Autores
João Pedro Elias Gondim
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitopatologia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
joaopedro.pba@hotmail.com
Rodrigo Vieira da Silva
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor do IF Goiano – Campus Morrinhos
rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br
Brenda Ventura de Lima e Silva
Mestre em Fitopatologia e servidora do IF Goiano – Campus Morrinhos
brendavlima@yahoo.com.br
Edcarlos Silva Alves
Graduando em Agronomia – IF Goiano Campus Morrinhos
A maioria dos solos cultivados no País apresenta, de maneira geral, elevada acidez com níveis tóxicos de alumínio e manganês, que promovem uma menor disponibilidade de nutrientes essenciais às plantas e uma baixa exploração do solo pelas raízes.
A qualidade desses solos ácidos é facilmente reconhecida pelas suas propriedades físicas, a saber: baixa agregação, alta densidade específica, menor porosidade, resistência do solo à penetração das raízes e químicas: baixa disponibilidade de nutrientes essenciais.
Dentre os nutrientes, o silício (Si) é reconhecido pelos seus efeitos benéficos às plantas, por fornecer maior resistência a insetos, doenças, melhor nutrição, menor taxa de transpiração, aumento da eficiência fotossintética, e ainda, ajudar na correção do pH de solos ácidos.
Plantas mais produtivas, com menos doenças e mais vigorosas – este é o resultado que muitos horticultores vêm obtendo ao utilizar o Si como mais um nutriente para a nutrição da cebola. No entanto, muitos agricultores e técnicos ainda desconhecem os efeitos e as vantagens do uso de fontes silicatadas nas suas lavouras.
Papel do silício nas plantas
O silício como elemento mineral tem estimulado o crescimento e a produção vegetal, além de gerar efeitos positivos no controle de estresses bióticos e abióticos. Plantas com níveis mais elevados de Si contêm mais nutrientes em seus tecidos.
Como o Si aumenta a produção de fotoassimilados, devido ao incremento na taxa fotossintética, há um aumento na incorporação de minerais que conferem mais resistência à parede celular das plantas, o que as tornam mais resistentes a situações de estresses. E, ainda, a aplicação de silício deixa as folhas mais eretas, diminuindo o sombreamento e deixando a planta mais resistente a doenças.
Silício na correção da acidez do solo
As principais características de uma fonte de silício com finalidade agrícola podem ser encontradas nos silicatos de cálcio e magnésio, provenientes de escórias de indústrias siderúrgicas. Esses materiais são capazes de fornecer ao solo um alto conteúdo de silício solúvel, com boas relações e quantidades de cálcio e magnésio, interferindo, assim, no pH do solo, atuando como corretivos de acidez do solo.
A acidez do solo é corrigida devido à presença da base química SiO3-2 nos silicatos de cálcio (CaSiO3) e magnésio (MgSiO3). Algumas reações químicas no solo ocorrem semelhantemente ao calcário agrícola, como elevação do pH, precipitação do alumínio e manganês tóxicos, aumento da saturação por bases (V%), disponibilidade de fósforo, silício, cálcio e magnésio trocáveis, com consequente possibilidade de maximização da produtividade.
Os silicatos possuem ainda maior tamanho de partícula, com isso, normalmente apresentam uma reatividade mais lenta no solo, com efeito residual mais prolongado.
Contribuição do Si na nutrição da cebola
Já é comprovado cientificamente que a utilização de fertilizantes silicatados aumenta a eficiência da adubação convencional à base de NPK (nitrogênio, potássio e fósforo). As fontes de silicatados normalmente apresentam boas propriedades de adsorção, de modo que ocorre uma menor lixiviação de potássio e outros nutrientes móveis no horizonte superficial do solo.
Com o aumento do teor de silicato no solo ocorrem reações químicas de troca entre o silicato e fosfatos, como os fosfatos de cálcio, alumínio e ferro. Portanto, ocorre a formação de silicatos de cálcio, alumínio e ferro, com a liberação do íon fosfato, aumentando o teor de fósforo na solução do solo.
Vale ressaltar que, aliado a isso, o silicato pode deslocar o fósforo dos sítios de adsorção na argila e nos sesquióxidos, ou ocupá-los, preferencialmente. O silício também aumenta a translocação interna do fósforo para a parte aérea da planta.
Manejo de aplicação do Si
A quantidade de Si que deve ser aplicada com a finalidade de correção da acidez do solo pode ser definida pelo método da saturação por bases, objetivando-se elevá-la a 80%, para que o efeito residual seja suficiente para todo o ciclo da cultura.
Apesar da falta de critérios de recomendação de doses de silício, seja com base em estudos de calibração das análises de Si solúvel no solo e na produtividade da cebola, bem como sobre o efeito residual dos silicatos, dados disponíveis na literatura indicam que a quantidade aplicada deve variar de três a seis toneladas de silicato de cálcio ou magnésio por hectare, com 40 a 60 dias antes do estabelecimento da cultura a campo.
O Si é um mineral que vem sendo muito utilizado em diversas culturas agrícolas, seja pelo bom incremento na produtividade ou pela maior relação de interação da planta ao ambiente, garantindo às espécies vegetais melhores condições para suportar adversidades edafoclimáticas e biológicas.
Sua utilização no manejo nutricional acarreta menores impactos ambientais, por ser uma tecnologia mais limpa, reduzindo o uso de agroquímicos tóxicos. No campo, a aplicação de fontes de Si garante maiores produtividades na cebola, que podem ser observadas de forma indireta, por meio de folhas mais eretas, menor autossombreamento, rigidez dos tecidos estruturais com maior resistência ao acamamento, redução da toxidez de ferro, manganês, alumínio e sódio, e menor incidência de pragas e doenças.
Custo-benefício
O custo operacional da aplicação do silicato de cálcio e magnésio é próximo ao do calcário agrícola. Para uma melhor eficiência, recomenda-se realizar previamente a análise de solo, pois o custo varia de acordo com as condições do solo e, portanto, determinada a melhor dose para o produtor.
No processo de escolha da fonte de Si, deve-se considerar o poder relativo de neutralização total (PRNT) do silicato, além da distância entre o local de produção e a área de cultivo, uma vez que o custo da aplicação do produto pode encarecer pelo elevado preço do frete. Dessa maneira, é fundamental a análise da relação custo/benefício, pois a mesma determinará a viabilidade ou não da aplicação do silicato em substituição ao calcário.
Tendências
Tendo como referenciais diversas pesquisas recentes, constata-se o grande potencial da utilização do Si para melhorar a produtividade das culturas no Brasil, inclusive o da cultura da cebola, minimizando a ação de agentes de estresse bióticos e abióticos nas plantas.
Vale ressaltar a capacidade do Si de corrigir a acidez do solo, além de favorecer várias interações com outros nutrientes, de modo a melhorar a nutrição da planta.
Portanto, neste contexto, o papel do Si no manejo da nutrição das plantas, por meio de uma nutrição equilibrada e fisiologicamente mais eficiente, torna-se cada vez mais importante para uma maior produtividade e para a sustentabilidade do setor hortícola brasileiro.