Autores
Paulo Roberto Camargo Castro
Doutor e professor do Depto. de Ciências Biológicas – Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’ (ESALQ/USP)
prcastro@usp.br
Jeisiane de Fátima Andrade
Mestranda em Agronomia – ESALQ/USP
Os aminoácidos são moléculas de características estruturais em comum, constituídos de um carbono central, geralmente assimétrico, ligado a um grupamento carboxila (COOH), um grupamento amino (NH2) e um átomo de hidrogênio.
Além dessas três estruturas, eles também possuem um radical conhecido genericamente por “R”, que diferencia os mesmos. Diversas funções são atribuídas aos aminoácidos, dentre as quais estão a síntese de proteínas, compostos intermediários dos hormônios vegetais endógenos; efeito complexante de nutrientes e outros agroquímicos; maior resistência ao estresse hídrico e de alta temperatura e maior resistência ao ataque de doenças e pragas.
Os aminoácidos podem ser enquadrados no grupo de antiestressantes, compostos capazes de agir em processos morfofisiológicos do vegetal como precursores de hormônios endógenos ou como ativadores de enzimas e da disponibilização de compostos capazes de promover tolerância a estresses.
Esses compostos são descritos como produtos que podem reduzir o uso de fertilizantes e aumentar a produção e a resistência ao estresse causado por temperatura e déficit hídrico.
Figura 1. Esquema estrutural da molécula de aminoácido
Mais benefícios
Na agricultura, os aminoácidos não só têm sido utilizados com o objetivo de suprir a planta de aminoácidos para síntese proteica, mas também como ativadores do metabolismo fisiológico.
Estudos relacionados ao uso de aminoácidos evidenciam que quando aplicados via foliar ou radicular promovem o enraizamento, responsável pelo bom desenvolvimento de uma planta.
Apesar de escassos os trabalhos da aplicação desses biofertilizantes na área florestal, alguns mostram o seu potencial de utilização em viveiros, com aumento expressivo no crescimento e desenvolvimento de mudas florestais. Em um experimento realizado com Eucalyptus dunnii, ao final de 90 dias a aplicação dos biofertilizantes à base de aminoácidos proporcionou melhoria significativa na qualidade das mudas, incrementando as variáveis altura, peso de matéria fresca e seca da parte aérea, peso de matéria fresca e comprimento de raízes.
Pesquisas
Em pesquisa com desenvolvimento vegetal em floresta boreal, foi observado que ao menos 92, 64 e 42% do nitrogênio absorvido por um arbusto anão (Vaccinium myrtillus), por uma gramínea (Deschampsia flexuosa) e por espécies de pinheiros (Pinus sylvestris e Picea abis), respectivamente foi oriundo do aminoácido glicina [carbono e nitrogênio marcados (13C e 15N) aplicado na matéria orgânica do solo, sendo a taxa de assimilação semelhante à do amônio, também com nitrogênio marcado.
Resultados de trabalhos científicos sugerem que o acúmulo do aminoácido prolina nas plantas contribui para manter o potencial osmótico nas células, aumentando a capacidade das plantas em tolerar o déficit hídrico.
Adicionalmente, em experimentos para conhecimento do efeito da aplicação de aminoácidos em mangueira (Mangifera indica) na região semiárida brasileira, os resultados demonstraram que a aplicação de aminoácidos 30 dias antes da colheita contribuíram para o incremento do comprimento das panículas e também o número de frutos fixados por planta.
Quando pulverizados via foliar, os aminoácidos interagem com a nutrição de plantas, devido à sua permeabilidade na cutícula, aumentando a eficiência na absorção, transporte e assimilação de nutrientes.
A complexação de cátions com aminoácidos gera moléculas sem cargas, reduzindo o efeito das forças de atração e repulsão da cutícula da folha, elevando a velocidade de absorção dos nutrientes. Além disso, estes complexos formados por cátions + aminoácidos aumentam a capacidade de circulação de nutrientes pelas membranas, culminando em um importante componente da nutrição das plantas – a translocação de nutrientes pouco móveis pelos vasos do xilema.
Atuação
Observa-se que os aminoácidos atuam de forma semelhante nas espécies vegetais, com consequentes benefícios. Sabidamente as espécies florestais possuem um ciclo longo, denominado de perene, e com isso estão sujeitas a variações climáticas e oscilações no regime hídrico no decorrer do seu ciclo.
Logo, esse período sob estresse poderá influenciar diretamente no desenvolvimento da planta e, consequentemente, na sua produtividade. Devemos considerar que os aminoácidos podem fornecer nitrogênio semelhante ao tipo amoniacal para as plantas.
Portanto, o uso de biofertilizantes à base de aminoácidos para proteção das espécies florestais pode oferecer uma boa alternativa às adversidades, pois a pulverização de aminoácidos induzirá respostas ao estresse fisiológico, impedindo a planta de gastar energia para reparar os danos causados pelo estresse, mantendo assim um equilíbrio fisiológico que permite a expressão seu máximo potencial produtivo.