Elaine Bahia Wutke
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia e pesquisadora científica do Instituto Agronômico ” IAC, Centro de Grãos e Fibras
Por estar adaptado aos solos tropicais e subtropicais, o guandu [Cajanuscajan (L.) Millsp.] pode ser utilizado em várias condições agroecológicas no País, principalmente como adubo verde, visando proteção, recuperação e mobilização de nutrientes em áreas degradadas ou em cultivo, colaborando, sobretudo, para o fornecimento de nitrogênio (fixação simbiótica com bactérias), para o aumento da matéria orgânica e da fertilidade do solo, além de muitos outros benefícios em características físicas e biológicas do solo e também em características agronômicas de culturas em esquemas de rotação ou sucessão, de faixas intercalares ou com as espécies florestais.
Além disso, o consórcio tecnicamente bem planejado de espécies florestais com lavouras de grãos e/ou outras (adubos verdes, como o guandu; pastagens) pode contribuir também para a redução dos custos de implantação e manutenção de um cultivo florestal, além da contribuição à preservação da biodiversidade.
O feijão guandu
O guandu é uma leguminosa arbustiva, ereta, com duração de ciclo semi-perene (quatro a cinco anos) ou perene (também pode ser manejada como anual). É considerada o “zebu“ das leguminosas, devido à sua rusticidade, mantendo-se verde durante todo o ano, característica essa que pode ser atrativa ao silvicultor, devido ao estabelecimento de uma cobertura vegetal mais duradoura em áreas florestais, particularmente naquelas degradadas.
Deve-se ressaltar, sobretudo, que, por ser uma leguminosa, o guandu pode colaborar com a fixação de valores variáveis de nitrogênio entre 37 a 280 kg ha-1 ano e, consequentemente, para o aumento do teor deste nutriente e também de matéria orgânica no solo.
Seu crescimento inicial, entretanto, é lento, sendo favorecido na faixa de temperatura de 18 a 30°C. Desenvolve-se muito bem em solos de reduzida fertilidade, de textura argilosa ou arenosa, com potencial de produção de fitomassa em situações de precipitação pluvial entre 200 e 400 mm.
Características
A altura das plantas de cultivares de ciclo normal é variável, sendo entre 1,8m (semeadura em fevereiro) a 3,70m (semeadura em outubro). Há potencial para produção de 15 a 40 t ha-1 de fitomassa verde, de 05 a 18 t ha-1 de fitomassa seca (em cortes de plantas a uma altura superior a 50 cm da superfície do solo) e de 1,2 a 1,8 t ha-1 de sementes.
Também podem ser consideradas cultivares de porte reduzido e com ciclo de menor duração (“guandu-anão“), semeando-se de 15 a 20 sementes por metro, no espaçamento de 0,4 m a 1,0 m entrelinhas. Nesta situação, as plantas de guandu poderão ficar com 1,0 m a 1,8 m de altura; a finalização de ciclo estará entre 140 e 150 dias e o potencial de produção será da ordem de 12 a 20 t ha-1 de fitomassa verde e de 07 t ha-1 de fitomassa seca.
Fornecedor de nutrientes
A relação carbono/nitrogênio (C/N) na parte aérea da planta está entre 15 a 22.O sistema radicular é vigoroso, pivotante e bem desenvolvido em profundidade (até 03m, com concentração nos primeiros 30 cm), o que confere à planta uma resistência aos períodos prolongados de seca; capacidade para ser utilizada como um tipo de “subsolador biológico“, colaborando para o rompimento de camadas compactadas do solo e capacidade de extração e mobilização de nutrientes lixiviados ou de outros pouco solúveis, localizados nas camadas mais profundas do solo.
Exemplificando, pode contribuir com efeitos benéficos de exsudações radiculares, como os ácidos piscÃdicos, responsáveis pela solubilização e disponibilização do fósforo (P) combinado ao ferro (Fe) no perfil do solo. Aliás, raízes de plantas de guandu com mais de dois anos são mais lignificadas, têm decomposição mais lenta e podem ser consideradas uma fonte primária de agentes estabilizadores da estrutura do solo.
Cultivo
O guandu pode ser cultivado como planta de cobertura do solo também no período outono-inverno, no entanto, devem ser considerados alguns aspectos limitantes à sua implantação e desenvolvimento, sobretudo nas semeaduras a partir de fevereiro a início de março, como a disponibilidade de água na fase inicial do ciclo (o crescimento inicial dessa leguminosa é lento) e a possibilidade de ocorrência de geadas.
Exemplificando, de acordo com alguns poucos estudos de pesquisa em silvicultura relacionados na literatura científica, há resultados positivos naqueles plantios desenvolvidos de forma participativa para recuperação de áreas de reserva legal degradadas em assentamentos da reforma agrária, utilizando sistemas agroflorestais (SAF’s).
O guandu também é uma das formas alternativas de manejo de áreas degradadas, com contribuição à redução de custos da restauração ecológica, ao desenvolvimento e redução da mortalidade e aumento da altura e área basal de espécies florestais nativas.