Autores
Mariane Gonçalves Ferreira Copati
marianegonferreira@gmail.com
Herika Paula Pessoa
herikapaulapessoa@gmail.com
Doutorandas em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
A antracnose, ou mal-de-sete-voltas, causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides, é uma das doenças mais importantes da cebola (Allium cepa L.). Esse fungo se caracteriza pela formação de conídios em uma massa com aspecto gelatinoso inserida em uma estrutura conhecida como acérvulo.
Existem diferentes espécies do gênero Colletotrichum, nas quais são encontradas formas saprofíticas e patogênicas. As formas patogênicas são responsáveis por doenças economicamente importantes, que acarretam prejuízos em uma extensa gama de hospedeiros, em especial as do gênero Allium (alho, cebola, cebolinha, alho poró, etc.).
Além destas, outras hortaliças (abóbora, abobrinha, jiló, melão, melancia, pepino, pimentão, pimenta e tomate) e algumas frutíferas (abacateiro, cajueiro, mamoeiro e maracujazeiro) também são afetadas por esse patógeno.
O ataque
Em plantas de cebola o fungo pode atacar tanto a parte área quanto os bulbos durante todas as fases do cultivo, a partir das sementeiras até o armazenamento. Na fase de sementeira a antracnose causa tombamento, pelo apodrecimento da base das mudas. No campo, formam-se nas folhas lesões pontuais, deprimidas com coloração escura e concêntrica, e nos bulbos ocorre a formação de bulbos charuto. Esse patógeno também causa prejuízos na fase de armazenamento, onde pode ocorrer podridões nos bulbos.
A perdas observadas por essa doença nas lavouras de cebola são variáveis, a depender das condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do patógeno e das estratégias de controle adotadas. Maiores prejuízos às culturas são observados nos cultivos de verão, principalmente nas regiões tropicais. A doença é favorecida por temperaturas de 23 – 30ºC e presença de água, a qual pode advir de chuvas ou irrigação por aspersão.
A sobrevivência e dispersão do patógeno podem ocorrer via sementes, chuva, água de irrigação, solo e restos de cultura.
Estratégias
Com relação à escolha da área para o plantio, o ideal é que se opte por áreas com solos bem drenados, uma vez que solos encharcados favorecem a multiplicação de inóculos da doença. Outra operação realizada antes do plantio é a utilização de sementes sadias, livres do patógeno e adequadamente tratadas.
Em seguida, durante o plantio deve-se evitar plantios muito adensados, uma vez que o microclima gerado pelo adensamento favorece a multiplicação do patógeno. Na condução da lavoura, a correta escolha do sistema de irrigação é uma eficiente estratégia de prevenção da doença.
Sistemas que ocasionam o molhamento foliar, como por exemplo a irrigação por aspersão, promovem um microclima ideal para a multiplicação do patógeno. Com relação às operações pós-colheita, a secagem adequada é essencial para evitar a antracnose nos bulbos. O processo de secagem deve ser realizado imediatamente após a colheita, antes mesmo do armazenamento.
É importante ressaltar que mesmo tomando todas as precauções supracitadas, focos de antracnose podem ser diagnosticados na lavoura. Nesse caso, devem-se realizar pulverizações com fungicidas registrados para a cultura, enquanto existirem plantas com sintomas. Além disso, uma vez que a lavoura apresentou plantas doentes, o ideal é que após a colheita os restos culturais sejam removidos da área ou queimados, e que se realize rotação de culturas com plantas não hospedeiras para evitar a multiplicação do patógeno na área.
Novidades
A principal inovação da agricultura para o controle de doenças de plantas é a utilização de câmeras hiperespectrais, as quais são acopladas a drones e são capazes de realizar diagnósticos precoces de plantas doentes.
Uma vez identificadas as plantas doentes pela análise de imagens, o engenheiro agrônomo é capaz de diagnosticar a doença e recomendar o melhor método de controle da mesma. O diferencial dessa técnica está na possibilidade de identificação de focos de doença em seus estágios iniciais, viabilizando seu controle imediato, o que reduz os danos e prejuízos que as mesmas causariam à lavoura.
Erros
Os erros mais frequentes no combate à antracnose estão relacionados à diagnose e recomendação de métodos de controle inadequados. Os sintomas relacionados à antracnose podem por vezes ser confundidos com outras doenças, especialmente em seus estágios iniciais de desenvolvimento.
Isso conduz a um diagnóstico errado e, consequentemente, na recomendação e utilização de métodos ineficientes para o seu controle. A maneira mais eficaz para evitar os erros de diagnóstico e recomendação é a consultoria de engenheiro agrônomo qualificado. Esse profissional é treinado para realizar a diagnose e recomendar o melhor método de controle para a doença.
Utilizar boas práticas culturais que previnam a entrada da antracnose na lavoura geram menos custos ao cebolicultor do que combater os focos de doença. Dois fatores principais justificam esse menor custo; primeiro, para combater a antracnose é necessário mobilizar maquinário, mão de obra qualificada para recomendar e pulverizar defensivos, e ainda adquirir fungicidas.
Segundo, as práticas preventivas são efetivas para prevenção da antracnose e de inúmeras outras doenças fúngicas. Com isso, ao adotá-las o produtor reduz a probabilidade de acréscimo dos custos de controle dessas doenças ao seu custo final de produção da cebola.