Alexandre Pinho de Moura
Engenheiro agrônomo, doutor em Entomologia e pesquisador da Embrapa Hortaliças
Jorge Anderson Guimarães
Biólogo, doutor em Entomologia e pesquisador da Embrapa Hortaliças
Dentre as hortaliças, o tomateiro (Solanumlycopersicum L. = Lycopersiconesculentum Mill.) é considerado uma espécie que apresenta grande importância socioeconômica, pois utiliza considerável mão de obra e é cultivado comercialmente em todos os continentes.
Mas é, também, uma cultura que apresenta grandes desafios do ponto de vista fitossanitário, com destaque para a traça-do-tomateiro Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), considerada praga-chave e um dos fatores limitantes para a produção de tomate em vários países ao redor do mundo.
Em condições brasileiras, a traça-do-tomateiro pode ocorrer ao longo de todo o ano e durante todo o ciclo da cultura, principalmente nos períodos mais secos, sendo sua população reduzida em períodos chuvosos.
Ataque voraz
De acordo com pesquisadores da Embrapa Hortaliças, essa praga tem ocorrido em surtos periódicos e devastadores em várias regiões produtoras, principalmente em cultivos de tomateiro estaqueado. No entanto, surtos de menor severidade da traça-do-tomateiro também têm sido registrados em áreas cultivadas com tomateiro para processamento industrial nos Estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e também no Distrito Federal.
Bioecologia da traça-do-tomateiro
O ciclo de vida da traça-do-tomateiro é composto pelos estágios de ovo, lagarta, pupa e adulto e tem duração de cerca de 30 dias. Sob temperaturas ambientais mais elevadas, acima dos 30ºC, o ciclo da praga é reduzido, enquanto que sob temperaturas mais baixas, abaixo de 26ºC, esse ciclo é prolongado.
Os ovos desse inseto-praga são bastante pequenos, têm formato elÃptico, com coloração amarelada e são depositados isoladamente ao longo das nervuras dos folÃolos, nos brotos terminais, nas hastes, no cálice das flores e também nos frutos do tomateiro.
Após três a cinco dias da postura eclodem as lagartas, que possuem corpo de coloração amarelada, verde-claro ou rosa, com uma placa quitinosa escura na parte dorsal do primeiro segmento torácico, podendo chegar a medir até 08 mm de comprimento ao final do quarto instar.
Ao final de seu desenvolvimento, as lagartas se transformam em pupas, que apresentam coloração que varia do verde-claro ao marrom, sendo encontradas com frequência nos folÃolos e no caule do tomateiro, mas também podem ocorrem no interior dos frutos, ou ainda no solo, logo abaixo da planta.
Das pupas emergem os adultos, que são pequenas mariposas, com cerca de 10 mm de comprimento, de coloração cinza-prateada e asas franjadas.
Danos
Além do tomateiro, essa praga também ataca a cultura da batata e solanáceas silvestres.As injúrias às plantas de tomateiro são causadas pelas lagartas que, logo após a eclosão, penetram nos tecidos vegetais mais tenros. Alimentam-se do parênquima foliar, criando galerias ou minas nas folhas, além de broquear o caule, culminando na redução da capacidade fotossintética das plantas.
Além disso, causam perfurações nas brotações apicais e também nos frutos, depreciando-os para comercialização e, em casos extremos, podendo matar as plantas atacadas.
Os ataques da traça-do-tomateiro se dão mais frequentemente quando da combinação de baixa precipitação pluviométrica com temperaturas elevadas e ocorrência de veranicos durante o período chuvoso nas regiões produtoras de tomate.
Apesar do uso frequente de agrotóxicos, o que pode representar até 25% dos custos de produção, o ataque dessa praga pode ainda causar perdas de até 30% aos tomates produzidos, por apresentarem-se impróprios para o consumo, ou mesmo para a utilização pela indústria.
Trichogrammapretiosumx traça-do-tomateiro
Atualmente, em função da crescente conscientização da população mundial, existe uma grande preocupação com a redução no uso de agrotóxicos, ao mesmo tempo em que há uma exigência dos mercados consumidores, internos e externos por alimentos de melhor qualidade, livres de resíduos químicos.
Neste sentido, a utilização de agentes de controle biológico no manejo de pragas é considerada uma opção bastante importante, uma vez que representa um dos pilares de sustentação de vários programas de manejo integrado de pragas (MIP), notadamente quando se objetiva reduzir o uso de agrotóxicos.
Para o manejo da traça-do-tomateiro, recomendam-se liberações massais da microvespa TrichogrammapretiosumRiley (Hymenoptera: Trichogrammatidae), que consiste na aplicação de uma grande quantidade desse inimigo natural no campo ou em condições de cultivo protegido, visando ao combate à praga.
Essa espécie de microvespa parasita ovos da traça-do-tomateiro, bem como de várias outras espécies de pragas, notadamente de lepidópteros, inviabilizando a eclosão das lagartas e, consequentemente, as injúrias que estas causariam às plantas.