Gustavo Alves Santos
Engenheiro agrônomo, doutorando em Fitotecnia pela Universidade Federal de Uberlândia; Membro do Grupo de Pesquisa Silício na Agricultura (GPSi – UFU)
gustavo.lopes@agricultura.gov.br
Os adubos silicatados apresentam boas propriedades de adsorção, ocorrendo uma menor lixiviação de potássio e outros nutrientes móveis. Com o aumento no teor de silicato no solo ocorrem reações químicas de troca entre o silicato e fosfatos, como os fosfatos de cálcio, alumÃnio e ferro, aumentando o teor de fósforo na solução do solo. Além disso, o silicato pode deslocar o fósforo dos sÃtios de adsorção na argila, aumentando a translocação deste elemento para a parte aérea da planta.
O silício
O silício (Si) é o segundo elemento mais abundante da crosta terrestre, sendo ultrapassado apenas pelo oxigênio. O Si é localizado na solução do solo sob a forma de ácido silÃcico ou monosilÃcico (H4SiO4), e também na forma de óxido de silício (SiO2), a qual compõe a base da estrutura de grande parte dos argilominerais.
No entanto, devido ao alto grau de intemperização dos solos tropicais, o Si é encontrado basicamente sob a forma de quartzo, opala (SiO2.nH2O) e outras formas que não se encontram disponíveis para a planta.
Apesar de não ser considerado um nutriente essencial às plantas, o Si é adotado por diversos autores como elemento benéfico, por apresentar diversos aspectos positivos quando presente nas plantas, entre eles maior tolerância ao déficit hídrico e menor susceptibilidade a pragas e doenças.
Além disso, a nutrição com Si melhora a arquitetura das plantas, diminui a sensibilidade ao estresse hídrico, altera o pH da rizosfera e aumenta a taxa de fotossíntese, podendo também afetar o estado nutricional das plantas, mesmo não possuindo função nutricional e fisiológica específica, atuando na absorção e eficiência nutricional.
Mais fósforo para o solo
Os íons fosfato e silicato são retidos (adsorvidos) pelos óxidos de ferro e de alumÃnio da fração argila dos solos, podendo assim competir entre si pelos mesmos sÃtios de adsorção, ou seja, silicato pode deslocar fosfato previamente adsorvido, e vice-versa, das superfícies oxÃdicas.
Após alcalinização do solo pelo silicato de cálcio (CaSiO3), por exemplo, há formação do H4SiO4, a partir do ânion H3SiO4– que, durante a reação, pode se adsorver aos óxidos de ferro e alumÃnio da fração argila, impedindo ou dificultando a adsorção de fosfato (H2PO4–) que, desta maneira, torna-se mais disponível na solução do solo.
Assim, percebe-se que a correção da acidez do solo com silicatos, além de elevar o pH, pode disponibilizar o P, pelo efeito adicional de deslocar o P adsorvido para a solução.
Mais nutrientes
Para aplicação via solo, as fontes de silício mais comumente utilizadas são os silicatos de cálcio e magnésio, os quais, quando aplicados como corretivos de acidez, além de fornecerem o silício e, consequentemente, aumentarem a disponibilidade de fósforo, fornecem também esses dois cátions (cálcio e magnésio) de grande importância para o complexo de troca dos solos, os quais são também nutrientes essenciais às plantas.
Reação do silício no solo
CaSiO3 ↔ Ca2+ + SiO32–
SiO32– + H2O ↔ HSiO3– + OH–
HSiO3– + H2O ↔ H2SiO3 + OH–
H2SiO3 + H2O ↔ H4SiO4
A(s) reação(ões) do silicato de cálcio no solo acima mostram o fornecimento de cálcio, a presença de HSiO3– que reduz a perda de fósforo por adsorção e geração de hidroxilas (OH–) que elevam o pH do solo e reduzem o alumÃnio trocável do solo, precipitando-o na forma de Al(OH)3 a qual não é tóxica para as plantas.
Culturas beneficiadas
Por se tratar de um tipo de manejo que traz não só um, mas vários benefícios para o solo e as plantas, tais como o fornecimento de cálcio, magnésio e silício, além da correção da acidez do solo e da diminuição das perdas de fósforo, de maneira geral, todas as culturas se beneficiam com a utilização do silício na agricultura.
Em termos de fornecimento de silício, talvez as melhores respostas estejam presentes nos cultivos de gramÃneas como cana-de-açúcar, milho, sorgo, arroz e braquiária, pois esse tipo de planta acumula Si em quantidades superiores às leguminosas. No entanto, na literatura existem resultados positivos do uso de silício em leguminosas como soja e feijão, e também em plantas perenes como o cafeeiro.