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Nematoide – Perigo que ronda as lavouras

 

Solange Maria Bonaldo

Engenheira agrônoma, mestre e doutora em Agronomia, professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Sinop

sbonaldo@ufmt.br

Carlos Wilson Alves

Graduando em Agronomia ” UFMT- bolsista da Clínica Fitopatológica (PROCEV/UFMT)

Fotos Solange Bonaldo
Fotos Solange Bonaldo

Uma estratégia adotada como solução pode virar um problema. É que as doenças em culturas de cobertura como espécies de crotalária podem servir de fonte de inóculo (local de sobrevivência) de patógenos para outras culturas, causando danos consideráveis. Por isso, o monitoramento e precauções são imprescindíveis para não enfrentar problemas maiores.

A crotalária é um adubo verde e seu uso em sistema de rotação de culturas pode fornecer à lavoura subsequente quantidade de adubo nitrogenado, reduzindo o investimento em adubos químicos.

Além disso, colabora para o incremento de matéria orgânica, proteção do solo e controle de plantas daninhas, devido a sua considerável produção de fitomassa, pois a palhada gera uma barreira física que impede a emergência das invasoras.

Proteção

 Planta de Crotalariaspectabilis apresentando sinais e sintomas de Fusariumudum, agente causal de murcha
Planta de Crotalariaspectabilis apresentando sinais e sintomas de Fusariumudum, agente causal de murcha

O solo se encontrará protegido da desagregação de partículas devido aos impactos exercidos pelas gostas de chuva, pois a cobertura morta servirá como barreira física, amortecendo este impacto.

A palhada também pode controlar a enxurrada por servir de obstáculo, reduzindo os riscos de erosão; reciclar nutrientes, pois seu sistema radicular é profundo e busca os minerais lixiviados, inacessíveis às raízes de outra cultura, e na decomposição esses minerais são liberados para a superfície.

A implantação de espécies de crotalária no sistema de produção favorece a microflora do solo, pois a palhada faz com que a temperatura e umidade dos solos sejam mais constantes, permitindo o melhor desenvolvimento de microrganismos presentes no solo e a melhor retenção de água; e contribui para o acréscimo de matéria orgânica ao solo.

Alerta

Intensa esporulação de Choanephoracucurbitarum observada em haste de Crotalariaspectabilis, com necrose
Intensa esporulação de Choanephoracucurbitarum observada em haste de Crotalariaspectabilis, com necrose

No controle de nematoides, Crotalariaspectabilis se apresenta eficaz, principalmente no controle de Pratylenchus, um dos fitonematoides que mais preocupa o centro-oeste brasileiro.

Além disso, de acordo com alguns trabalhos, o cultivo dessa espécie inibe a movimentação de Meloidogyne incognita e dificulta a penetração de Heterodera glycines, evitando que o nematoide complete seu ciclo, sendo considerada, portanto, má hospedeira.

Devido às vantagens dessa planta dentro de um sistema de rotação de culturas é que o interesse no seu cultivo aumentou por agricultores brasileiros, e com isso, casos de doenças em lavouras de crotalária se tornam mais frequentes, afetando regiões produtoras de sementes, que perdem em quantidade e qualidade, e também propriedades que utilizam esta cultura no sistema de rotação.

As espécies de crotalária cultivadas no Brasil são Crotalariajuncea, Crotalariaspectabilis, Crotalaria paulina, Crotalariaochroleuca e recentemente observa-se a implantação de áreas comerciais com Crotalariabreviflora.

A crotalária (Crotalariaspectabilis) é uma planta leguminosa, da família Fabaceae, que tem centro de origem na África do Sul e na Índia. É uma planta ereta, herbácea, de ciclo anual e arbustiva, com raiz principal bastante forte e profunda, e raízes laterais bem desenvolvidas contendo vários nódulos.

Nos últimos anos, a Crotalariaspectabilis vem sendo utilizada em larga escala no Mato Grosso e em outras regiões produtoras do Brasil, principalmente como adubo verde, para melhorar a fertilidade dos solos e no controle de nematoides.

Entretanto, apesar de sua ampla utilização, são poucas as informações sobre os principais patógenos causadores de doenças nesta cultura, bem como não se conhece a forma de controle destas doenças.

No Mato Grosso foi registrada a ocorrência de septoriose (Septoriacrotalariae), causando manchas foliares e queda prematura das folhas em cultivo comercial de Crotalariaspectabilis; e no Paraná há ocorrência de Sclerotiniasclerotiorum, sendo que outras espécies de crotalária são hospedeiras deste fitopatógeno. A crotalária Sclerotiniasclerotiorum causa manchas aquosas nas hastes, pecíolos e vagens, que depois se tornam necróticas, levando à murcha e morte da planta.

A ocorrência de Fusarium udum (agente causal de murcha) foi comprovada em Crotalariaochroleuca, bem como observada a presença deste fungo em Crotalariaspectabilis no norte do Mato Grosso. Além destes fitopatógenos, Sclerotiumrolfsii, que causa podridão branca da haste, e Choanephoracucurbitarum, que leva à podridão da haste e botões florais, foram observados em Crotalariaspectabilis no Estado de Mato Grosso, no ano de 2014.

Desde então, sua ocorrência e severidade vêm sendo observadas de maneira generalizada, principalmente quando ocorrem condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento do fungo, como altas temperaturas e umidade.

Prejuízos

Detalhe de necrose na haste e botões florais causada por Choanephoracucurbitarum em Crotalariaspectabilis
Detalhe de necrose na haste e botões florais causada por Choanephoracucurbitarum em Crotalariaspectabilis

Choanephoracucurbitarum é um dos patógenos mais agressivos na cultura, levando a 100% de mortalidade das plantas em área comercial de 1.000 ha, no ano de registro de sua ocorrência em Mato Grosso. As perdas, em função da incidência desta doença, podem ser mensuradas pelo custo das sementes para o plantio de um hectare, que se aproxima nos dias atuais de R$270,00.

Os sintomas de Choanephoracucurbitarum iniciam-se na haste da planta, onde o patógeno produz intensa esporulação, disseminando-se facilmente por vento e respingos de chuva. A infecção atinge também os botões florais, levando à morte da planta.

Dessa forma, estas doenças podem comprometer as lavouras de crotalária, frustrando a produção de sementes e/ou áreas onde a cultura é implantada como espécie de rotação, uma vez que não há relato de manejo com fungicidas para o controle destes fitopatógenos na lavoura.

Assim, se faz necessário o monitoramento das lavouras, especialmente das áreas produtoras de sementes, pois estas podem servir de fonte de inóculo e disseminar o patógeno para áreas isentas. Os produtores que utilizam esta espécie no sistema de rotação de culturas ou no manejo de fitonematoides devem monitorar suas áreas para observar a presença de patógenos que possam vir a comprometer as culturas subsequentes, como soja, feijão e algodão.

Incidência de murcha causada por Fusariumudum em plantas de Crotalariaspectabilis, aos 74 dias após o plantio
Incidência de murcha causada por Fusariumudum em plantas de Crotalariaspectabilis, aos 74 dias após o plantio

Essa matéria completa você encontra na edição de setembro de 2018 da Revista Campo & Negócios Grãos. Adquira o seu exemplar para leitura completa.

 

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