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Rentabilidade: Cultivo da amoreira ‘comanche’ é atrativo

Autor

Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo do Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
givago_agro@hotmail.com
Crédito: Embrapa Clima Temperado

A amoreira-preta (Rubus spp.), também conhecida como blackberry, é uma fruteira originária de clima temperado, portanto, exótica, introduzida na região sul do Brasil em 1972, onde é cultivada com sucesso em plantios comerciais (Lorenzi et al., 2015). Pertencente à família Rasaceae (Botelho et al., 2009), seu cultivo encontra-se em expansão no Brasil em grande parte devido às suas qualidades nutricionais (Tullio e Ayub, 2013). Além disso, esta espécie está entre as que apresentam bom potencial de cultivo para agricultura familiar (Yamamoto et al., 2013).

De maneira geral, a planta requer entre 100 e 1.000 horas de frio, com temperaturas abaixo de 7,2°C por ano para o florescimento (Lorenzi et al., 2015), sendo que seu cultivo está amplamente espalhado em zonas temperadas, mas com algumas cultivares que apresentam baixa necessidade em frio podendo ser cultivadas em regiões com temperaturas mais elevadas (Curi et al., 2015).

Lançamentos

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa clima temperado), por meio de programas de melhoramento, lançou algumas cultivares como ‘Ébano’, em 1981, ‘Tupy’, em 1988, ‘Guarani’, em 1988, e ‘Xavante’, em 2004 (Oliveira et al., 2006), sendo também introduzidas de outros países cultivares como ‘Brazos’, ‘Cherokee’ e ‘Comanche’ (Santos et al., 1997).

Recentemente, em 2015, a Embrapa lançou uma nova cultivar de amoreira-preta, a ‘BRS Xingu’ (Embrapa, 2015). A ‘Comanche’, segundo Santos et al. (1997), teve origem por meio de cruzamentos entre as cultivares Darrow e Brazos (Santos et al., 1997).

Em destaque

Por seu potencial a ser explorado no segmento frutícola brasileiro, o cultivo da amoreira merece destaque e informações sobre técnicas de cultivo, sobretudo no que concerne as cultivares adaptadas, é de fundamental importância.

Assim, vale ressaltar que ‘Comanche’ é uma cultivar promissora e seu manejo de cultivo do plantio à colheita, quando feito criteriosamente, pode render bons frutos ao fruticultor. Vale a pena conhecer um pouco mais sobre esta cultivar e suas perspectivas de comercialização como uma atividade promissora para regiões de clima subtropical ou mesmo tropical.

Quem é ela

A ‘Comanche’ teve origem em um cruzamento realizado na Universidade de Arkansas, nos Estados Unidos, em 1965, sendo posteriormente, em 1968, selecionada e então passou a ser avaliada como Ark. 527 (Raseira et al., 2019).

Cultivar de hábito ereto e com acúleos (Pio e Gonçalves, 2014), as plantas tendem a perfilhar com relativa facilidade e, segundo relatado por alguns autores, pode se adaptar à colheita mecânica (Raseira et al., 2019).

Segundo dados da Embrapa Clima Temperado, o peso médio varia entre 4,0 e 7,0 g. O sabor apresenta leve acidez e boa quantidade de sólidos solúveis, sendo assim ideal para o consumo in natura ,ou mesmo para industrialização (Pio e Gonçalves, 2014).

Manejo

A amoreira-preta apresenta características que favorecem seu cultivo, tais como: elevada adaptabilidade, baixa exigência em frio, rusticidade e pouca utilização de defensivos agrícolas, além de facilidade de manejo (Attilio et al., 2009).

Neste sentido, o conhecimento do comportamento fenológico das cultivares é fundamental para o manejo correto e adequado das cultivares. Segundo Rasseira et al. (2019), o florescimento de ‘Comanche’ ocorre entre o final de setembro e início de novembro, sendo sua colheita realizada entre o final de novembro e início de dezembro.

Já Antunes et al. (2000) verificaram que em Minas Gerais, cultivares como Seleção 97, Brazos, Tupy, Cherokee, Caingangue, Guarani e também a Comanche iniciaram a floração em setembro. Além disso, Santos et al. (1997) afirmam, em relação à arquitetura de planta, que a cultivar apresenta porte ereto.

Vantagens de cultivar a amoreira ‘Comanche’

A amora faz parte de um grupo de frutas conhecido como “pequenas frutas”, que além dela fazem parte também o morango, framboesa, groselha, mirtilo, dentre outras. Mesmo sendo atividades que exigem muita mão de obra, tais frutas vêm se expandindo no Brasil pela possibilidade de muitas vezes de alto retorno financeiro (Tullio e Ayub 2013).

Ainda neste contexto, o cultivo da amora representa uma oportunidade para a diversificação de atividades dentro da propriedade, o que vem acontecendo frequentemente na fruticultura mineira. Assim, conhecer os fatores referentes ao seu comportamento e exigências de cultivo é determinante no sucesso da atividade no estado (Antunes et al. 2006), bem como nas demais áreas produtoras.

Considerada de boa produtividade, a produção é relatada como de precocidade média, o que, em termos de comparação, equivale entre 10 a 15 dias de ciclo mais tardio do que a ‘Brazos’, por exemplo. Já em relação à biometria de frutos, são considerados entre médios e grandes, com cerca de 5,0 a 7,0 g de peso e sendo de consistência firme. Além disso, afirma-se que apresentam sabor ácido e adstringente (Santos et al., 1997).

Rentabilidade

A amoreira tem a vantagem de apresentar baixo custo na implantação e manutenção do pomar. Soma-se a isso o fato da reduzida frequência na aplicação de defensivos agrícolas, o que torna esta cultura interessante do ponto de vista da agricultura familiar.

Pode-se dizer que a cultura apresenta retorno rápido – a expectativa é de que a produção se inicie já no segundo ano, além de possuir alto valor agregado devido à sua versatilidade. Com a produção rápida, oferece alternativa de renda, sobretudo, aos pequenos produtores, proporcionada pelo mercado potencial que possui, como o in natura, indústria de produtos lácteos e congelados, além da fabricação de produtos como geleias caseiras, podendo, inclusive, atuar como produto em atividades de ecoturismo regional, (Antunes e Raseira, 2004).

Resultados de campo

No município de Lavras (MG), Curi et al., (2015), ao avaliar a produção de amoras-pretas e vermelhas, sendo plantas sem espinhos ‘Arapaho’, ‘Xavante’ e ‘Ébano’, com espinhos ‘Comanche’, ‘Caingangue’, ‘Choctaw’, ‘Tupy’, ‘Guarani’, ‘Brazos’ e ‘Cherokee’ e a amoreira-vermelha nativa da serra da Mantiqueira do Brasil, no município que apresenta classificação climática, segundo Köppen como Cwb (mesotérmico ou tropical de altitude), notaram que a maioria das cultivares apresentou período produtivo superior a 100 dias, sendo que ‘Brazos’ foi apontada como sendo de cultivo mais promissor para a região estudada.

Segundo Pio e Gonçalves (2014), na cultivar ‘Comanche’ a produção pode chegar a 345 frutos por planta, com peso total até 1,5 kg. Além disso, o mesmo autor ressalta que a produtividade pode chegar a até 6,5 t.ha-1 (primeiro ano) e 9,8 t.ha-1 (segundo ano).

Com relação à produção extemporânea, Antunes et al. (2006), ao avaliarem sete cultivares (Brazos, Comanche, Guarani, Tupy, Cherokee, Caingangue e Ébano) e uma seleção (97), relatam que dentre estas, as que mais se destacaram na produção fora de época foram ‘Tupy’ e ‘Comanche’, com 2,93 t.ha-1 e 3,26 t ha-1, respectivamente.

Erros

Conforme já mencionado, a cultivar apresenta porte ereto e, dessa forma, não necessita de estruturas de suporte (tutoramento). Contudo, em regiões com incidência de ventos é conveniente que se utilize um fio de arame posicionado a 80 cm do solo (Santos et al., 1997).

Além disso, segundo Pio e Gonçalves (2015), por ser uma espécie típica de clima temperado, apresenta um período denominado dormência, em que apresenta baixa atividade metabólica e que ocorre na época de baixas temperaturas. Sendo assim, necessita da aplicação de produtos que ocasionem a queda de folhas no período entre abril ao início de maio para que ocorra a desfolha.

Como evitar erros

O correto manejo em relação ao tutoramento das plantas pode diminuir perdas e melhorar a qualidade dos frutos. Segundo Ferreira et al. (2017), o desempenho produtivo pode ser comprometido mesmo com o emprego de cultivares mais adaptadas à condição climática do País devido à grande diversidade de sistemas produtivos que são utilizados e nem sempre propícios às diferentes regiões produtoras.

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