados na forma de cátions livres levariam maior tempo para serem absorvidos.
Os aminoácidos estão diretamente relacionados ao metabolismo de nitrogênio (NO2, NO3 ou NH4), e em situações de estresse há uma redução na absorção de N, afetando a produção de aminoácidos com consequente redução da produção de proteínas e alterações profundas no desenvolvimento das plantas.
Em estádios crÃticos do ciclo das culturas (germinação, crescimento vegetativo, florescimento, enchimento de grãos, etc.), o fornecimento de aminoácidos significa um aporte de energia para prevenção e recuperação de estresse, lembrando que a intensidade e a duração destes estresses determinam as perdas de produtividade.
Os aminoácidos não substituem o fornecimento dos nutrientes, embora trabalhos demonstrem que é possível suprir a necessidade das plantas por elementos como enxofre por meio do fornecimento de aminoácidos como a metionina e cisteÃna. Entretanto, deve-se ter em mente que estes compostos funcionam como estimulantes do metabolismo das plantas e como complemento à adubação mineral, que deverá ser recomendada por meio da análise de solo, levando também em consideração a produtividade desejada da lavoura.
A aplicação
As possibilidades de uso de produtos que apresentem aminoácidos nas formulações são variadas. É importante considerar a composição, a origem dos produtos, o objetivo da aplicação dos aminoácidos e a limitação fisiológica das lavouras em cada fase fenológica de seu desenvolvimento.
Para a adoção desta tecnologia, os agricultores devem seguir as recomendações dos técnicos das empresas fornecedoras dos mesmos. Além de verificar a idoneidade dos fabricantes, empresas sérias regularmente desenvolvem pesquisas junto a instituições públicas ou privadas para comprovar a eficiência destes produtos, e só após anos de pesquisas conseguem posicioná-los adequadamente para obtenção de resultados satisfatórios.