Autor
Ricardo Rodrigues Teixeira
Engenheiro agrônomo, doutor em Fisiologia Pós-colheita e consultor nas áreas de nutrição e fisiologia vegetal ricardotx@terra.com.br
O uso da irrigação em lavouras de café é uma realidade em várias regiões produtoras, inclusive naquelas onde o índice pluviométrico é suficiente para atingir a necessidade do cafeeiro, como o Sul de Minas, a Alta Mogiana e o Espírito Santo. Apesar da quantidade de chuva por ano ser adequada nessas regiões, a sua distribuição desuniforme vem comprometendo a produtividade ano após ano.
Em conjunto com outras tecnologias, a irrigação proporcionou aumentos significativos de produtividade, superando médias acima de 60 sacas beneficiadas por hectare, que equivalem a 2,5 vezes a média nacional.
A utilização da irrigação foi um avanço importante para a cafeicultura brasileira, porém, outros avanços devem acontecer, sendo que o manejo do uso da água é ponto fundamental para que a atividade tenha sustentabilidade.
Com o manejo correto da água na irrigação, é possível utilizar a mesma como veículo para aplicação de uma série de produtos – a chamada quimigação, termo que começou a ser utilizado nos Estados Unidos na década de 70.
A expansão do uso da quimigação gerou outros termos como herbigação, fungigação, insetigação e nematigação, que são ligados ao uso de defensivos agrícolas e fertirrigação, essa última relacionada ao uso de fertilizantes e outras substâncias que tenham efeito fisiológico e possam interferir na nutrição das plantas, como ácidos orgânicos, aminoácidos, extratos de algas e extrato de plantas, por exemplo.
O uso de defensivos agrícolas via água de irrigação está amparado em informações geradas pela pesquisa de órgãos oficiais e, em especial, pelas diversas empresas que atuam neste segmento e proporcionam ganhos de eficiência e rentabilidade para o cafeicultor.
Já a utilização de fertilizantes via água de irrigação ou fertirrigação tem muito a ser estudada e melhorada, já que em muitas regiões ainda não gera benefícios ao cafeicultor.
Meios
A fertirrigação pode ser realizada por meio dos dois sistemas de irrigação utilizados no cafeeiro, que são: irrigação em área total e irrigação localizada. Maior eficiência se dá onde a mesma é localizada, especialmente na modalidade denominada gotejamento.
É importante saber que a fertirrigação é a técnica de aplicação de fertilizantes e outros componentes ligados à nutrição vegetal, utilizando a água de irrigação e promovendo um ambiente adequado para absorção. Este ambiente adequado é localizado no chamado bulbo úmido ou bulbo molhado, que somente será adequado com o manejo correto da água (qualidade e quantidade utilizada) e com o uso de produtos que mantenham as condições próximas ao ideal para o crescimento e desenvolvimento das raízes.
Cuidados
Muitos fatores interferem no desenvolvimento adequado do cafeeiro. No cafeeiro fertirrigado, algumas regras devem ser seguidas para que a cultura tenha sustentabilidade, com destaque para:
þ Verificação da qualidade da água a ser utilizada, assim como se o equipamento de irrigação disponível atende à demanda de água para fertirrigar, já que muitos projetos de irrigação são elaborados para “salvar floradas”, não tendo vazão suficiente no decorrer do ano para irrigar;
þ Manutenção da oxigenação no solo para desenvolvimento radicular e absorção de nutrientes, pelo manejo correto da água da irrigação;
þ Utilização de fertilizantes adequados em relação ao pH (potencial hidrogeniônico) de cada solo, pureza e com alta solubilidade em água;
þ Considerar a eficiência dos fertilizantes, quando comparados ao uso de fertilizantes aplicados de forma convencional;
þ Complementar a nutrição de micronutrientes via foliar, caso ocorram impedimentos químicos para absorção radicular, como pH em água acima de 6 no bulbo úmido;
þ Fazer injeções distribuídas em muitas vezes no decorrer do ciclo para manter a condutividade elétrica abaixo de 1,3 mS/cm na região do bulbo, colaborando para que o cafeeiro mantenha a pressão osmótica adequada;
þ Manter a cobertura vegetal nas entrelinhas, preferencialmente com gramíneas para manutenção da umidade e produção de matéria orgânica para o solo;
þ Estimular a atividade microbiana na rizosfera, pelo uso de substâncias de origem orgânica com solubilidade em água.
Muitos cafeicultores que não seguiram estas regras iniciaram a fertirrigação, porém, depois de dois a três anos enfrentaram sérios problemas, tais como acidificação, salinização e desequilíbrio nutricional. Esses problemas acarretam em brusca diminuição de produtividade, sendo que, em alguns casos, é necessário a retirada da cultura.
Pontos fundamentais
Para que a cafeicultura brasileira passe de cafeicultura irrigada para fertirrigada, gerando mais rentabilidade e competitividade para o setor, são necessários: pesquisa, formação de profissionais que estejam aptos a recomendar e aplicar as recomendações corretamente, já que a fertilização em áreas de irrigação localizada é diferente das de sequeiro.
Igualmente importante é a interação entre os profissionais das áreas de irrigação, nutrição e fisiologia vegetal; e a utilização de informações e conhecimentos práticos de outros segmentos que utilizam fertirrigação no País há mais tempo, como fruticultura, floricultura e olericultura.