Autora
Alessandra Marieli Vacari
Doutora e professora do curso de Engenharia Agronômica e Pós-graduação em Ciência Animal – Universidade de Franca
amvacari@gmail.com
Na cultura do milho deve-se dar a devida atenção em relação às pragas, mesmo antes da semeadura no campo. A lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) pode atacar diversos estádios fenológicos da cultura, por isso recomenda-se o monitoramento constante.
No entanto, existem períodos críticos do ciclo da cultura, em que as plantas são mais suscetíveis ao ataque das pragas, que correspondem desde a emergência das plântulas até 30 dias após a semeadura (estádios fenológicos VE até V6), quando há grandes danos iniciais às folhas e ao colmo.
Além disso, de uma até duas semanas após o florescimento (V15 até R2) também podem ocorrer grandes perdas por danos à espiga.
Monitoramento
Para que o manejo de S. frugiperda seja eficiente, é importante que se faça o monitoramento. Este é o ponto inicial para determinação da necessidade ou não de controle de qualquer praga e faz parte do programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP) em milho.
Nesta cultura recomenda-se que a amostragem seja realizada em pelo menos cinco pontos diferentes em um talhão, sendo que em cada um desses pontos deve-se verificar no mínimo 20 plantas, totalizando no mínimo 100 plantas amostradas por talhão.
Talhões muito grandes devem ser divididos em talhões menores de até 100 hectares e deve-se conduzir a amostragem de 100 plantas em cada um desses sub talhões.
Quando começar a agir
O nível de controle de S. frugiperda na cultura do milho é de 20% de plantas raspadas até 30 dias após a emergência e 10% de plantas raspadas de 40 a 60 dias após a emergência. O monitoramento contribui para a segurança da tomada de decisão, para evitar desperdícios de produtos e desenvolvimento de resistência a inseticidas.
Controle com bioinseticidas
Os bioinseticidas utilizados na cultura do milho para o controle de S. frugiperda são específicos para a praga – essa é uma das vantagens desses produtos. A eficácia dos bioinseticidas depende de vários fatores importantes, como o tamanho das lagartas e o seu comportamento alimentar, bem como a qualidade da pulverização e correspondente cobertura das plantas.
Além disso, as condições climáticas também podem afetar a ação dos produtos. Os bioinseticidas são eficazes à campo para o manejo de S. frugiperda, desde que respeitadas as suas instruções de uso.
Os bioinseticidas à base de Bacillus thuringiensis e baculovírus agem por ingestão. Após a aplicação do produto sobre as folhas, as lagartas de S. frugiperda que se alimentarem da área tratada ingerem os corpos de oclusão (OBs) de nucleopoliedrovírus (NPV) ou a cepa de B. thuringiensis contendo cristais e esporos que estão na superfície das folhas tratadas.
O tempo de mortalidade após a ingestão dependerá das condições ambientais, do comportamento alimentar das lagartas e do mecanismo de ação do bioinseticida, podendo levar de três a oito dias. Porém, para os bioinseticidas utilizados para S. frugiperda, as lagartas normalmente param de se alimentar no período de um a três dias.
Cuidados
Na aplicação de produtos em condições de déficit hídrico, devem-se fazer pulverizações direcionadas à região do cartucho utilizando bicos tipo leque, visando proporcionar boa cobertura e minimizar perda por deriva.
Para aplicação terrestre, utilizar volumes de calda de 100 a 300 L/ha para plantas com 30-40 dias de idade e 20 L/ha para plantas mais desenvolvidas. Para aplicação aérea utilizar volumes de calda de 20 a 50 L/ha.
As aplicações com bioinseticidas a base de B. thuringiensis e baculovírus podem ocorrer em intervalos de sete a 10 dias, sendo que esses produtos devem ser aplicados no início da infestação da praga, com lagartas nos estádios iniciais de desenvolvimento, do primeiro ao terceiro instar.
Outro fator importante é realizar as pulverizações sempre à tarde, para se evitar maior incidência de raios ultravioletas sobre as plantas nos períodos mais quentes do dia. Os raios UV são um dos principais fatores de inativação de bioinseticidas a campo.
Atualmente, os bioinseticidas registrados no MAPA para S. frugiperda na cultura do milho são nove, à base de B. thuringiensis (var. aizawai, var. kustaki cepa HD-1, subsp. thoworthy isolado 344) e três à base de vírus (baculovírus Spodoptera frugiperda multiple nucleopolyhedrovirus SfMNPV).
Considerações finais
Boas práticas de manejo de resistência devem ser sempre seguidas para manter a eficácia e a longevidade dos bioinseticidas como uma ferramenta útil no manejo de S. frugiperda.
As aplicações devem ser direcionadas à fase mais suscetível da praga, ou seja, lagartas menores que 8 mm. Os bioinseticidas devem ser utilizados como parte de uma estratégia de manejo de resistência de pragas, incluindo também a rotação de produtos eficientes e com diferentes mecanismos de ação.
Sempre que disponíveis, devem-se integrar outros métodos de controle para S. frugiperda (como químico, biológico, cultural) dentro de um programa de MIP-milho.