Autor
Bruno da Silva Moretti
Engenheiro agrônomo e doutor em Ciência do Solo
bsmoretti@hotmail.com
O repolho pertence à espécie Brassica olerácea e duas variedades são as mais conhecidas no mercado nacional – são elas a B. oleracea L. var. capitata L. (Repolho Liso) e a B. oleracea L. var. sabauda Martens (repolho crespo). As formas mais conhecidas são alba (repolho branco) e rubra (repolho roxo).
Antes de preparar a calagem e a adubação, é importante que o produtor conheça alguns detalhes da natureza da raiz da planta de repolho. Por não ser a parte comercial da espécie e o seu maior volume não estar exposto, a raiz geralmente é pouco conhecida pelos produtores. Assim, conhecê-la certamente ajudará na tomada de decisão a respeito do manejo geral da cultura, incluindo a calagem e adubação.
Na fase inicial de crescimento da planta, chamada de juvenil, a raiz é axial, ou seja, possui poucas ramificações, que tendem a aprofundar mais do que ramificar. Durante a maturidade, aumentam bastante as ramificações. Nesta fase o crescimento em profundidade diminui, aumenta o crescimento horizontal e formam-se raízes adventícias junto ao colo.
A maior parte da raiz, cerca de 80%, estão entre 20 e 30 cm de profundidade, todavia, em sistemas de manejos irrigados ou que possuem cobertura morta ou plástica, que tem finalidade de preservar a umidade e amenizar a temperatura superficial, as raízes podem se concentrar próximo de 10 cm de profundidade.
O plantio do repolho deve ser feito em solo argilo-arenoso, profundo, com boa aeração, teor de matéria orgânica entre 2,0 e 3,0% e teor de alumínio muito baixo ou nulo, de preferência, pois o repolho possui baixa tolerância a esse elemento.
O pH deve ficar na faixa ideal entre 6,0 e 6,5, sendo que próximo de 6,5 há um melhor equilíbrio na disponibilidade geral dos nutrientes.
A calagem
O calcário, além de sua importância na redução da acidez e neutralização do alumínio tóxico, é a principal fonte de cálcio e magnésio. Vale ressaltar que esta cultura é exigente em magnésio, assim, recomenda-se o uso de calcário com alto teor MgO, acima de 12%. Todavia, a escolha do calcário deve ser feita em função da análise de solo.
Há duas formas mais comuns de calcular a necessidade de calcário – uma com base na neutralização do alumínio e elevação do cálcio e magnésio, e outra com base na elevação da saturação de bases do solo, que para o caso do repolho é de 70%. Para ambas, é imprescindível a análise de solo, que é a base para qualquer cálculo, seja ele de calagem ou adubação.
Após aplicar o calcário, é recomendada a incorporação com grade, operação que proporciona a incorporação de forma homogênea no perfil de atuação da raiz.
Custo-benefício
Com o uso de um calcário de qualidade (teores significativos de MgO) e na dose recomendada, o produtor terá a neutralização do alumínio, adequação do pH e, consequentemente, melhor aproveitamento dos nutrientes, melhor condicionamento do solo para a atividade dos microrganismos benéficos, além do fornecimento de cálcio e magnésio.
Cabe relembrar o produtor que em comparação aos demais insumos necessários para o desenvolvimento da planta e considerando todos os benefícios citados, além de ser de suma importância o uso adequado deste corretivo, o calcário é um produto de custo relativamente baixo, cerca de R$ 50,00 a tonelada (sem o frete).
Seguindo todas as recomendações de calagem, utilizando um calcário de boa qualidade e os demais insumos recomendados, os produtores têm atingido produtividades acima de 50 toneladas por hectare com o uso de média tecnologia, o que indica potencial para produtividades ainda maiores, apesar desta medida ser influenciada pela variedade e pelo clima da região.
Fique atento
O produtor tem que ficar atento para evitar os erros mais comuns nas etapas que envolvem a calagem, dentre os quais, podemos destacar:
; Coleta errada do solo: este erro é bastante comum. O produtor coleta solo em profundidade diferente da profundidade de atuação da raiz no sistema que ele utiliza, muito profundo ou muito superficial, o que pode superestimar ou subestimar a real quantidade de nutriente que o solo possui.
; Área representada: os métodos de cálculo padrão da calagem consideram uma área de 01 hectare e uma camada de 20 cm. Assim, o técnico deve considerar a área real do canteiro, se for o caso, e a profundidade de incorporação do calcário, que na prática, para esta cultura, vai de 10 a 30 cm.
; Amostra não representativa: o produtor deve observar o local onde ele está coletando para evitar fazer a amostragem em cima de adubo ou esterco residual da safra anterior. Também deve-se atentar ao número de amostras que será coletada dentro de cada talhão homogêneo para fazer uma amostra composta que será enviada ao laboratório. Em média, uma amostra composta é obtida a partir de outras 20 subamostras de um mesmo talhão considerado homogêneo.
; Erros de cálculos: geralmente para cima, recomendações acima de cinco toneladas por hectare não são comuns. Nesses casos, vale a pena rever os cálculos e, novamente, consultar um engenheiro agrônomo.
Por fim, com o preço médio de venda nas CEASAs variando de R$ 1,00 a R$ 4,00 o quilo do repolho, com o surgimento de novas variedades mais produtivas e resistentes a pragas e doenças, o custo/benefício tem animado os produtores que estão investindo na cultura.