Autor
Ricardo Steinmetz Vilela – Presidente da ProCedro – Associação Brasileira dos Produtores de Cedro Australiano e sócio-diretor da Bela Vista Florestal – ricardovilela@belavistaflorestal.com.br
O Brasil ainda não produz madeira de cedro australiano em escala comercial. Os produtores que têm árvores em ponto de corte são os que conseguiram manejar com algum sucesso as mudas de semente plantadas há mais de 15 anos.
Devido à genética de baixa qualidade e à falta de informação sobre o manejo à época, são poucos os plantios que chegaram ao porte de produzir madeira de alta qualidade. Desde 2014 essa realidade mudou.
Novos materiais genéticos chegaram ao mercado, com maior capacidade de adaptação aos climas e solos brasileiros, maior produtividade e melhor forma das plantas. Esse avanço, aliado às informações sobre manejo adquiridas ao longo de anos de pesquisa sobre a espécie, fizeram com que as novas florestas, plantadas a partir dessa data, fossem realmente investimentos florestais seguros.
Mas esses plantios ainda não chegaram à idade de corte. Os mais velhos estão perto de chegar ao ponto de desbaste intermediário, que ocorre entre os oito e 10 anos de idade da floresta. Nesse momento é produzida madeira jovem, que apesar de encontrar demanda, não é utilizada para as finalidades mais nobres, que geram maior valor.
Iniciativa
Para tentar organizar a produção e fornecimento de madeira, hoje dividida entre vários pequenos produtores, a Associação Brasileira de Produtores de Cedro Australiano – ProCedro, criou um grupo de trabalho formado pelos associados que têm florestas mais antigas, com a função de padronizar processos e qualidade dos produtos, para atender em conjunto as demandas maiores.
Importância econômica
O cedro australiano está sendo plantado em vários Estados; Minas, São Paulo, Espírito, Santo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Bahia, Paraná e Santa Catarina. A maior concentração está em Minas e São Paulo.
Existem várias formas de se vender madeira de cedro australiano, mas os prós e contras devem ser levados em consideração. A venda em toras pode parecer uma boa alternativa, pois não há custo de processamento. No entanto, o Brasil é um país com dimensões continentais e a distância do mercado consumidor pode inviabilizar essa modalidade de venda.
Um produtor do Paraná, por exemplo, terá muito mais condição de prospectar compradores e um custo de transporte compatível, em comparação com um produtor de Goiás. Isso porque os Estados do Sul têm mais tradição de trabalhar com madeira sólida, seja serrada ou laminada.
Desta forma, o processamento primário, ou serrado bruto, se torna a melhor forma de acessar o mercado, pois o custo de processamento não é tão alto, a tecnologia necessária não é restrita e pode-se optar por terceirizar o serviço em uma serraria local, em vez de fazer investimento. Esse modelo agrega bastante valor ao produto e viabiliza mercados em distâncias bem maiores.
Mercado vertical
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É possível continuar avançando na verticalização do processo, partindo para a fabricação de produtos de maior valor agregados (PMVA), como móveis, portas, janelas, forros, molduras, objetos etc.
Mas é preciso ter consciência de que assim o produtor está entrando em um novo negócio, que demandará dedicação, investimento, capital de giro, conhecimento de mercado e outros requisitos.
Importância do planejamento
É sabido que um planejamento bem feito é fundamental na atividade florestal. Esse fato é ainda mais crítico em espécies de ciclo longo, no qual é necessário madeira de alta qualidade para viabilizar o investimento.
O planejamento financeiro deve levar em conta o prazo de retorno, a execução de atividades silviculturais essenciais no momento correto (como as podas de galhos, que garantem madeira sem nós) e o custo de colheita e processamento, que normalmente são desprezados, mas que são essenciais para se atingir bons mercados.
Também é importante lembrar que as espécies alternativas (cedro, mogno e outras) não têm suas cadeias totalmente desenvolvidas. Isso não é algo que se faz de uma hora para outra. Apesar de ter tempo até a colheita florestal, o produtor precisa conhecer os gargalos que enfrentará e trabalhar para minimizá-los, o que demanda principalmente conhecimento de mercado e ganho de escala. O associativismo pode ser uma resposta para essas questões.
Manejo ideal
O manejo do cedro australiano no Brasil varia em função dos diferentes climas e solos do País. Há regiões onde a espécie é inviável sem irrigação, outras onde as geadas são a maior preocupação e ainda aquelas onde a correção de solo é o fator mais importante.
Não existe um manejo que se aplique a todo o País, mas algumas questões devem sempre ser levadas em conta:
Ü Observar se o regime de chuvas apresenta pelo menos 1.300 mm por ano. Esse número é um dos indicadores, tão importante quanto a distribuição das chuvas ao longo do ano e a altitude da região (que influencia no déficit hídrico).
Ü Fazer uma boa correção do solo e reposição nutricional.
Ü Observar, no espaçamento trabalhado, se há plantas suficientes para manutenção de forma e seleção dos melhores indivíduos.
Viabilidade
O manejo florestal mais comum entre os associados da ProCedro, quando se trata de plantios puros, sem nenhum tipo de consórcio, utiliza o espaçamento de 4 x 4 m, com 625 plantas por hectare.
Nesse modelo, tem-se um desbaste inicial, entre o 2º e 3º ano, apenas para selecionar as plantas superiores que seguirão no estande. São retiradas cerca de 125 plantas, restando no estande 500 indivíduos.
Apesar da uniformidade da clonagem, fatores externos, como ataque de formigas cortadeiras, replantas tardias e ventos fortes podem estragar a forma de algumas plantas, que devem ser removidas. Esse desbaste é pré-comercial, pois essa madeira é muito jovem. Em regiões onde houver déficit de madeira, esta pode ser comercializada como lenha, mas não é a realidade de hoje no País.
Desbaste intermediário
Entre o 8º e o 10º ano, o plantio chega ao porte do desbaste intermediário. Nesse momento, considerando um incremento médio anual (IMA) de 30 m3, colhendo 50% das plantas tem-se a produção de 120 m3. Desse montante, cerca de 30% não tem condições de ser serrados; são ponteiras, galhos e madeira torta. Isso é vendido como biomassa (lenha).
Já o restante, cerca de 85 m3, podem ser processados. Apesar de ser madeira jovem, mais fina e com mais tensão, é possível inserir no mercado. Não são usos tão nobres quanto se consegue com toras de 50 cm de diâmetro, mas ainda assim, temos visto preços atrativos, que conseguem pagar a colheita, o processamento e todo o investimento no plantio, sendo que este último fica em torno de R$ 18.000,00 por hectare até o 8º ano.
E o lucro?
O lucro do empreendimento só vem mesmo no corte raso, que deve ocorrer a partir dos 15 anos, ou quando as plantas passarem de 50 cm de diâmetro (DAP). Nesse momento, o volume de madeira chega a 300 m3 por hectare.
A qualidade da madeira produzida é melhor, permitindo usos mais nobres e maior valor de mercado. A receita bruta pode chegar a R$ 300.000,00 por hectare. Descontando os custos de implantação, colheita, processamento e impostos, ainda fica um resultado líquido de aproximadamente R$ 200.000,00/ha, ou R$ 12.500,00/ha/ano, considerando o corte aos 16 anos. Sem dúvida, um resultado muito atrativo, mesmo com o longo prazo de retorno.
A comercialização da madeira do cedro australiano é facilitada por sua similaridade (mecânica e visual) com o cedro rosa nativo. A maioria das empresas que procura a madeira já utiliza ou utilizou madeira de cedro nativo, e quer migrar para um produto sustentável, desde que encontre padrão e continuidade de fornecimento.