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Ácidos húmicos e insumos biológicos na agricultura

Autor

Gean Charles Monteiro
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Agronomia – FCA/UNESP – Campus de Botucatu (SP)
gean.monteiro@yahoo.com.br

As substâncias húmicas (ácido húmico, ácido fúlvico, huminas e ácidos himatomelânicos) são originárias da decomposição da matéria orgânica. Os insetos, a mesofauna e a microfauna são os responsáveis pela formação desses compostos de fundamental importância.

Nesse processo acontece a oxidação e subsequente polimerização desse material, formando as substâncias húmicas. Essas substâncias formam uma mistura heterogênea de moléculas polidispersas, com características de elevadas massas moleculares e grupos funcionais distintos, os quais agem em inúmeros processos naturais, afetando a estrutura física, química e microbiológica do ambiente. Contudo, são os ácidos húmicos que constituem a maior fração das substâncias húmicas.

Por esse motivo, o funcionamento dos ácidos húmicos se baseia na presença desses grupos funcionais, tais como carboxilas, hidroxilas fenólicas e carbonilas, permitindo maior reatividade com outras substâncias, principalmente pela função das fortes pontes de hidrogênio com a água.

Com a presença desses grupos, os ácidos húmicos assumem um comportamento polieletrolítico, atuando como agentes complexantes de vários íons metálicos (Pb, Cu, Ni, Co, Zn, Cd, Fe, Mn, Mg, etc.) e diversas substâncias orgânicas poluentes, como agroquímicos, agindo de forma redutora das concentrações dessas moléculas no ambiente.

Sob estresse

Em relação ao estresse em plantas, a aplicação de ácidos húmicos pode ser uma alternativa para aumentar a tolerância e, ainda mais, potencializar produtos biológicos. Precisamente, os ácidos húmicos estimulam a síntese proteica em vários órgãos da planta e também a síntese enzimática, induzindo a geração de espécies reativas de oxigênio (ROS), juntamente com a atividade de enzimas como: fenilalanina amônia-liase (PAL), catalase (CAT), superóxido dismutase (SOD) e ascorbato peroxidase (APX), além de compostos secundários (polifenóis e poliaminas).

Essas enzimas e moléculas produzidas pelas plantas são responsáveis eplo combate e equilíbrio da planta em momentos de estresses (ataque de pragas, patógenos, entre outros).

Em resumo, os produtos biológicos atuam no controle direto (inseto, fungo, nematoide, etc.) e/ou indireto, na forma de repelente ou de proteção. Em contrapartida, os ácidos húmicos ativam o sistema bioquímico de proteção das plantas, aumentando a defesa e diminuindo as perdas. Ou seja, havendo, desta maneira, um efeito sinérgico de ação entre eles, possibilitando agir de forma conjunta.

Mais que benefícios

Além da vantagem de proteção das plantas, os ácidos húmicos apresentam outros benefícios, como: aumento da germinação e desenvolvimento das raízes (devido à retenção de calor e aumento de auxina), maior biomassa e produtividade da planta, aeração do solo (aumento de agregados originários das combinações dos ácidos húmicos com argilas), menor erosão (alta capacidade de retenção de água), redução nas variações de pH (aumento do poder tampão), maior CTC (capacidade de troca catiônica) e matéria orgânica, maior eficiência e menor fitotoxidade na aplicação de agroquímicos, nutrientes e aminoácidos, defesa contra estresses (abióticos e bióticos), entre outros.

Dosagem ideal

Os ácidos húmicos já foram aplicados em grandes culturas (café, cana-de-açúcar, milho, soja, trigo, sorgo, etc.) e olerícolas (pepino, abacaxi, batata, tomate, alface, feijão-fava, couve-da-malásia, pimentão, morango, manjericão, etc.) com boa resposta, no entanto, as doses usadas são muito variáveis de cultura para cultura.

Desse modo, a aplicação também é variável, podendo ainda ser misturado ou não com outra substância, de forma líquida ou em pó. Entretanto, o mais utilizado é diretamente no solo ou substrato, mas também há estudos com a aplicação via foliar mostrando bons resultados.

Modo de aplicação

Para evitar erros, pensando nos ácidos húmicos mais utilizados é necessário saber o modo de aplicação. Se for via líquido, os quais apresentam diferença no modo de diluição: os ácidos fúlvicos são solúveis somente em meios alcalinos e ácidos; em contrapartida, os ácidos húmicos são solúveis em meio alcalino e insolúveis em meio ácido.

Para aplicação via solo, aplica-se juntamente com a adubação mineral, e em substrato recomenda-se misturar ambos em proporções adequadas. Os produtos precisam ser aplicados conforme a recomendação técnica.

Resultados

Resultados demonstraram, em aplicações em grandes culturas, principalmente na cultura da soja, aumento da produtividade entre 7,5 a 21%, além do aumento no teor de proteínas (3 a 9%) e do peso das sementes (4 a 14%), devido, em especial, ao melhor uso da água e dos nutrientes disponíveis no solo. Em olerícolas, observou-se ganho produtivo entre 10,5 a 17%, promovendo maior absorção de nitrogênio, fósforo, potássio e magnésio pelas plantas.

Custo

Em relação ao custo de aplicação, os mesmos são muito variáveis, dependentes da cultura cultivada, se será destinada para produção de mudas, frutos ou grãos, ambiente de cultivo, distância do mercado, empresa responsável pela venda, entre outros.

No entanto, com o aumento do custo, principalmente dos adubos, além da preocupação e/ou obrigação cada vez maior do agricultor com o meio ambiente, os ácidos húmicos não se tornam somente alternativa econômica, mas também ecológica.

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