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sexta-feira, novembro 22, 2024
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Nutrição mineral – Mais resistência aos estresses abióticos

Autores

Leandro José Grava de Godoy
Professor de Fertilidade do Solo, Nutrição e Adubação das Culturas, e bolsista do Pet Agro Registro/Unesp – câmpus de Registro
legodoy@registro.unesp.br
Franciele Moreira Gonçalves
Taline Antunes
Graduandas em Engenharia Agronômica – UNESP e bolsista PIBIC/CNPq

Uma pessoa saudável, bem nutrida, está mais bem preparada para suportar os estresses do dia a dia e manter-se produtiva. Assim como nós, as plantas sofrem uma série de estresses, que podem ser bióticos (causados por seres vivos, como fungos, bactérias, vírus, nematoides, etc.), ou abióticos (baixa ou alta temperatura, salinidade, seca, etc.) e que podem fazer com que as culturas não atinjam seu potencial genético quanto à produtividade.

Devido à imprevisibilidade dos estresses abióticos, este é um tema de grande preocupação entre os agricultores e agrônomos. Os principais estresses abióticos aos quais as plantas estão submetidas são:

Déficit hídrico: fechamento estomático, inibindo a fotossíntese, além da desidratação celular, morte das células, etc.;

Salinidade – redução do potencial hídrico, desidratação celular;

9 Elevadas temperaturas: desestabilização de membranas e proteínas e, consequentemente, morte celular;

Elevada luminosidade: fotoinibição e produção de espécies reativas de oxigênio – EROs (radicais livres que são tóxicos as plantas);

9 Inundação do solo: redução de respiração, fechamento estomático, produção de EROs, ativação do metabolismo fermentativo;

Resfriamento/congelamento: desestabilização da membrana, desidratação celular;

9 Vento: injúrias mecânicas;

9 Toxicidade por elementos tóxicos: transtorno do metabolismo, produção de EROs;

Variação

Os estresses abióticos podem variar em função da sua intensidade, duração, espécie, estado fisiológico e estado nutricional da planta. A nutrição mineral da lavoura é um dos fatores que pode ser manejado e surge como ferramenta interessante para aumentar a resistência das plantas a estes estresses.

Assim, uma planta bem nutrida é mais tolerante aos danos que podem ser causados por agentes externos. Alguns elementos minerais podem influenciar direta ou indiretamente em rotas metabólicas nas plantas, os quais auxiliarão na tolerância aos estresses abióticos.

Um grande exemplo é o silício, que, apesar de não ser considerado elemento essencial (conhecido como elemento benéfico) para o crescimento das plantas, vários estudos veem comprovando sua importância nas relações planta-ambiente.

O silício promove o aumento da resistência mecânica das plantas em condições abióticas adversas. Pode melhorar a arquitetura das folhas e regular a evapotranspiração, permitindo à planta não perder água facilmente, em condições de estresse hídrico.

Com a utilização do silício em solos com alto teor de metais como alumínio (solos do Cerrado), cádmio e até mesmo manganês, é possível reduzir o estresse por toxicidade causado por estes, além de reduzir os efeitos de temperaturas muito baixas, pela indução da síntese de açúcares crioprotetores.

Cálcio

O cálcio participa de ligações covalentes entre os grupos carboxílicos constituintes da parede celular, para garantir a resistência mecânica das plantas a estresses abióticos que possam causar injúrias ou acamamento, além de ter o importante papel de sinalizador, em resposta às diferentes condições de estresse.

O principal papel do nitrogênio, no aumento da resistência das plantas aos estresses abióticos, se dá pela ação de aminoácidos, nos quais este elemento foi incorporado. A adubação foliar com aminoácidos tem se mostrado eficaz no aumento da resistência da planta a estresse hídrico e salino. Entre os mais utilizados estão a prolina e a glicina-betaína, que atuam na osmorregulação, estabilização das membranas celulares e neutralização de substâncias tóxicas, geradas por condições abióticas estressantes.

A alta salinidade do solo, causada pela presença de íons como sódio e potássio, por exemplo, podem reduzir o potencial osmótico do solo e prejudicar a absorção de água pelas plantas, causando um estresse nestas.

A aplicação de enxofre no solo, na forma de sulfato de cálcio (gesso agrícola), por exemplo, juntamente com a ocorrência de chuvas ou irrigação, pode promover a percolação destes cátions para as camadas mais profundas do solo, reduzindo os estresses salinos.

O sulfato no solo também pode auxiliar na redução de elementos tóxicos, como o alumínio e metais pesados. Na planta, aminoácidos como a cisteína, que contêm o enxofre e o nitrogênio, participam da síntese da glutationa, que é um peptídeo capaz de complexar metais pesados, como o cádmio, por exemplo, formando fitoquelatos e reduzindo os estresses causados por elementos tóxicos.

Potássio

O potássio pode ser aplicado de forma preventiva em épocas de estiagem e/ou baixas temperaturas, para possibilitar o uso eficiente da água e evitar perdas de produtividade, pois atua na abertura e fechamento dos estômatos, interferindo diretamente na fotossíntese.

Ainda, sua alta concentração no tecido vegetal reduz o valor do ponto de congelamento das células, assim como os danos causados por uma geada, por exemplo.

Magnésio

O magnésio, além de fazer parte da clorofila, ser um importante ativador de enzimas e atuar no transporte de carboidratos para os drenos da planta, também mitiga o estresse causado pela alta intensidade luminosa (escaldadura), evitando o acúmulo excessivo de carboidratos na folha, que podem levar à formação de radicais livres, pelo redirecionamento do excesso de energia luminosa que não está sendo utilizada no processo fotossintético.

O magnésio também pode reduzir os estresses causados pelo alumínio, devido a aumentar a liberação de ânions orgânicos, como o citrato, por exemplo, que pode neutralizar o alumínio.

Selênio

O selênio também é considerado elemento benéfico para a planta, participando na síntese de compostos que reduzirão as espécies reativas de oxigênio (ROS) formadas, por exemplo, quando ocorre déficit hídrico ou alta intensidade de radiação UV, e que causam danos às células.

Micronutrientes como cobre, zinco, manganês e ferro atuam em rotas metabólicas na planta, na síntese de importantes enzimas (superóxido dismutase, catalase, ascorbato peroxidase, dentre outras) que atuam na eliminação das espécies reativas de oxigênio, que se formam na ocorrência de estresses e na redução do dano oxidativo nas plantas.

O boro é outro micronutriente que pode proporcionar aumento na tolerância das plantas ao estresse hídrico, principalmente em espécies mais responsivas à adubação boratada, como o girassol.

Ponto crucial

É sempre muito importante fazer a amostragem de solo e de plantas para avaliar as características químicas do solo e o estado nutricional das plantas, para avaliar se a planta está bem preparada para suportar um eventual estresse, e se não, o que aplicar para torná-la mais tolerante.

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