Autora
Diouneia Lisiane Berlitz – Bióloga e PhD em Controle Biológico de Pragas e Doenças – dberlitz@hotmail.com
Atualmente, o cultivo de trigo Triticum aestivum L. ocorre em diversas regiões do País e este é o principal período de plantio. Nos Estados no Norte, predominantemente o cultivo é irrigado e inicia no mês de abril/maio, cuja colheita ocorre entre agosto e setembro.
Nos Estados do Sul do País o plantio inicia nos meses de maio/junho, sendo que o Rio Grande do Sul é o que se destaca na produção deste cereal, com cerca de 2 mil toneladas (Conab, 2020).
Tecnologias
Com as tecnologias disponíveis para aumento de produção, buscam-se produtos para agregar valor ao cultivo e aumentar a produção em uma mesma área. Hoje estão disponíveis no mercado diferentes inoculantes, merecendo destaque os biológicos.
São as conhecidas bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCP), caracterizadas por um grupo de microrganismos benéficos devido à capacidade de interação com as raízes, favorecendo o desenvolvimento de diferentes cultivares.
Essas bactérias colonizam a superfície das raízes, rizosfera, filosfera e tecidos internos das plantas, estimulando seu crescimento por meio de: (i) capacidade de fixação biológica de nitrogênio, (ii) aumento na atividade da redutase do nitrato quando crescem endofiticamente nas plantas, (iii) produção de hormônios como auxinas, citocininas, giberilinas, etileno; e (iv) solubilização de fosfato (Hungria, 2011).
Dentre as bactérias com essas funções, encontra-se o gênero Azospirillum, cuja principal característica é a fixação biológica de nitrogênio. Isso ocorre quando essas bactérias conseguem transformar o nitrogênio do ar em forma de amônia que poderá então ser utilizada pelas plantas.
Cepas de Azospirillum influenciam uma série de mecanismos que atuam simultânea ou sequencialmente nas plantas e resultam em aumento de crescimento, formação de raízes, divisão, crescimento celular e produção de raízes adventícias (Fukami et al., 2016).
O trigo
No caso do trigo, a bactéria A. brasiliense é a mais utilizada nesse processo que, além da fixação de nitrogênio, estudos mostram que pode promover o desenvolvimento vegetal. A Figura 1 ilustra raízes de trigo quando inoculadas com A. brasiliense. Após 24 h da inoculação, verifica-se que as células bacterianas estão interagindo com a planta e colonizando as raízes (Pinheiro et al., 2002).
A aplicação do inoculante pode ocorrer via semente ou foliar. A aplicação foliar em trigo, em casa de vegetação, resultou em um aumento de 57% do peso seco da raiz e houve aumento de teor de clorofila nas folhas, aumentando a produção. Já a campo, as parcelas tratadas com A. brasiliense mostraram produtividade superior ao controle não tratado.
Nesse caso, a aplicação via semente, solo ou folhas não mostrou diferença entre as vias de aplicação, em que a produtividade apresentou resultados entre 3.000 e 3.300 kg/ha-1 (Fukami et al., 2016).
Em outros trabalhos a campo com trigo, em mais da metade dos casos houve um incremento na produtividade de 256 kg ha-1 (Hungria, 2011). Apesar disso, os resultados positivos podem estar diretamente relacionados ao tipo de resposta das diferentes cultivares de trigo.
Nesse sentido, o trabalho desenvolvido por Rosário (2013) com a variedade Quartzo e a variedade BRS Tangará demonstrou que a resposta da primeira variedade foi superior à BRS Tangará.
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Além disso, fatores ambientais, como índice pluviométrico, tipo de solo, manejo da área, se houve rotação de culturas, microbiota do solo e adubação podem influenciar a resposta do inoculante. Outro fator relevante é o contato com insumos químicos que estão nas sementes, que pode afetar a multiplicação de A. brasiliense e, consequentemente, prejudica a sua ação.
Nesse caso, a aplicação foliar no início do estágio vegetativo das plantas se torna uma alternativa viável.
Resultados comprovados
De acordo com a Embrapa, cerca de 65% de todas as entradas de nitrogênio no sistema agrícola ocorrem devido à presença dessas bactérias. O custo estimado para a utilização desta tecnologia é de U$ 4,00/ha-1 (valor do inoculante + custo de aplicação).
A utilização de A. brasilense nas lavouras é uma estratégia para o incremento na produção, porém, vai além disso. Deve-se avaliar que o manejo do campo de cultivo com insumos biológicos direciona para a capacidade de recuperação da microbiota do solo, a qual tem relação intrínseca com diferentes culturas.
É importante ressaltar que a fixação biológica de nitrogênio é um processo natural e espontâneo por meio da simbiose dos microrganismos com as plantas. Esse processo, associado à utilização de outros produtos de base biológica, como fungicidas, inseticidas e nematicidas, promove melhorias gradativas em todo o agroecossistema.