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Adriano Augusto de Paiva Custódio
Engenheiro agrônomo fitopatologista, IAPAR
Anselmo Augusto de Paiva Custódio
Engenheiro agrônomo fitotecnista
A Phoma pode causar depauperamento progressivo de órgãos aéreos reprodutivos e vegetativos do café, resultando em perdas econômicas na produção. Danos diretos são caracterizados pela abscisão de botões florais, flores e chumbinho devido à mumificação, enquanto danos indiretos são caracterizados por desfolhas contÃnuas associadas à morte e secas das extremidades de ramos que estimulam uma emissão anormal de ramos secundários e terciários.
Regiões mais atacadas
As regiões cafeeiras mais atacadas pela doença são aquelas com altitude acima de 800-900 metros, em áreas úmidas caracterizadas por ventos constantes, especialmente em MG, ES, SP e BA. Isso porque as condições ambientais nesses locais são favoráveis à doença.
Dias frios, nublados, com chuvas frequentes que prolongam a formação de água livre na folha, temperaturas amenas de 16 a 19ºC associado a ventos fortes e frios que proporcionam danos mecânicos no tecido vegetal favorecem a penetração, infecção e reprodução do patógeno no café.
Incidência e consequências
Antes classificada como doença secundária, o progresso da mancha de Phoma têm aumentado no Brasil devido a alterações tecnológicas do manejo fitotécnico da cultura, principalmente em cenários de mudanças climáticas.
Por exemplo, podemos citar a abertura de novas áreas de plantio em monocultivo, adensamento de plantas com diferentes arranjos espaciais, utilização em larga escala de operações mecânicas na lavoura, como podas, recolhimento e colheita do café, utilização de novas variedades cultivadas com diferentes arquiteturas de copa ou níveis de resistência genética, crescentes incrementos dos níveis de fertilização do solo e da nutrição mineral do café, e a adoção de técnicas de irrigação que podem aumentar o tempo de molhamento de órgãos aéreos e afetar a fisiologia do café para emitir novos ramos, folhas, flores e chumbinho que beneficiam o ciclo da mancha de Phoma.
Por consequência, alterações do comportamento epidemiológico da doença são inevitáveis, especialmente no sudeste do Brasil, onde está concentrado o maior cultivo de café do mundo. O maior nível de profissionalismo do cafeicultor em manejar fatores bióticos que reduzem a produtividade da lavoura também é outro motivo da maior observação da doença no campo.
Sintomas
No campo a exteriorização tÃpica dos sintomas da doença é frequentemente observada em tecidos jovens devido à infecção inicial do fungo. No limbo foliar são observadas manchas irregulares de coloração escura que podem apresentar perfurações e caracterÃsticos halos concêntricos variáveis com a temperatura e umidade do ambiente.
Infecções iniciadas nas bordas das folhas ocasionam retorcimentos e fendilhamento. Em ramos são observados rápido escurecimento com posterior secamento e morte. As flores da roseta e todo o fruto jovem, quando infectados, podem apresentar escurecimento e mumificação.
Em algumas ocasiões é possível visualizar estruturas reprodutivas do fungo. Sintomas da doença são mais frequentes em lavouras com faces voltadas para o sul e sudeste, devido ao maior tempo de molhamento foliar e danos mecânicos provocados por ventos.
Quando a diagnose da mancha de Phoma no campo é difícil, amostras do tecido vegetal devem ser adequadamente encaminhadas ao laboratório de clÃnica fitossanitária para isolamento e identificação do agente etiológico. Resultados de pesquisa provaram que a parte aérea do cafeeiro abriga seis espécies do gênero Phoma, mas que no Brasil a doença tem como agente etiológico e fase assexuada o fungo necrotrófico Phoma tarda.
Os esporos ou conÃdios do fungo são hialinos com ou sem septo (5-10 x 2,5-3 µm). O fungo P. tarda possui Didymella sp. como fase sexuada. É importante destacar que a mancha de Phoma pode estar associada a outras doenças, formando um complexo de enfermidades. Assim, outras espécies de fungos, como Cercospora coffeicola e Colletrotrichum spp. poderão estar presentes.
Quando controlar
O controle da doença na lavoura deve ser realizado durante todo o ano agrícola, adotando o manejo integrado de tecnologias. Atividades rotineiras na fazenda, como a adequada correção e fertilização dos solos, melhoria da eficácia das operações de mecanização, processos conservacionistas do solo, manejo fitotécnico, como podas, irrigação, população de plantas, espaçamento entrelinhas e agricultura de precisão são alguns exemplos de boas práticas que fazem parte do controle.
Ao programar o controle químico, é importante fazer o monitoramento periódico da lavoura para conhecer a quantidade da mancha de Phoma, que deve ser intensificado em épocas mais favoráveis. Essa etapa é fundamental na tomada de decisão para adotar qualquer intervenção química com fungicidas.
Em folhas, embora ainda não existam estudos cientÃficos detalhados sobre o nível de dano econômico da doença, sabe-se que o início das pulverizações precisa ocorrer no início do período epidêmico.
Na prática, para esta doença policÃclica com curto período de incubação (≤ 10 dias), a primeira pulverização com fungicidas sistêmicos tem sido feita com 5 a 10% das folhas com sintomas, pois seu controle em níveis epidêmicos acima disso é dificultado.
No sul de Minas Gerais, por exemplo, níveis acima de 10% de incidência em folhas ocorrem de março a setembro. Já em áreas com surtos epidêmicos sistemáticos nas fases de pré e pós-florada, o controle com fungicidas é recomendado visando a prevenção da doença em flores e chumbinho.
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