O setor sucroenergético de Goiás e de outros locais da região centro-oeste do Brasil passa a contar com três novas variedades de cana-de-açúcar desenvolvidas pelo Instituto Agronômico (IAC) de Campinas, com características regionais adaptadas a ambientes restritivos que incluem déficit hídrico acentuado e solos desfavoráveis para produção.
As regiões oeste e norte paulistas também apresentam restrições semelhantes e poderão adotar as novas variedades “” a IACCTC05-8069, IACCTC07-8008 e IACCTC07-8044. A produtividade agrícola desses três materiais é de 11 a 16% superior à da RB867515, a variedade mais cultivada no Centro-Sul do Brasil, segundo Marcos Guimarães de Andrade Landell, pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O lançamento foi feito no dia 21 de setembro, em Goianésia (GO). A partir desse lançamento, espera-se que as novas variedades sejam difundidas para todo o Centro-Sul do Brasil. Este é o vigésimo lançamento de variedades de cana do IAC.
Características
Além da alta produtividade, as novas variedades IAC apresentam grande longevidade, que deve se aproximar de 10 cortes. Isto significa que o produtor terá que renovar seu canavial somente após a décima colheita ” o que representa de duas a três colheitas a mais do que a média obtida nos canaviais. Esta é uma característica cada vez mais importante na canavicultura atual, segundo Landell. “Acreditamos que variedades com este perfil que estamos lançando permitam duas a três colheitas econômicas a mais, fazendo com que a renovação de um canavial se aproxime de 10 colheitas“, afirma.
“As variedades selecionadas em São Paulo não têm o mesmo desempenho na nossa região, devido ao tipo de solo e ao clima seco. Então, possuir variedades adaptadas às condições de Cerrado é fundamental para alcançarmos uma maior produtividade e também reduzir custos de produção“, diz o diretor-presidente da Jalles Machado, Otávio Lage de Siqueira Filho.
A IACCTC05-8069, IACCTC07-8008 e IACCTC07-8044 também apresentam resistência às principais doenças da cultura da cana-de-açúcar nessas condições regionais, que são: carvão, ferrugens, escaldadura e mosaico. “Uma das adicionalidades esperada em uma variedade é que ela, além de ser mais produtiva, tenha uma boa resistência de campo às principais doenças“, diz o pesquisador.
Responsividade
De acordo com ele, a IACCTC05-8069 tem um perfil responsivo, isto é, ela responde de maneira mais acentuada a um manejo que transforme o ambiente original em outro de maior potencial. “Isto pode ser feito com a irrigação, com a utilização de compostos orgânicos, por exemplo“, explica.
A IACCTC05-8069 é ainda mais competitiva no período de colheita de abril a agosto. Em condições de irrigação suplementar, ela se destaca ainda mais na comparação com a RB867515, que representa 29,9% das variedades plantadas na região de Goiás, de acordo com o senso varietal realizado pelo Instituto Agronômico. A IACCTC05-8069 tem teor de sacarose médio e sua época de colheita é no outono-inverno.
A IACCTC07-8008 apresenta rendimento agrícola em torno de 11 a 16% superior à da variedade padrão RB867515, em todas as épocas de colheita, tanto em ambientes restritivos, em condições de sequeiro, como em situação favorável, com irrigação complementar. “Seu grande destaque é a produtividade agrícola, originada principalmente da elevada população de colmos.Esta característica proporciona à IACCTC07-8008 um grande potencial na produção de bagaço, expressa pelo indicador Tonelada de Fibra por Hectare (TFH)“, avalia o pesquisador. Seu teor de sacarose é classificado como médio e sua época de colheita vai do outono à primavera.
Já a IACCTC07-8044, que também tem perfil responsivo, é mais competitiva no período de colheita de abril a agosto, em ambientes considerados superiores. Sua colheita é feita no outono-inverno.
De acordo com Landell, ela apresenta alto teor de açúcar durante um longo período da safra. “Em condições de irrigação suplementar, ela tem grande vantagem sobre a variedade RB867515 e uma população de colmos que é 38,9% superior à desta variedade padrão“.
O pesquisador explica ainda que este perfil populacional é essencial em regiões de alto déficit hídrico, o que pode redundar em canaviais de grande longevidade. “Observa-se que um dos fatores de redução do número de colmos em um canavial é o déficit hídrico acentuado; uma variedade que parte de um número significativamente superior ao padrão nos permite inferir que ela deverá proporcionar uma perenização maior de suas soqueiras“, explica.
Estrategicamente pensado
Segundo Landell, a estratégia de matriz de ambiente e o correspondente manejo varietal, criada pelo Programa Cana IAC, foi iniciada na Jalles. “Mais recentemente desenvolvemos um terceiro fator para a matriz de ambiente que é a idade da planta, que tem sido chamado de Matriz 3D ou Matriz do Terceiro Eixo. Este conceito que criamos está proporcionando ganhos expressivos na produtividade de empresas e agricultores“, afirma Landell.