18.5 C
Uberlândia
domingo, novembro 24, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosGrãosFunções do cálcio no solo e nas plantas

Funções do cálcio no solo e nas plantas

José Eduardo Consorte

Doutor em Agricultura e professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Departamento de Ciência do Solo e Engenharia Agrícola

consorte@uepg.br

 

Crédito Shutterstock
Crédito Shutterstock

A principal forma de se fornecer cálcio (Ca) para as plantas é pela calagem, isto é, a aplicação de calcário no solo, que também corrige a acidez do solo.O calcário contém carbonato de Ca e de magnésio (Mg) que, ao reagirem com ácidos orgânicos do solo liberam o íon OH, proporcionando correção da acidez. Portanto, a calagem corrige a acidez do solo e fornece Ca e Mg para as plantas.

A correção da acidez proporciona benefícios fundamentais para o bom desenvolvimento da planta. Ao elevar o pH do solo para mais próximo da neutralidade (em torno de 6,5), a calagem aumenta a disponibilidade de nutrientes para as plantas, especialmente de fósforo, que é um elemento muito importante na produção de grãos.

Além desse aspecto, proporciona a redução dos níveis dos elementos tóxicos: alumínio (Al³+) e manganês (Mn).Considerando que os solos brasileiros são originalmente ácidos, sendo que no Cerrado são geralmente arenosos e com presença de alumínio, e normalmente com baixos teores de fósforo, a calagem se torna fundamental para a produção agrícola.

A calagem e o crescimento das plantas

A redução do alumínio tóxico e a maior disponibilidade de nutrientes possibilitamo melhor desenvolvimento do sistema radicular das plantas.Com raízes mais bem desenvolvidas, as plantas absorvem maiores quantidades de nutrientes minerais (N, P, K, Ca, Mg, S e micronutrientes) e água.

Raízes mais profundas são importantes para aumentar a resistência das plantas à ocorrência de veranicos (falta de chuva no desenvolvimento da planta). O equilíbrio nutricional e o bom crescimento da planta são importantes para o bom suprimento do cálcio, pois são as raízes jovens, em crescimento, que absorvem o cálcio.

Por ser o Ca um componente da parede celular (lamela média), as plantas bem supridas com ele normalmente são mais resistentes ao estresse climático (calor, seca) e mais tolerantes às doenças bacterianas.

O método mais utilizado para cálculo da quantidade de calcário a se aplicar é a saturação de bases do solo, representada pelo seu teor em Ca, Mg e K em proporção com a CTC (capacidade de troca de cátions total) de Ca, Mg, K, Al, K.

O cálculo é feito para elevar a saturação de bases do solo (V%) para 60 ou 70%, dependendo da cultura que será implantada, considerando-se, para isso, a mais exigente, como é o caso do milho.

A eficiência do calcário, que é medida pelo seu PRNT (poder relativo de neutralização total) também é utilizada no cálculo da quantidade a ser aplicada. Quanto melhor o grau de moagem e mais elevados os teores de Ca e Mg, melhor será o calcário.

Não faça confusão

Produtores que não foram bem orientados podem confundir calagem com adubação e realizá-la anualmente. Isso pode alcalinizar o solo e provocar deficiência de manganês, tornando-se um problema difícil de ser corrigido.

Por isso, recomenda-se o cálculo da saturação de base, que normalmente é feito com amostras de até 20cm do solo. As quantidades iguais ou superiores a oito toneladas por hectare devem ser fracionadas em duas ou três aplicações, o que pode ser feito anualmente se o solo ainda não estiver bem corrigido.

Se o solo estiver muito ácido, é muito importante fazer a calagem com pelo menos três meses de antecedência ao plantio, pois o calcário não é solúvel em água. Ele reage com os ácidos orgânicos do solo, e por isso leva tempo e depende da umidade (chuva).

Para os produtores que plantam o ano inteiro, anualmente devem-se fazer as correções. Se não der para parar o plantio para fazer a correção, o produtor deve aplicar duas toneladas anuais para colher os benefícios na safra seguinte. Ele pode não ter muito resultado na safra que faz a calagem, mas na safra seguinte terá.

É muito importante, também, que o calcário seja distribuído da forma mais uniforme possível. Se no momento da aplicação estiver ventando muito, a operação deve ser pausada para evitar que o calcário seja arrastado para uma margem da lavoura apenas.

Plantio direto

Incentivamos que o produtor faça plantio direto, o que já acontece em muitas propriedades. Isso possibilita fazer a calagem na superfície.Então, com o parcelamento de duas toneladas por hectare é possível usar as mesmas doses que são calculadas para 20 cm, e com o tempo o calcário reage na subsuperfície. Isso foi verificado inclusive por um pesquisador da Universidade Estadual de Ponta Grossa, que faz estudos sobre a aplicação de calcário em superfície.

Fazendo a calagem, haverá mais respostas do fósforo, o que gerará mais produção de matéria seca como cobertura no solo para plantio direto e proporcionará mais matéria orgânica no solo, alémde maior capacidade de reter água e nutrientes. Então, será construída uma fertilidade no solo que originalmente era arenoso, ácido ou com muito alumínio.

Lembrando que o retorno financeiro coma calagem é garantido.O custo do calcário sem o frete é de R$ 32,00/ton, sendo o frete o que encarece a operação.Se o produtor estiver perto de uma jazida, portanto, conseguirá melhor preço.

A calagem e o manejo adequado do solo proporcionam a reconstrução do perfil no Cerrado, bem como a recuperação de áreas degradadas. Se todas as áreas fizessem isso, poderíamos aumentar expressivamente a produção agrícola, sem precisar abrir áreas novas.

Essa matéria você encontra na edição de Agosto 2017 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua.

ARTIGOS RELACIONADOS

Profissionalismo na classificação das batatas

  A importância de classificar as batatas se dá pela exigência do mercado brasileiro em qualidade e tamanho dos tubérculos, além do seu aspecto visual   Existem...

Bosch na 26ª edição da Agrishow

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) a população mundial atingirá a marca de 9,6 bilhões pessoas em 2050 e serão necessários 60% a mais de comida, 50% a mais de energia e 40% a mais de água potável. A conectividade e a Internet das Coisas estão entre os elementos-chave que permitirão a transformação do setor nos próximos anos tanto no Brasil quanto no mundo.

Irrigação de precisão chega para inovar

Carlos Alberto Kamienski Professor titular em Ciência da Computação da Universidade Federal do ABC (UFABC) carlos.kamienski@ufabc.edu.br O projeto SmartWater Management Platform (SWAMP) vai desenvolver ao longo de...

Fósforo – Mais produtividade para a batateira

O fósforo é um mineral altamente presente em solos brasileiros, porém, sua maioria fica presente na forma indisponível (não lábil) para a planta absorver, causando assim a deficiência.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!